Leucemia linfoide crônica não tem cura, mas pode ser controlada por décadas
O diagnóstico de uma doença sem cura geralmente assusta e gera muitas preocupações, ainda mais quando se trata de um câncer, como é o caso da leucemia linfoide crônica.
Mas, com o avanço no tratamento oncológico e o acompanhamento médico adequado, muitas vezes o paciente pode controlar e viver bem com essa doença por muitos anos —na maioria dos casos até mesmo sem fazer qualquer tipo de terapia.
A seguir, tiramos dúvidas sobre a leucemia linfoide crônica, câncer nas células do sangue mais comum no mundo ocidental, que afeta principalmente homens a partir dos 50 anos.
O que é a doença?
A leucemia é um tumor líquido nas células do sangue, que afeta os linfócitos —células de defesa do organismo.
A leucemia linfoide crônica é o tipo mais comum desse câncer, representando cerca de 30% dos casos de todas a leucemias diagnosticada no Brasil, conforme explicou Caroline Aquino Moreira-Nunes, professora do Laboratório de Farmacogenética da UFC (Universidade Federal do Ceará) e diretora do laboratório de Biologia Molecular do Grupo Clementino Fraga, em Fortaleza (CE).
A doença atinge os linfócitos B, responsáveis pela produção de anticorpos e pela memória imunológica. Essas células passam a se multiplicar além do normal e perdem a capacidade de morrer no tempo certo.
Com o aumento descontrolado dos linfócitos B no sangue, na medula óssea, no baço e/ou nos linfonodos, os pacientes, que geralmente já são idosos e estão mais propensos a outras alterações, tornam-se imunossuprimidos.
"O acúmulo dos linfócitos anômalos pode prejudicar a produção das células sanguíneas normais", explica Isabela Assis de Siqueira, médica hematologista do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
"A diminuição dos glóbulos vermelhos leva à anemia; o número menor de plaquetas pode causar sangramentos, mais comuns na gengiva e nariz, além de manchas roxas na pele; e a redução dos glóbulos brancos provoca baixa da imunidade, deixando o organismo mais sujeito a infecções."
Quais são as causas?
A leucemia linfoide crônica é mais frequente em pessoas com idade acima de 50 anos, sendo os homens os mais afetados. A doença é rara antes dos 40 anos e não costuma atingir crianças.
Não há causas ou fatores de risco bem definidos para as mutações nos linfócitos B que provocam a leucemia linfoide crônica e, embora não seja considerada hereditária, há maior incidência em parentes de primeiro grau —ou seja, filhos de pais quem tiveram a doença.
Segundo especialistas, assim como ocorre com outras leucemias, uma possível causa que não pode ser desprezada é a exposição a produtos químicos. "E, no Brasil, nos últimos anos, a legislação flexibilizou o uso de agrotóxicos", lembra Moreira-Nunes.
Sinais
A maioria dos pacientes --cerca de 70%-- não apresenta sintomas e descobre a doença somente após a realização de um hemograma completo. A confirmação vem com testes mais específicos, como imunofenotipagem e exames genéticos.
"Os sintomas da doença não aparecem rapidamente; chegam aos poucos e podem até passar desapercebidos", diz Danielle Padilha, médica hematologista da Oncologia D'Or Recife.
Quando ocorrem, os principais sintomas são:
- aumento de linfonodos (ínguas ou gânglios)
- fadiga
- perda de peso
- febre
- sensação de empachamento e dor abdominal, devido ao aumento do baço
Tratamento e perspectivas
A leucemia linfoide crônica não tem cura, mas pode ser controlada, garantindo aos pacientes uma sobrevida média global de 10 a 20 anos. É o caso da atriz Susana Vieira, diagnosticada há nove anos, que diz levar uma vida normal.
Tal prognóstico positivo se deve principalmente ao desenvolvimento de novas terapias, que aliviam os sintomas, melhoram a qualidade de vida e levam à remissão da doença.
Atualmente, o tratamento —que pode ser por tempo determinado ou indefinido— é baseado em quimioterapia, imunoterapia e terapias alvo, muitas vezes associadas, de acordo com idade, comorbidades e prognóstico do paciente e situação clínica da doença. Ou seja, envolve desde infusões endovenosas até comprimidos tomados por via oral.
Especialistas afirmam que anticorpos monoclonais, como o rituximab, já incorporado ao SUS (Sistema Único de Saúde), podem reduzir o risco de morte praticamente pela metade. Esse medicamento específico atua contra uma proteína do linfócitos B, destruindo as células acumuladas no organismo.
Mas vale ressaltar que um terço de todos os pacientes não precisa fazer nada.
"O tratamento é recomendado somente quando há sintomas como febre, sudorese noturna, fadiga extrema, perda de peso, visceromegalias [desenvolvimento excessivo de órgãos internos na região do abdome] ou linfonodomegalias sintomáticas [aumento de volume dos linfonodos], infecções recorrentes, anemia e/ou plaquetopenia [contagem de plaquetas menor que 150 mil células/mm³ no hemograma] sintomáticas, tempo de duplicação de linfócitos inferior a seis meses ou doença autoimune associada", afirma Siqueira, do Hospital de Amor.
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