'Fiz preenchimento labial, tive processo de necrose e quase morri'
A nutricionista Bárbara Martiniano, 27, viralizou nas redes sociais após divulgar o resultado malsucedido de um preenchimento labial que realizou em dezembro do ano passado.
Logo após fazer o procedimento em uma clínica estética, localizada em um dos maiores shoppings de João Pessoa (PB), a jovem começou a sentir fortes dores na região dos lábios. Em seguida, descobriu que estava passando por um processo de necrose, mas esse era apenas o começo do drama que ela viveria nos dias seguintes.
A VivaBem, ela conta sua história.
Escolha por clínica conhecida
"Já fazia um tempo que eu queria fazer o preenchimento labial, porque tinha visto na internet várias pessoas que fizeram. Não achava que era algo que pudesse dar algum problema.
No dia 19 de dezembro de 2023, eu estava caminhando no shopping mais famoso da minha cidade quando decidi que faria o procedimento.
Eu imaginei que, por ser uma franquia nacional, localizada em um shopping bem requisitado aqui na cidade, não ia ter um profissional ruim.
A partir disso, pesquisei qual era o tipo de ácido hialurônico que eles estavam usando lá e vi que era um ácido bom. Então, decidi fazer no mesmo dia.
Durante o processo de marcar, eu não assinei nenhum contrato, nem tive atendimento prévio para falar a quantidade do preenchimento labial e o que poderia ser feito. Eles só marcaram para eu fazer o procedimento à noite.
Na minha mente, era algo bem corriqueiro e simples, que não ia dar nenhum problema. Somente quando eu fiz o preenchimento que me deram um contrato de consentimento, para assegurar a minha responsabilidade pelo que eu estava fazendo. Assinei o documento e fui para casa. A profissional que realizou o meu procedimento mandou apenas colocar gelo na região.
Processo de necrose
Fiquei 24 horas, desde a hora que saí de lá, sentindo dor e com meu lábio latejando. Durante três dias, a dor foi se intensificando, mas eu achava que ia passar, pois a cirurgiã-dentista que fez a aplicação falou que a região poderia ficar um pouco dolorida. No entanto, não aguentei ficar um dia sem tomar remédio —foi o período que mais tomei analgésico na minha vida.
Dois dias depois que fiz o preenchimento, a minha sogra também fez, mas com a dermatologista dela. Contudo, ela não estava sentindo nenhuma dor. Minha sogra conversou com a dermatologista dela e contou tudo o que eu estava passando, foi quando a especialista disse que não era normal o que eu estava sentindo e me aconselhou a procurar urgentemente a clínica que fiz o preenchimento labial.
Procurei a clínica, mas nesse dia a pessoa que fez o procedimento em mim estava de folga. Portanto, quem estava lá era outro cirurgião dentista, que foi extremamente esnobe comigo. Ele não encostou na minha boca, só olhou e disse: 'Está tudo bem com você. Não tem nenhum problema. Pode ir embora, porque sua boca está normal.'
Eu estranhei e perguntei para ele sobre a descamação, e disse novamente que estava sentindo muita dor. Ele respondeu: 'Isso é a reação do seu próprio organismo. É porque você é mais sensível a sentir dor, mas é só isso que está acontecendo'. Eu ainda tentei ter algum diálogo, mas ele me mandou ir para casa.
Mesmo sentindo muita dor e vendo que cada dia mais estava piorando, eu acreditava que tudo iria ficar bem. Tudo o que eu queria era ficar com a boca bonita.
Só que, durante a noite, a dor e a descamação aumentaram. Foi quando entrei em contato com uma amiga que é dentista e que trabalha com harmonização facial. Ela disse que não era normal e fez um teste de retorno sanguíneo, constatando que não estava tendo retorno. A partir disso, essa amiga dentista disse que eu precisava retornar urgentemente na clínica que fiz o procedimento, pois podia ser que estivesse em processo de necrose.
Logo em seguida, mandei uma mensagem para a clínica com uma foto do meu lábio, que a essa altura já estava com uma ferida profunda. No dia seguinte, que no caso já era o quarto dia após o preenchimento labial, eu fui atendida pela mesma profissional que fez a aplicação.
Reação alérgica e negligência
Entrei na sala da profissional, mas ela ficou mexendo no celular durante muito tempo, até que disse que ia tirar a substância do preenchimento. Ela disse ainda que só estava conversando com a franquia da clínica para liberarem a enzima que é utilizada para quebrar o ácido hialurônico e poder aplicar na minha boca.
Ela aplicou quatro anestesias e em seguida colocou a enzima. Na mesma hora minha boca ficou gigantesca. No entanto, a profissional disse que estava inchada porque ela estava pressionando para sair. Ela olhou para o meu marido e disse: 'Esse inchaço aqui é porque tem líquido que eu estou colocando dentro.'
