Cidades com poucos leitos de UTI tiveram mais mortes por câncer infantil
Pesquisa da USP (Universidade de São Paulo) revela uma relação entre investimentos em saúde e os índices de mortalidade por câncer de adolescentes e crianças brasileiras.
As regiões com menos quantidade de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do SUS (Sistema Único de Saúde) tiveram um índice mais alto de mortes por câncer infantil e adolescente em vinte anos. Os dados estão descritos em artigo publicado nesta sexta-feira (26) na Revista Brasileira de Epidemiologia.
O estudo analisou as mudanças ocorridas nas taxas de mortalidade por câncer na infância e adolescência no país de 1996 a 2017 e sua relação com gasto público em saúde a partir de dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), do CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde) e do Siops (Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde).
No CNES, os pesquisadores obtiveram dados do número de estabelecimentos em saúde de cada estado brasileiro, o tipo de atendimento prestado, o número de profissionais cadastrados e de leitos hospitalares e, no Siops, dados sobre a despesa total com saúde de cada estado, gasto público em saúde per capita, participação da despesa com pessoal e da despesa total com saúde.
Para a análise, os pesquisadores usaram a categoria de regiões intermediárias do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que respondem a serviços mais complexos nos territórios.
No período estudado, a mortalidade por câncer foi maior entre meninos na faixa etária de 0 a 4 anos em todas as regiões brasileiras.
A taxa de mortalidade por câncer em crianças e adolescentes no Brasil foi de 7,4 óbitos a cada 100 mil habitantes, 8 para o sexo masculino e 6,5 óbitos para o sexo feminino.
Essa taxa foi mais baixa em regiões com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais alto, mais investimento público em saúde e mais leitos hospitalares de UTI.
Houve declínio na mortalidade por câncer em crianças e adolescentes entre 1996 e 2017 em 66% das regiões intermediárias brasileiras.
Em 30% das regiões, as mortes se mantiveram estacionárias, ou seja, não houve mudança na tendência de mortalidade por câncer na infância e adolescência e, em 3% delas, houve crescimento desta taxa.
As regiões dos municípios de Lábrea, no Amazonas, Oiapoque, no Amapá, Corrente, no Piauí, e Barra do Garças, no Mato Grosso, tiveram aumento nas taxas de mortalidade no período analisado.
Kamila Tessarolo Velame, pesquisadora da USP e coautora do estudo explica que quanto mais alto o IDH de uma região, mais altos também tendem a ser os investimentos em saúde, propiciando melhor acesso da população ao diagnóstico e tratamento precoces do câncer. "Isso faz com que as chances de cura sejam maiores, aumentando a sobrevida dos pacientes."
Segundo os dados analisados, existe uma disparidade na distribuição de recursos destinados à saúde no Brasil, além de uma precariedade nos sistemas de informação responsáveis por registrar as mortes por câncer.
"Ainda assim, ao longo dos anos, já notamos uma melhoria na qualidade dos dados e mais investimentos em saúde", conclui Velame.
Esse é o caso das regiões Norte e Nordestes que, apesar de concentrarem a maior quantidade de mortes por câncer, tiveram uma redução nas taxas de mortalidade de câncer infantil e adolescente ao longo do período analisado.
A falta de diagnóstico e de tratamento precoces, segundo Velame, é um dos graves problemas do câncer infantil e adolescente no país.
Neste sentido, o trabalho mostra que investimentos na Estratégia de Saúde da Família (ESF) das Unidades de Saúde, porta de entrada do usuário ao sistema de saúde, são fundamentais para melhorar o tratamento desta doença nas faixas etárias infantis e juvenis.
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