Por que jovens estão usando dipirona para curar pé na bunda

"Era só tomar dipirona". A frase faz parte de uma nova "trend" no TikTok. Usuários da rede social afirmam que, ao terminar um relacionamento amoroso, é possível tratar "as dores" causadas pelo término com o remédio.

Não é bem assim...

O argumento vem de um estudo com amostra pequena realizado em 2010, nos Estados Unidos. 62 pessoas foram divididas em dois grupos: o de controle (placebo) e o que tomou o paracetamol — e, não, dipirona- diariamente, por três semanas consecutivas.

Na conclusão, os autores descobriram que o remédio ajudaria a reduzir as respostas comportamentais associadas à dor da rejeição social. Eles fizeram uma análise com ressonância magnética, que mostrou uma alteração em partes cerebrais.

As influenciadoras do perfil "Nunca Vi 1 Cientista" fizeram um vídeo para explicar o estudo e esclarecer que dipirona não cura "dor de coração". De acordo com Laura Marise, farmacêutica-bioquímica, o resultado encontrado já era o esperado quando uma pessoa passa três semanas tomando medicação.

O paracetamol, assim como a dipirona, se liga a receptores no cérebro para aliviar a dor, e isso interfere na quantidade de moléculas que circulam no cérebro. (...) Mas isso não tem absolutamente nada a ver com o medicamento causar algum efeito na dor social, que é o nome técnico para a dor de coração partido. Laura Marise, farmacêutica-bioquímica

Marise esclarece que a possível sensação de relaxamento é exatamente pelo alívio dos sintomas da medicação. "Não existe mágica. A relação que estão fazendo vem de interpretar errado um artigo que nem de dipirona era, e que não estabeleceu nada relevante", diz.

A farmacêutica reforça que não existe indicação alguma em tomar dipirona ou paracetamol para "dor social", após um rompimento amoroso.

Medicamentos têm efeito colateral. Seu uso não é indicado, principalmente sem orientação médica e fora da posologia segura. Laura Marise, farmacêutica-bioquímica

@nuncavi1cientista Em parceria com a @Mell Dipirona não cura dor de amor. (paracetamol também não) E se quiserem usar um estudo para respaldar algo, tem que no mínimo escolher o estudo direito. Além disso, não se automediquem. Especialmente se a fonte for as vozes da cabeça de alguém. #ciencia #dipirona #dordeamor #coracaopartido #fy #tylenol #paracetamol #dorsocial ? som original - Nunca vi 1 Cientista

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Quais são os possíveis riscos e efeitos colaterais da dipirona?

Embora a dipirona seja considerada de boa tolerância em todas as faixas etárias, os principais efeitos colaterais já observados são:

Reação alérgica;

Desconforto abdominal;

Queda da pressão arterial;

Dificuldade para respirar;

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Arritmia;

Agranulocitose (mais grave e raro)

Não confunda com a síndrome do coração partido

Há uma certa confusão na "trend" com uma condição que se chama síndrome do coração partido. Ela acontece quando o estresse emocional ou físico causa uma alteração no ventrículo esquerdo do coração.

A Síndrome de Takotsubo [outra forma de chamar o problema] e seus efeitos no coração são semelhantes a uma dor do infarto. O que é muito diferente de uma angústia que não tem consequências no coração. Esse quadro é desencadeado pela exposição excessiva a hormônios do estresse, como a adrenalina, que são produzidos quando somos submetidos a fortes emoções. Gabriel Gonzalo, cardiologista do Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês

O cardiologista explica que a síndrome não é exclusiva de pessoas que vivenciam o fim de um relacionamento amoroso. Ela pode ser desencadeada por qualquer evento estressante, como a perda de um ente querido, um acidente, problemas financeiros ou até mesmo uma discussão intensa.

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Entre os sintomas, estão dor no peito, falta de ar, palpitações e até mesmo desmaios repentinos. O tratamento depende da gravidade dos sinais, mas é semelhante ao tratamento para insuficiência cardíaca. Entre eles, o uso de medicações inibidoras da enzima conversora de angiotensina (IECA), diuréticos e beta bloqueadores, vasodilatadores, antidepressivos e ansiolíticos.

Em nota, a Acessa (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado) afirmou que os medicamentos isentos de prescrição —conhecidos pela sigla MIPs— "desempenham um papel significativo na vida das pessoas ao proporcionar aos indivíduos a capacidade de tratar condições de saúde comuns de forma autônoma".

Por isso é importante indicar aos pacientes a busca de fontes confiáveis de informação, com orientações detalhadas sobre as indicações, dosagens, possíveis efeitos colaterais e interações medicamentosas. Assim, as pessoas podem tomar as melhores decisões sobre a sua saúde, realizando o Autocuidado de forma segura.

A dipirona e o paracetamol são medicamentos analgésicos e antipiréticos comumente utilizados para aliviar dores e reduzir febres, indicações aprovadas pela Anvisa. Quando usados de acordo com as instruções de bula e rotulagem e respeitando as advertências e contraindicações, são considerados seguros.

As instruções presentes nos rótulos dos MIPs devem ser seguidas com rigor, as doses devem ser respeitadas, evitando-se o uso excessivo do medicamento. Lembrando que é sempre importante contar com o apoio de um profissional da saúde, em caso de dúvidas ou se os sintomas persistirem.

Nota da Acessa

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