Após a aplicação da enzima e a retirada do ácido hialurônico, ela me mandou para casa. Somente quando eu já estava no carro que recebi uma mensagem da clínica avisando para tomar um antialérgico, mas nem a dosagem disseram. Só que já era tarde, pois eu já estava tendo reação alérgica.
Chegando em casa, mandei mensagem para a minha amiga dentista que fez o teste de retorno sanguíneo. Ela disse: 'Na minha clínica, se eu tenho que tirar ácido hialurônico, faço o protocolo de antialérgico para isso não acontecer'. Ela então mandou eu procurar um pronto-socorro com urgência.
Fui para uma UPA e na mesma hora injetaram corticoide e outros medicamentos na minha veia. Eu chorava muito, senti uma obstrução na garganta e muita dor no pescoço.
Passei o ano novo e natal com a boca despelando, murcha e horrorosa. Eu achei que não ia voltar ao normal. Inclusive, não sei se voltou 100% ao que era antes.
Repercussão do vídeo
Depois que o vídeo viralizou, a clínica veio falar comigo. Disseram que se solidarizavam com o que eu tinha passado e que queriam diminuir um pouco da sensação de tudo que eu tinha sentido. Eles disseram, ainda, que iriam conversar com a equipe deles para ver o que podiam fazer em relação a isso.
Me perguntaram também quanto eu tinha gastado em medicamento para eles arcarem com os custos. Eu respondi: 'Isso para mim não é nada perto de tudo o que vivi. Eu quase morri'. Contudo, eles nunca mais entraram em contato comigo. Diante de tudo isso, penso, sim, em processar o estabelecimento.
Depois de tudo que vivi, me assustei muito com a maldade mesmo das pessoas na internet. Disseram coisas horríveis como: 'Bem feito', 'você é horrorosa', 'Cheia de mimimi'.
O que fez o vídeo viralizar foi o engajamento do 'hate' das pessoas. Eu fico pensando no nível de maldade dos seres humanos.
Após o vídeo viralizar, outras clínicas já me ofereceram para fazer o procedimento, mas nesse momento estou traumatizada. Eu só faria se fosse com um especialista que eu tivesse muita segurança, porém, por agora eu não quero fazer. Além disso, repensei muitas outras questões estéticas que eu já tive vontade."
Entenda os riscos
Normalmente, o preenchimento labial usa uma substância chamada ácido hialurônico. O material é absorvível e não fica retido no organismo.
O procedimento pode ser feito de duas formas: com agulha ou com cânula. O preenchimento com cânula é mais seguro, já que ela injeta o produto de forma lenta para minimizar a possibilidade de complicações, como granuloma, necrose ou inflamação.
Com relação aos cuidados pré-procedimento, é importante escolher um profissional qualificado —preferencialmente um médico. Além disso, é sempre interessante verificar se o paciente está tomando algumas medicações, como anti-inflamatórios não hormonais, ácido acetilsalicílico, anticoagulantes e, inclusive, alguns fitoterápicos que interferem no processo de coagulação.
Procedimento não é indicado para todos. O preenchimento labial não é indicado em pacientes que estão fazendo tratamentos dentários mais complexos, pessoas portadoras de doenças autoimunes, gestantes ou pessoas que estão amamentando. O procedimento também deve ser feito com muito cuidado em pessoas que têm distúrbios hemorrágicos ou de coagulação, e em pessoas que já tiveram alergia a outros preenchedores anteriormente.
Os riscos e as reações que o organismo pode ter são vários, desde uma vermelhidão leve até a migração do produto aplicado e a formação de nódulos que duram pouco tempo, ou nódulos mais persistentes, que podem ser inflamatórios ou infecciosos. O excesso de produto pode servir ainda como meio de cultura para infecções locais. Existe também a reação de hipersensibilidade relacionada ao ácido hialurônico, que é rara e ocorre em cerca de 0,6 % dos pacientes.
No entanto, a complicação mais temida é a necrose, que pode ser causada por trauma ou por oclusão vascular. A frequência dessa reação é baixa: ela ocorre em 0,001 % do total de preenchimentos. Ainda assim, existem menos riscos de ocorrer a necrose quando medidas preventivas são realizadas, como o uso de pequenos volumes do preenchedor, a utilização de cânulas rombas delicadas e a aplicação da injeção de uma forma lenta, para não ocorrer o processo da necrose.
Por fim, outras complicações seriam a reincidência do herpes simples, infecções bacterianas por bactérias habituais da pele, Staphylococcus ou Streptococcus, ou outras bactérias mais agressivas de longa duração, como as micobacterioses não tuberculosas.
*Fonte: Leonardo Abrucio, dermatologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
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