Tosse, espuma na boca, desmaio: como reconhecer afogamento e o que fazer
Verão é sinônimo de banho em praia, represa, piscina e até balde de água. Mas, nem tudo é diversão, pois 45% dos afogamentos anuais no Brasil ocorrem nessa época e em 99% das vezes o risco é negligenciado, como diz David Szpilman, especialista em clínica médica e terapia intensiva, com foco em afogamento, e diretor médico da Sobrasa (Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático), no Rio de Janeiro: "Não é acidente, não ocorre por acaso", ele reforça.
Para Szpilman, a maioria das pessoas avalia muito mal ou subestima o risco ou superestima sua capacidade de enfrentá-lo.
Como consequência, o afogamento acaba ocorrendo em diferentes graus, com diferentes sintomas.
É como acontece com uma gripe, uma pneumonia, vai da forma mais leve à mais grave. A pessoa, ao perceber que pode ou está em início de se afogar, fica rígida, se debate e começa a engolir e aspirar água, tendo dificuldades para respirar. David Szpilman, especialista em clínica médica e terapia intensiva
É como estar em um exercício físico violento, compara o médico, pois a pessoa vai precisar de oxigênio extra, só que com a diferença de estar em desespero. "Na quarta aspiração de água já se tem um comprometimento dos níveis de saturação e com mais duas aspirações a vítima apresenta edema pulmonar. O oxigênio fica pela metade no corpo", continua Szpilman.
Coração para em questão de minutos
Sem a presença cada vez mais acentuada do oxigênio no organismo, a pessoa então desmaia, para de respirar e na sequência tem parada cardíaca. Todo o processo de afogamento pode se desenrolar em 1 minuto e meio, às vezes menos que isso, e com sorte e boa condição física, um pouco mais.
Os sintomas se agravam rapidamente e são muito silenciosos, tanto que se alguém de fora da água não conseguir visualizar bem a situação, não percebe e não aciona o socorro.
Os sinais abaixo, compilados por Aquiles Camelier, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e do Hospital Aliança, Rede D'Or, de Salvador, variam conforme a quantidade de aspiração, tempo na água e esforço físico:
Corpo tensionado, devido ao estresse e pânico extremo do afogamento
Taquicardia, boca seca, respiração rápida e náuseas - do esforço grande e sem preparo
Presença de espuma em boca e nariz, à medida que as aspirações de água aumentam
Falta de ar, palidez, cianose (pele azulada), queda de pressão, típicos de edema pulmonar
Perda de consciência prévia às paradas respiratória e cardíaca e à falência de órgãos
Rafael Lins, instrutor de mergulhos de regaste e presidente da Apasagv (Academia Pernambucana de Salva-vidas-Guarda-vidas), no Recife, acrescenta que é possível ter sintomas de afogamento mesmo estando já a salvo e andando por conta própria. "A tosse é sinal de um grau nível 1, leve, de afogamento", afirma.
Além disso, a vítima pode apresentar tremores, queda da temperatura corporal (hipotermia), vômitos, aperto no peito. "Pneumonia também pode ocorrer no quase afogamento devido a aspiração de líquido externo contaminado com vírus, bactérias ou fungos para o sistema respiratório, ou mesmo indiretamente, ao regurgitar e aspirar o líquido engolido, o que pode causar irritação química ou migração das bactérias existentes no tubo digestivo", diz Camelier.
Não é preciso aspirar muita água
Se a aspiração de gotículas é o suficiente para causar tosse, associada equivocamente a engasgo, mas na verdade sinal de asfixia, saiba que com meio copo de água é possível sofrer um afogamento gravíssimo, com redução de 50% de oxigênio no organismo.
A ideia de que é necessário aspirar grandes quantidades de líquido não existe mais, tanto que por isso o afogamento é rápido, bastando três aspirações, informa o médico David Szpilman.
A vítima também nem precisa estar em águas naturais, embora quanto mais água houver e ainda mais na natureza, maior a dificuldade de resgate: 70% dos óbitos ocorrem em rios e represas.
O afogamento pode ocorrer até em poça, balde, vaso sanitário, sendo mais comum casos desses com crianças pequenas que, sem supervisão, se debruçam e não conseguem retornar. Afogamentos domésticos são bastante comuns. Rafael Lins, da Apasagv
Como ajudar vítimas de afogamento
Por mais difícil que seja controlar os impulsos, nunca entre na água e vá ao encontro da pessoa que está se afogando. É preciso ajudar garantindo uma distância segura.
"Das 15 mortes diárias por afogamento no Brasil, duas é por se tentar ajudar os outros dentro da água. Por isso, ajude de fora, jogando para a vítima algum material de flutuação, como bola, tampa ou espaguete de isopor, prancha com corda, algo que seja possível de agarrar para depois retirar", diz Szpilman.
Resgatado lúcido e falando, o sujeito precisa ser observado antes de ser liberado. "Se tiver tosse seca e espuma na boca, deve se deitar cuidadosamente no chão, de lado, com a coluna protegida, aguardando a chegada dos profissionais", indica o pneumologista da Rede D'Or.
"Não há necessidade de internação no grau 1 de afogamento, basta permanecer em repouso. Em poucos minutos, ocorrerá a recuperação, a não ser que se tenha outras doenças associadas e que se agravaram, como respiratórias, hipertensão, ou se houver presença de sangramento e espuma em boca e nariz, que é sinal de água nos pulmões", informa o salva-vidas Rafael Lins.
Agora, quando se está desacordado e sem respirar, é caso de atendimento de emergência. Enquanto o salva-vidas inicia o resgate, ligue para o Samu no 192, ou para os Bombeiros, no 193. Estando apenas você por perto, tente ajudar iniciando uma massagem cardíaca na vítima.
Deite-a em uma superfície firme, com a barriga para cima
Com os braços esticados e as mãos entrelaçadas sobre o peito da vítima, empurre com força
Dê dois empurrões por segundo e continue até que haja reação nela. No caso de crianças, use apenas uma das palmas das mãos, posicionando sobre o peito, com os dedos levantados
Em bebês, posicione 2 dedos no meio do peito e faça de 100 a 120 compressões por minuto
Dicas para prevenir afogamentos:
Respeite sinalizações de segurança e aviso
Não nade em águas desconhecidas e vazias, ainda mais sem a presença de salva-vidas
Não deixe crianças, adolescentes e pessoas alcoolizadas sem supervisão
Em passeios no mar, rios ou represas use colete salva-vidas
Mantenha distância de bombas de piscinas, pois podem sugar cabelo ou corpo
Não sabe nadar? Fique no raso, sempre com boias, e faça aulas de natação
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