Galisteu sobre menopausa: 'Tive todos os sintomas, hoje me sinto no auge'
A apresentadora Adriane Galisteu, 50, fala abertamente sobre a menopausa. Assim como boa parte das mulheres, ela sentiu os clássicos fogachos, medo, insônia, entre outros sintomas. Quando percebeu que algo estava saindo do seu controle, ela procurou um ginecologista. Juntos, eles estudaram o que melhor solucionaria todas as questões apontadas.
Depois de dois anos de tratamento, Adriane comemora os resultados: "E é tão louco me ver hoje no auge dos meus 50 anos trabalhando, feliz da vida, feliz com a imagem que vejo no espelho, poder falar sobre esse assunto e ajudar as mulheres que ainda se apavoram com isso". VivaBem conversou com a apresentadora sobre o tema e como tem sido esse período da vida dela.
VivaBem: Quando pensou em procurar o médico para iniciar o tratamento para a menopausa?
Estou fazendo a reposição há dois anos. Foi no processo do climatério, aquela coisa que menstrua, para, pinga, para, para, não vem, depois volta, depois vem de novo. É difícil. Nunca tive TPM, mas senti uma mudança de humor nessa fase.
Quando falei com o meu ginecologista, o doutor André Vinicius, recebi uma aula muito maravilhosa. Me arrependo de uma coisa, deveria ter começado antes. Acho que a idade ideal para iniciar uma reposição hormonal, ou pelo menos olhar para isso, seria com uns 38 anos.
O Vitório nasceu quando eu tinha 38 anos, mas acho que é aí a hora de começar a falar sobre esse assunto e procurar se informar sobre essas questões de reposição hormonal. Demorei muito, fui me informar e procurar quando precisei. Esse acho que foi um erro, então se pudesse fazer de novo adiantaria essas questões na minha vida
É absolutamente possível e você passa por isso de um jeito muito melhor, muito mais leve, muito mais tranquilo sem passar pelo susto.
Muitas mulheres têm medo da menopausa por causa de tudo que escutam sobre ela. Era seu caso?
A referência que tinha de menopausa é totalmente ligada à minha mãe. Me lembro muito dela ficando vermelha, suando, morrendo de calor, não se sentindo bem, mas também se falava tão pouco sobre a menopausa, que as mulheres se sentiam envergonhadas, constrangidas. Hoje é tão legal poder falar sobre a menopausa abertamente, inclusive dos sintomas.
Os sintomas apareceram bem antes de a menstruação acabar?
Os sintomas vieram antes da questão menstrual e sempre fiquei muito preocupada e atenta com essa questão da menopausa, porque queria passar por isso com tranquilidade. Não me senti bem com a chegada da menopausa, me senti muito mal e corri para os braços do doutor André para ele me salvar.
Foi de repente que eu, que sempre dormi superbem, comecei a dormir mal, meu humor mudou, meu cansaço aumentou, minha disposição ficou diferente. As coisas foram acontecendo muito de repente e comecei a ligar uma coisa na outra, tanto que a ausência da menstruação mesmo foi a última coisa que aconteceu.
Você tinha receio de fazer a reposição hormonal?
É claro que tinha medo, não tinha informação, então tinha medo. Meu médico que me colocou nesse prumo, me informou e fui atrás de fazer os meus exames, de me entender como mulher, me entender nesse momento que estou passando, como podia passar por isso de uma forma menos agressiva.
A informação é a nossa melhor e maior aliada, a partir do momento que você se informa, o medo diminui, passa, muda de lugar, que foi o que aconteceu comigo.
Como foi o processo de decisão para iniciar a reposição?
Quando comecei a me perceber assim, lembro a primeira pessoa com quem fui falar foi com a minha mãe. E automaticamente ouvi: 'não, pelo amor de Deus, cuidado, reposição hormonal é perigoso. Melhor não. Passa pelo calor, passa por esse mal-estar que ele vai passar'.
Não acho que esse mal-estar vai passar e não acho que a gente deve se acostumar com ele. Acho que a gente deve buscar alternativas e informação, como disse antes,
O que mais te assustava em relação à menopausa?
Acho que o que mais me assustava era um conjunto de coisas. Era essa relação que as pessoas têm de horror à menopausa, a "demonização" da menopausa, mas de tudo, o que mais pesou pra mim foi a questão da maternidade porque queria ter mais um filho. Então isso me deixou triste, sabe? Queria passar por esse processo. Mas, na verdade, depois dessa 'terapia' que tive com o doutor André Vinicius a gente descobre outras maneiras de passar. Inclusive pela maternidade, se eu quiser.
