'Fui tirar anticoncepcional do braço e descobri que ele estava no pulmão'
O que era para ser um anticoncepcional mais seguro virou pesadelo para Carolina Barretto, 20, que descobriu que seu Implanon saiu do braço e alojou no pulmão esquerdo.
A estudante descobriu sobre a "viagem" do chip somente ao tentar retirá-lo. Ela seguia as orientações da bula do dispositivo, que destacava que sua validade era de 3 anos. Mas ao procurar a haste no braço da paciente, a médica de Carol descobriu que ele não estava onde deveria.
Coloquei o Implanon em abril de 2020. Foi uma indicação de um ginecologista em que fui à época, mas nunca recebi o aviso de que isso pudesse acontecer. Carolina Barretto
Carol garante que todos os efeitos colaterais informados pelo médico não abalaram sua vontade de colocar o dispositivo, que custou R$ 1.800 à época.
O Implanon, considerado o anticoncepcional com a menor taxa de falha entre os disponíveis, foi aplicado sob a pele do braço esquerdo da jovem.
Ela foi avisada de que poderia ter escapes de sangue, o incômodo mais presente entre quem escolhe o método, mas teve uma experiência tranquila ao longo dos anos.
O primeiro sinal de que algo estava errado veio somente na retirada, quando a nova ginecologista de Carol não conseguiu apalpar o Implanon e pediu imediatamente um ultrassom e uma ressonância magnética, para tentar saber o paradeiro do dispositivo.
"Não conseguiram encontrá-lo em lugar algum do meu braço. Então a minha ginecologista solicitou uma tomografia do tórax, e é lá que ele estava, na artéria lobar do pulmão esquerdo", lembra. Ela conta que ouviu dos médicos que poderia ter ocorrido uma falha na colocação —o que poderia justificar o problema.
Sintomas antes
A descoberta fez a estudante entender alguns dos sintomas que vivia nas semanas anteriores à consulta, principalmente uma "dor muito forte nas costas", do lado esquerdo do corpo, que não passava nem com analgésicos.
"Também senti muita tontura e vertigem, minha visão ficava preta e meu coração acelerava, mas assim que descobri fui atrás de médico que nos orientassem qual caminho seguir."
E a melhor solução para o problema foi uma cirurgia, feita em outubro de 2023 no HCor, em São Paulo.
Apesar do susto, a "invasão" do Implanon no pulmão não deixou sequelas no corpo de Carol, que divulgou sua história nas redes sociais, principalmente depois de saber que seu caso era raríssimo.
"O próprio ginecologista que colocou disse que não sabia que isso era possível. Ele me falou que tinha responsabilidade no caso, por eu já ter sido paciente dele, mas não culpa", detalhou a jovem.
Os médicos de Carol ainda deixaram claro que ela poderia, sim, colocar outro Implanon, caso quisesse — mas a ideia é totalmente descartada pela estudante, pelo menos nesse momento.
"Agora eu tomo anticoncepcional via oral. Estou preferindo o método tradicional mesmo, por comprimidos."
Casos raros
O médico que colocou o Implanon em Carol afirmou que nunca tinha visto o dispositivo se alojar fora do braço —e não se sabe o que levou o dispositivo a parar no pulmão.
Casos do tipo são bastante raros —e objeto de investigação de pesquisadores. Em um deles, publicado na revista científica Obstetrics & Gynecology Science, uma mulher de 37 anos descobriu que seu contraceptivo tinha ido do braço para o pulmão esquerdo.
A teoria da equipe médica é que, já na aplicação, o Implanon foi colocado na veia basílica, que fica no antebraço. Com o erro, o aparelho subdermal acabou migrando para o pulmão por meio das veias do membro superior, invadindo a artéria pulmonar até chegar de fato ao órgão.
Método é seguro
Carlos Moraes, ginecologista e obstetra da Santa Casa de São Paulo, reafirma o quanto o caso é raro. Ele diz que nunca tratou uma paciente com complicação semelhante, mas que problemas do tipo não mudam o fato de que o método é muito seguro.
"O Implanon é um método disponível no Brasil há mais de 20 anos e teve uma evolução em relação ao que era no início dos anos 2000, que tornaram a inserção bem mais segura. É muito difícil saber o que pode ter acontecido com ela, mas é uma situação absolutamente incomum", afirma o médico.
Ele ainda explica que a aplicação da haste é tranquila e pode ser feita de forma ambulatorial, sem exigir internação ou anestesia.
"Ele é um dispositivo de longa duração, eficaz e prático. Tem outros efeitos colaterais, como o sangramento irregular, mas complicações, além disso, são raríssimas. Eu tenho pacientes que pulam de um para outro e usam há mais de 10 anos", completa.
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