O que acontece no seu corpo quando você sente medo

Um dos instintos mais básicos de todo ser humano é o medo. Diante do perigo, essa intensa emoção aciona um alarme que promove alterações neurofisiológicas. O objetivo é garantir que estejamos prontos para lutar ou fugir, protegendo órgãos vitais e a nossa sobrevivência.

Como se trata de uma sensação complexa, cada pessoa lidará com suas manifestações a seu modo, tolerando mais ou menos situações ou objetos que as provoquem.

O lado positivo disso é que o medo, a depender das circunstâncias, promove mais cautela e aprendizado sobre o que precisa ser evitado. O outro lado da moeda é que ele pode ser extremo, causar sofrimento, atrapalhar as atividades do dia a dia e a qualidade de vida.

Como você reage a isso

Entre as mudanças neurofisiológicas necessárias para garantir a autopreservação diante do perigo se destacam:

  • Alterações hormonais
  • Sensação de confusão
  • Excitação

Você fica em estado de alerta

Diante de situações ou objetos que causam medo, a central de alarme do seu cérebro aciona o sistema nervoso simpático, que desencadeia respostas orgânicas como a liberação de hormônios do estresse: o cortisol e a adrenalina.

Essas mudanças mobilizam energia para a atividade física, ou seja, preparam o indivíduo para atacar ou evitar o estímulo agressor aprimorando todos os sentidos.

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As respostas específicas envolvidas são o aumento da pressão arterial, do ritmo dos batimentos cardíacos, da respiração e dilatação das pupilas.

A circulação sanguínea também se altera e se concentra nos músculos de braços e pernas, que se tensionam.

Para manter a temperatura do corpo sob controle, a transpiração aumenta.

Até que a situação se resolva, esses "recursos" permanecerão ativados.

Essas reações também são conhecidas como síndrome de emergência.

Todos esses sinais podem ser de moderados a intensos, e algumas pessoas poderão ainda apresentar outras manifestações físicas como aquele nó no estômago, dor de cabeça e no peito, e até formigamento nos membros inferiores e superiores.

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Você pode perder a noção

Com a maior ativação da amígdala cerebral —ligada às emoções— outras partes do cérebro também ficam a postos.

Um exemplo é o córtex, região responsável pela nossa capacidade de pensamento, movimento, linguagem, julgamento e percepção que, em um primeiro momento, ajuda a tomar decisões imediatas para correr ou lutar.

No entanto, em situações nas quais se exija um raciocínio mais complexo, tal habilidade fica em segundo plano.

Um exemplo disso é estar em uma situação de entretenimento na qual, mesmo sabendo que se trata de uma representação feita por um ator ou produzida por uma máquina, a pessoa pode responde ao estímulo se afastando do "perigo" ou gritando.

Você pode até sentir prazer

Para algumas pessoas, o medo tem um tipo de efeito rebote —em vez de fugir ou lutar, a pessoa quer é mais para sentir prazer, satisfação e motivação.

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Mas que fique claro: isso geralmente acontece em um contexto no qual as circunstâncias são muito controladas, ou seja, o indivíduo sabe que o "perigo" terá um final e que não lhe causará dano.

É por isso que tem gente que adora montanha-russa e filmes de terror.

Uma possível explicação para isso é a ativação de hormônios como a adrenalina e a dopamina. Juntos, eles garantiriam um estado de excitação prazerosa, mesmo depois de encerrada a experiência.

Entre os cientistas, esse efeito é denominado teoria da transferência da excitação.

É medo, ansiedade ou fobia?

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Imagem: istock

Embora medo, ansiedade e fobia possam ser utilizados como sinônimos, cada um deles têm suas peculiaridades.

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O medo é uma reação natural e de curto prazo de todo ser humano diante de situações ou objetos específicos, e que são percebidos como ameaça ou perigo. Um exemplo é estar diante de um animal selvagem.

A ansiedade é uma sensação mais genérica (difusa) que pode estar presente o tempo todo e não necessariamente terá um fator desencadeante.

Já a fobia se refere a objetos e situações específicos que o indivíduo teme intensamente e responde de forma exagerada e de tal forma que toma medidas extremas para evitá-los.

O medo pode se relacionar ao transtorno de ansiedade, fobias específicas (animais, insetos, sangue, ambientes naturais, altura, etc.) e à fobia social.

Outras possíveis origens são traumas, transtorno do pânico, assim como o medo de não dar conta das demandas da vida.

Menos frequentemente o medo tem relação à agorafobia: a aversão ao uso de transportes públicos, locais fechados ou espaços abertos, entre outros.

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De 5% a 10% da população são afetadas por fobias específicas. Dados dos Estados Unidos.

Saiba como lidar

Quando o medo impede que você tenha uma vida normal em casa, no trabalho ou na escola e causa sofrimento, a melhor coisa a fazer é buscar ajuda especializada para falar sobre suas emoções. Os profissionais mais indicados são o psiquiatra e o psicólogo.

Para as situações do dia a dia que causam desconforto, você pode colocar em prática algumas medidas que ajudam a controlar o medo. Confira as sugestões dos especialistas consultados:

Invista em um estilo de vida saudável: boas noites de sono, alimentação equilibrada e exercícios físicos ajudam a manter as emoções em dia. Evite usar álcool ou outro tipo de estimulante para superar o medo.

Enfrente: uma das estratégias mais eficazes para combater fobias é a exposição gradual a situações que desencadeiam o medo. Pouco a pouco, ele tende a reduzir.

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Faça uma pausa: diante de uma ameaça, pare tudo e, se for possível, dê uma volta no quarteirão, faça um café, e até escreva sobre o que está sentindo. A ideia é dar tempo ao corpo para se acalmar e ter nova perspectiva sobre os fatos.

Respire: os efeitos físicos naturais do medo podem ser reduzidos quando se praticam técnicas de respiração —trata-se de um recado ao organismo de que você está tentando dar conta da situação, apesar das circunstâncias.

Aceite que a vida tem perrengues: todos os dias centenas de milhares de pessoas enfrentam situações de estresse, mas, por vezes, queremos que a vida seja perfeita. Aceitar que sempre existirão dias mais difíceis ajuda a controlar o medo.

Recompense seus avanços: a cada sucesso enfrentando o medo, presenteie-se com algo que lhe agrade. Só não vale exagerar para não ficar com medo de ter gastado demais.

Fontes: Eduardo Perin, psiquiatra, especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; Fabiana Thiele Escudero, psicóloga e coordenadora do curso de psicologia da PUC-PR; Luísa Bisol, psiquiatra do Hospital Universitário Walter Cantídio do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará, vinculado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); e Yuri Busin, psicólogo, mestre e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduado em psicologia positiva e em terapia cognitivo-comportamental pela PUC-RS e fundador do Diálogo Positivo. Revisão técnica: Fabiana Thiele Escudero.

Referências:

APA (American Psychological Association)

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Samra CK, Abdijadid S. Specific Phobia. [Updated 2023 Maio 1]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK499923/

Marwaha R. Anxiety. [Updated 2023 Abr 24]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470361/

Emily Moyer-Gusé, Howard Giles, Daniel Linz, Communication Studies, Overview, Editor(s): Lester Kurtz, Encyclopedia of Violence, Peace, & Conflict (Second Edition), Academic Press, 2008, p. 368-379, https://doi.org/10.1016/B978-012373985-8.00032-5. Disponível em
https://www.sciencedirect.com/topics/psychology/excitation-transfer-theory

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