Acha que agora realmente as pessoas olham de uma nova forma para a mulher depois da menopausa?
Descobri, junto com o meu médico, que até 1940 a menopausa era quase que inexistente, ela já existia, mas não se falava dela. Por isso que minha mãe ficava constrangida. Minha mãe nasceu em 1941, ela é de uma geração que mal conversava com os pais.
Também tive um pouco disso, conversei muito pouco sobre esses assuntos com a minha mãe, minha mãe conversou menos ainda com a mãe dela. Então as referências estavam em outros lugares e os outros lugares não tocavam nesse assunto. E quando tocavam, demonizavam essa situação.
A mulher quando chegava numa determinada idade e entrava na menopausa era quase que descartada da sociedade.
E como se sente hoje com a reposição hormonal?
É tão louco me ver hoje no auge dos meus 50 anos trabalhando, feliz da vida, feliz com a imagem que vejo no espelho, e poder falar sobre esse assunto e ajudar as mulheres que ainda se apavoram com isso. Mas é incrível como o doutor André abriu a minha cabeça com esse assunto e mostrou que é possível.
Agora, tem mulheres, amigas minhas que passam pela menopausa e não sofrem nada, não sentem e não percebem, percebem assim, talvez a ação da falta de colágeno na pele, a pele um pouco mais ressecada, mas não tem os outros sintomas, eu já tive todos, tive os calores, tive o mau humor, tive a falta de sono, passei mal, meu coração disparava, dava taquicardia, realmente tive uma reação física bruta.
Dá para passar pela menopausa sem traumas?
O ginecologista André Vinícius Florentino, responsável pelo tratamento de Adriane Galisteu, diz que as mulheres ainda têm medo da menopausa e receio da terapia de reposição hormonal, mas que essa realidade vem mudando.
"É uma fase da vida da mulher que todas irão passar, inevitavelmente. Porém nas últimas duas décadas não se falou sobre esse tema da forma como hoje, pós-pandemia, temos falado. As redes sociais deram voz aos médicos e também as pacientes. E isso aos poucos tem trazido mais conhecimento e menos angústia", relata
Segundo o médico, o que mais assusta é o medo de engordar e ter câncer. Outro temor é da menopausa chegar de forma antecipada em mulheres que ainda desejam engravidar após os 40 anos.
"Convencionou-se falar que menopausa sem sintomas é a ausência dos fogachos (calorões), porém são descritos aproximadamente 76 sintomas para a menopausa, alguns comuns, outros pouco mencionados como ressecamento dos olhos, dores articulares, distensão abdominal, ansiedade, depressão, fadiga, redução do foco e concentração, imunidade baixa, corrimentos de repetição, queda de cabelo, aumento de gordura abdominal, zumbido no ouvido, entre outros", descreve.
Toda mulher pode repor hormônios? O médico ainda observa que nos últimos 20 anos muitos estudos comprovaram e refutaram a "cancerofobia" ligada à terapia hormonal da menopausa. "Sabemos que a reposição hormonal feita em uma paciente na transição menopausal ou logo no início da menopausa, em paciente saudável, escolhendo uma via de administração adequada e usando baixas doses hormonais, os benefícios são incríveis e os riscos são desprezíveis e não maiores do que a escolha por não realizar a terapia hormonal", afirma.
Ele coloca que novas vias de administração da reposição hormonal e novos hormônios com estrutura da molécula semelhante ao hormônio produzido pelo ovário também trouxeram mais segurança para o tratamento.
No entanto, vale dizer que existem contraindicações absolutas como história pessoal de câncer de mama, disfunção hepática ou renal grave, lúpus sistêmico, história pessoal de AVC e infarto. No casos dessas pacientes, o tratamento vai ser direcionado para controle dos sintomas.
Quando começar? A reposição hormonal deve ser iniciada no que convencionou-se chamar de janela de oportunidade: um período em que os benefícios são superiores aos eventuais riscos. Essa Janela acontece nos primeiros 10 anos da menopausa ou até os 60 anos de idade.
Idealmente, a mulher deve ser acompanhada desde o início do climatério —aos 40 anos— e anualmente realizar exame clínico, laboratorial e de imagem. E tão logo sintomas se façam presentes, iniciar (caso não haja contraindicação) a terapia de reposição hormonal, repondo apenas os hormônios que estiverem em falta, na menor dose que deixa a paciente bem e sem efeitos colaterais.
Fonte: André Vinícius Florentino, ginecologista, mestre em ciências da saúde, especializado em ginecologia e endoscopia ginecológica pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e pós-graduado em fisiologia hormonal. É professor de ginecologia da Universidade Federal de Campina Grande (PB).
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