Fica cansado após interagir? Por que isso acontece e como recuperar energia
Isabella Abreu
Colaboração para o VivaBem
14/02/2024 04h00
A interação social é algo enriquecedor e gratificante, mas a verdade é que, muitas vezes, podemos nos sentir totalmente esgotados depois de passar por situações em que temos que nos relacionar com muitas pessoas. Se você se sente exausto após reuniões de trabalho, encontros com amigos ou almoços em família, pode ser que sua bateria social esteja acabando.
Alguns dos principais sinais que mostram que sua capacidade de socialização está chegando ao fim incluem cansaço físico, dificuldade de pensar com clareza, irritação, sono e dor de cabeça.
"Nossa cérebro nos cansa da mesma forma que um exercício físico. Ele gasta muita energia enquanto processa informações das relações interpessoais (expressão facial das pessoas envolvidas, gestos, conteúdo da fala, contexto)", explica Anderson Siqueira Pereira, doutor em psicologia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e professor da Wainer Psicologia Cognitiva.
Situações mais desafiadoras e contexto de cada um
Situações estressantes ou em que nos percebemos mais vulneráveis, como entrevistas de emprego, apresentações em público, conversas com muitas pessoas ao mesmo tempo, ou um primeiro encontro, tendem a nos consumir mais facilmente.
Do mesmo modo, é comum esgotarmos rapidamente nossa bateria quando fazemos atividades ou vamos a lugares impulsionados por terceiros, sem vontade ou motivação própria. "Nossa bateria descarrega quando não vemos sentido e propósito no que estamos fazendo", afirma Monique Cristielle Silva da Silva, psicóloga e mestranda na Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).
No entanto, mesmo interações mais simples do dia a dia, como trocar cumprimentos com colegas de trabalho, podem ser bastante cansativas no contexto de cada pessoa. Segundo Nathalya Lima, psicóloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pessoas mais introvertidas, inseguras ou ansiosas tendem a repensar à exaustão cada uma de suas ações e como foram vistas pelos demais, o que também cobra um preço da sua bateria social.
"Igualmente, uma pessoa em depressão, sob estresse crônico ou num processo traumático pode não ter tanta energia disponível para socializar quanto teria usualmente, já que ela está sendo gasta por outros aspectos do processamento mental", diz Lima.
Similarmente, a dinâmica do processo de socialização precisa ser considerada. Podemos ter mais cansaço na socialização com pessoas específicas, por falta de afinidade, valores distintos, problemas de conduta ou mesmo impressão sobre aquele indivíduo.
Algumas pessoas, extrovertidas, buscam a socialização como uma recarga de energia emocional. Outras, introvertidas, sentem-se drenadas nessas situações. "Mas é importante notar que esse não é um processo universal: uma pessoa extrovertida pode se drenar em socializações específicas, como em uma reunião do trabalho, e se sentir motivada ao sair depois do expediente com amigos. Uma pessoa introvertida pode muito querer participar do happy hour da empresa, mas não sentir que tem condições depois de lidar com clientes", analisa Lima.
Para ela, o principal fator a se considerar além disso é se essa bateria social baixa ou drenada está sendo um problema para a vivência desse sujeito e dos demais. "É um caso de não querer interagir com parentes distantes visitando, ou um caso de fugir de apresentações no trabalho e se prejudicar com isso? Essa pessoa está abrindo mão de laços importantes no dia a dia por não sentir que tem como manejar essas interações? Esse seria o principal fator de alerta de um esgotamento crítico da bateria social", questiona.
Maneiras de recuperar a energia
Como as variações na "carga" da bateria social são muito individuais, as maneiras de recarregar essa energia também serão. "O autoconhecimento é a chave para sabermos o que melhor funciona para cada um de nós. Algumas pessoas recarregam sua energia com atividades físicas, outras meditando ou se conectando com a arte", diz Silva.
No entanto, há algumas alternativas que podem auxiliar no manejo da maioria dos casos. Confira:
Tenha uma boa noite de sono
É durante o sono que o organismo exerce as principais funções restauradoras. Dormir bem e por tempo adequado ajuda a diminuir o estresse e a manter corpo e mente saudáveis.
Fique um tempo sozinho
Não há nada de errado em se afastar de amigos e familiares para recarregar as energias. Mesmo que você realmente goste de estar com eles, é normal precisar de períodos de solidão. "Muitas vezes, momentos consigo mesmo são desvalorizados, mas encontrar tempo para fazer coisas de que gostamos e, principalmente, aprender a aproveitar a própria companhia são muito importantes para uma boa saúde mental", afirma Pereira.
Priorize e respeite seus limites
Nem sempre teremos tempo e energia necessários para investir igualmente em todos os momentos de que gostaríamos. Para Lima, é preciso reconhecer e priorizar onde se deve investir mais desses recursos, como quais relações são necessárias no dia a dia, quais são um bom suporte e quais são importantes afetivamente. "Seja honesto consigo mesmo e saiba dizer 'não' quando necessário, para se poupar", diz.
Faça pausas das redes sociais
As redes sociais são grandes fontes de informação, mas por isso mesmo elas podem facilmente sobrecarregar alguém já no limite da sua bateria social. Por isso, a recomendação da especialista é se distanciar quando necessário.