O que acontece no seu corpo quando você espirra (ou segura o espirro)

Na próxima vez que sentir vontade de espirrar em um ambiente no qual se espera que todos estejam em silêncio, deixe o mal-estar de lado e respeite esse fenômeno próprio dos humanos e de todo o reino animal. Afinal, o espirro colabora para a manutenção da sua saúde.

Mais frequente entre pessoas com alergia, ele é definido como um reflexo natural de proteção respiratória que se manifesta após o estímulo das vias aéreas superiores, em especial o nariz.

Um vez que seja percebido algum elemento irritante na região, são desencadeadas respostas orgânicas que terminam com uma expulsão rápida e explosiva de ar, tudo pelo bom funcionamento das cavidades nasais.

40 mil partículas são expelidas durante um espirro

Estima-se que esse reflexo pode ter um alcance de 150 km/hora

2 a 3 metros é a distância que ele é capaz de espalhar seu conteúdo, que permanece suspenso no ar de 15 minutos (gotículas) a 3 horas (névoa tipo spray)

O que rola no seu organismo

Os cientistas ainda não desvendaram totalmente os benefícios de espirrar, mas sabe-se que, entre animais para os quais o olfato é vital para a sobrevivência, esse reflexo garante que a região nasal se mantenha limpa.

Nos adultos o efeito parece ser garantir as condições para que as vias respiratórias trabalhem como devem. Assim, para que o reflexo se manifeste ele depende de sinais nervosos que provocam mudanças orgânicas, que acontecem de duas formas distintas:

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  • Alterações nasais
  • Movimentos respiratórios

Seu nariz funciona como um filtro

Algumas pessoas são mais sensíveis a substâncias irritantes como o cigarro, a poluição, produtos de limpeza, oscilações de temperatura, situações geodésicas, pimenta, gramíneas, ácaros, etc.

Quando expostas a esses agentes, as mucosas (nariz, boca e garganta) são estimuladas dando início à primeira fase reativa, conhecida como sensitiva.

Essa etapa é mediada pela comunicação automática entre as ramificações do nervo trigêmeo, presentes na mucosa nasal, e o SNC (sistema nervoso central).

Uma vez que a mensagem chegue ao seu destino, o centro cerebral que regula o espirro ativará outros mecanismos encarregados pela defesa do sistema respiratório superior.

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A importância desse mecanismo é que, se o nariz não funciona, funciona mal ou se não há proteção adequada contra substâncias, poeiras e fumaça, os pulmões podem ser inundados por essas partículas.

Em longo prazo, as possíveis consequências são inflamações que provocam falência nas trocas gasosas de ar para o sangue, ou seja, enfermidades conhecidas como pneumoconioses.

Trabalhadores de minas, carvoarias, jateadores, etc., são os mais suscetíveis a esses quadros.

As vias áreas contra-atacam

A segunda fase, definida como respiratória, se caracteriza pela presença de alterações nos sistemas encarregados pela inspiração e expiração. Um conjunto de músculos (faciais, da glote [situada entre as pregas vocais], abdominais e peitorais) é ativado para garantir o sucesso do espirro, que se manifestará atendendo à seguinte ordem:

1) O olho fecha: ninguém consegue espirrar de olhos aberto

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2) Ocorre uma inspiração profunda, seguida de uma expiração forte.

3) A glote se fecha.

4) A pressão intrapulmonar se eleva.

5) A glote abre abruptamente, dando espaço para uma explosão de ar que sai pela boca e pelo nariz, livrando as cavidades nasais das substâncias irritantes ou aliviando seus efeitos.

Cada partícula de um espirro é composto por vapor e gotículas de água, além de muco nasal. Podem ainda estar presentes microrganismos causadores de doenças (vírus, bactérias, fungos) que são facilmente transmitidos para outras pessoas por meio do espirro.

Espirro não é doença

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Imagem: iStock

Raramente esse reflexo se relaciona a quadros graves, mas pode estar presente em algumas condições médicas. Confira as mais comumente relacionadas:

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Rinite - Essa inflamação da mucosa nasal tem como sintomas típicos os espirros, coceira, congestão e o aumento da secreção nasal. Quando ela é alérgica, e a depender dos agentes que a desencadeiam, o espirro pode se manifestar em salvas, ou seja, com episódios de 7 a 10 deles seguidos.

Gripe e resfriado - Um dos primeiros sintomas dessas doenças é o espirro. O rinovírus está presente em mais de 50% dos casos, e é também a causa mais frequente entre as infecções virais.

