Por que não pode suco até 2 anos? Entenda introdução alimentar de crianças
A OMS recomenda que as crianças sejam alimentadas com leite materno até os dois anos."Não é dengo e aconchego. Há benefícios imunológicos comprovados", diz a pediatra Mara Alves da Cruz Gouveia, do Departamento de Nutrologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Mas a partir dos seis meses, começa uma nova jornada de alimentação na vida dos pequenos: a introdução alimentar.
"A criança tem um processo de maturação dos órgãos e sistemas", explica o nutrólogo pediatra Tulio Konstantyner, membro da Sban (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição).
É por isso que a introdução alimentar deve começar pelas papinhas, em que é necessário ter pelo menos um desses pilares alimentares: cereais, leguminosas, proteínas animais e hortaliças.
Konstantyner explica que metade do prato das crianças têm que ser de legumes e verduras, um quarto de cereais e o último quarto de leguminosas, carne e ovo.
"No começo, os alimentos têm que ser preferencialmente naturais ou minimamente processados. Por isso, vale iniciar com lanches, que serão frutas, ou grandes refeições, como o almoço. A família pode escolher o momento adequado", explica Gouveia. O importante, para a especialista, é sempre respeitar a saciedade do bebê.
"A criança tolera pouca comida. Se comer duas colheradas no primeiro mês está tudo bem. Essa alimentação tem que respeitar o que ela aguenta. São as crianças que decidem quanto conseguem comer", diz Gouveia.
A papa é a primeira mistura que deve ser oferecida. Mas ela não deve ser batida, e sim, amassada.
"Os alimentos não devem ser misturados. Podem ser oferecidos às crianças separadamente. E deve se adicionar na primeira papa, uma colher de café de óleo, preferencialmente de soja ou canola. Ele tem a função de fornecer ácidos graxos essenciais", diz Konstantyner. O recomendado é 3 ml para cada 100 gramas de comida.
E nada de deixar a hora da criança comer ser diferente da sua. Sentar à mesa com os pais vai ajudar os pequenos na evolução. "É legal participar dessa refeição junto com a criança, e não deixar o bebê fazê-la sozinho. Junto com a família, é possível mostrar que aquele é um momento feliz. Crianças imitam os pais e é observando que melhoram sua mastigação", diz Gouveia.
Suco pode?
Essa é a grande polêmica da alimentação infantil: se o suco é feito de frutas naturais, por que não é recomendado?
"Ele não é uma fonte interessante de nutrientes e tem um alto índice glicêmico", explica Gouveia. Pense assim: quantas laranjas, por exemplo, são necessárias para fazer o suco do bebê? Muito mais do que ele conseguiria comer se tivesse com a fruta na mão.
"Há uma alta concentração de fruta, e mesmo sendo natural, a quantidade de frutose é alta. A criança ainda não tem uma resposta alta de insulina. Essa alimentação na primeira infância está associada ao maior risco de desenvolver excesso de peso no futuro", diz Konstantyner. Além disso, a fruta quando é oferecida inteira ajuda no exercício da dentição.
Por isso, a partir dos seis meses até os dois anos, a hidratação da criança deve ser feita apenas com água.
Famílias veganas
Em época de desenvolvimento é recomendado o consumo de proteína animal na alimentação das crianças, mas famílias veganas precisam de algumas adaptações. "Não é o ideal e a criança está sujeita a deficiências importantes de micronutrientes em uma época crucial para o desenvolvimento cerebral. Por isso o pediatra tem que acompanhar essa jornada que, às vezes, precisa de suplementação", diz Gouveia.
Para Konstantyner, retirar grupos alimentares da dieta de crianças pequenas é um risco. "Nos primeiros dois anos de vida, a multiplicação celular está acontecendo de forma acelerada. E isso tem uma demanda nutricional muito grande", explica o especialista.
O neurodesenvolvimento das crianças nesse período depende muito do ferro, da vitamina B12, do zinco e ômega 3, por exemplo. E essa demanda precisa ser atendida de forma adequada.
"Quando se retira carne, ovo e leite da dieta, em caso de famílias veganas, a criança fica com deficiência de alguns nutrientes, que não tem em outros grupos alimentares como fonte principal como o ferro", explica Konstantyner.
O médico dá um exemplo: tem ferro no feijão, mas ele é pouco biodisponível e precisa de um tratamento especial na hora da preparação para que seja, de fato, aproveitado. "São necessários recursos e preparo de forma específica para que crianças de 6 meses a 2 anos tenham uma dieta vegana. E em alguns casos, suplementação", diz Konstantyner.
Pratos e copos são todos iguais?
Copos, pratos e talheres lúdicos não são besteira. Pelo contrário: podem ser grandes aliados na hora da introdução alimentar.
"Existem algumas vertentes sobre isso, falando como a criança deve se alimentar. Aí vai da família escolher utensílios adequados, que não são metais", diz Gouveia.
"Acompanhamos as tendências globais. Por exemplo, usamos silicone de grau alimentar, que é um material seguro e de fácil limpeza. Ele não quebra, então se cair, oferece menos riscos às crianças", diz Thiago Maniezzo da Silva, diretor de produtos do Grupo Multi. Segundo ele, há também uma outra evolução de produtos, feitos com bambu, que são sustentáveis e estão ganhando espaço.
Apesar de o lúdico atrair os pequenos, o foco principal da produção é a segurança. "Existe um trabalho muito forte do time de qualidade para entender se não tem pontas cortantes ou se há risco de peças se soltarem. Tudo passa por teste", explica Maniezzo.
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