O reflexo também poderá se manifestar em rinites cujas causas não são conhecidas, assim como em casos de exposição profissional a agentes irritantes (ar frio, formaldeído, por exemplo).

Alguns indivíduos podem apresentar alterações na mucosa nasal pelo uso de determinados medicamentos, o que pode facilitar os espirros. São exemplos: anti-hipertensivos (prazosina, reserpina); betabloqueadores (propranolol); ácido acetilsalicílico e outros tipos de AINE (anti-inflamatório não esteroidal).

Quando a luz faz espirrar

Para cerca de 20% a 30% das pessoas, sair de um ambiente escuro e se deparar com a luz do sol, ou mesmo flashes fotográficos, provoca espirros, conhecidos como espirros fóticos.

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O fenômeno é conhecido como síndrome ACHOO —o mesmo que explosão hélio-oftálmica autossômica dominante. Sim, essa característica pode ter sido herdada de seus pais.

Ainda não está totalmente esclarecido porque isso acontece.

Uma das hipóteses dos cientistas é que pode haver o cruzamento entre os reflexos pupilares e os do centro que regula o espirro no cérebro no momento da exposição à luz.

Outra explicação seria a estimulação conjunta do nervo óptico e do nervo trigêmio.

Fatores genéticos também podem estar relacionados. De acordo com estudos realizados pela empresa 23andMe, existem ao menos 54 traços genéticos relacionados ao espirro fótico.

Possíveis complicações

Embora o espirro seja um reflexo natural, em algumas situações ele pode desencadear efeitos indesejados. Um dos exemplos é a transmissão de vírus por meio das partículas espalhadas no ar.

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Os especialistas consultados afirmam que a literatura médica já registrou quadros nos quais reprimir o espirro resultou no aumento da pressão nas vias aéreas superiores.

As consequências foram traumas nas cavidades nasais, na garganta, laringe, ouvidos, e até mesmo no SNC, além da presença de ar na órbita (enfisema orbitário), hemorragia na retina, entre outros.

Para evitar problemas, evite conter o espirro.

Saúde!

Ao longo da história da humanidade, o espirro já esteve no imaginário coletivo como um sinal de boa sorte e saúde, porta de entrada para o demônio e até de uma mini "sessão de descarrego".

O uso popular da expressão "Deus te abençoe [God bless you]" após cada manifestação desse reflexo seria um reconhecimento da capacidade de manter a boa saúde e de se livrar do mal.

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Mas eis que sobreveio a epidemia da peste negra na Europa, e espirrar passou a ser visto como um sinal de perigo. Dessa vez, a expressão Deus te abençoe passou a ter outro sentido: uma brevíssima prece de proteção contra a doença.

Entre os povos tradicionais das Américas, o espirro também era provocado por meio da inalação de rapé, seja para fins terapêuticos, seja como ritual espiritual.

Saiba ser mais elegante nessa hora

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Imagem: Getty Images

Para evitar a disseminação de doenças, coloque em prática as seguintes medidas de etiqueta do espirro em locais públicos e ambientes fechados ou abertos:

Cubra a boca e o nariz com um lenço de papel, descartando-o. Na falta do lenço, dobre o braço e proteja boca e o nariz na região do antebraço, evitando usar as mãos.

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Lave as mãos com água e sabão [na falta deste, use álcool] para garantir que não deixará vestígios do conteúdo de seu espirro.

Higienize as mãos, superfícies e objetos de uso frequente.

Mantenha os ambientes ventilados.

Evite o contato com pessoas que estejam doentes. Se é você quem está doente, considere proteger as pessoas próximas e sua comunidade mantendo-se distante, inclusive ausentando-se do trabalho ou do ambiente escolar.

Considere procurar ajuda médica quando os espirros forem muito frequentes, quando você não identifica uma causa para eles ou quando eles estejam atrapalhando a sua rotina ou a qualidade de vida.

Fontes: André Alencar Araripe Nunes, médico otorrinolaringologista, cirurgião de cabeça e pescoço, integrante do corpo clínico do HUWC (Hospital Universitário Walter Cantídio), que integra o CH-UFC (Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará), integrante da rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), 2º vice-presidente da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial); Fabrízio Ricci Romano, médico otorrinolaringologista e presidente da ABORL-CCF; Luiz Carlos Sava, médico otorrinolaringologista, cirurgião craniomaxilofacial e professor adjunto de otorrinolaringologia da PUC-PR. Revisão médica: Luiz Carlos Sava.

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Referências:

CDC (Centers for Disease Control and Prevention)

Songu M, Cingi C. Sneeze reflex: facts and fiction. Ther Adv Respir Dis. 2009 Jun. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19617285/

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