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5 coisas que você não deve dizer para quem fez ou vai fazer bariátrica

Roberta Klein fez cirurgia em 2022 Imagem: Arquivo pessoal

Gabriele Maciel

Colaboração para o VivaBem

28/02/2024 04h00

A decisão de se submeter a uma cirurgia bariátrica costuma envolver hesitação, medo e preconceito. Além dos desafios emocionais, indivíduos que optam pela intervenção cirúrgica enfrentam uma batalha adicional contra o estigma associado à bariátrica, muitas vezes percebida como uma "solução fácil" destinada àqueles que não dedicaram esforços suficientes à combinação de exercícios e dieta.

Comentários depreciativos e olhares de julgamento costumam acontecer antes e depois da cirurgia, tornando a experiência da bariátrica ainda mais desafiadora. Para a professora Roberta Klein, 37, que passou pela cirurgia em 2022, a discrição sobre o assunto foi a maneira encontrada a fim de evitar julgamentos.

"Só meu marido e meus pais sabiam da minha decisão de fazer a cirurgia. Eu sabia que se contasse para outras pessoas, ouviria comentários do tipo: 'Você é muito jovem' ou 'Você nem é tão gorda assim' —coisas que de fato escutei depois de perder peso", lembra.

Longe de ser a solução fácil, a bariátrica foi a ferramenta que possibilitou o técnico em eletrônica André Prado, 40, alcançar a mudança de vida que ele desejava, após inúmeras tentativas frustradas de emagrecimento.

"Não era só a questão do sobrepeso, mas o que ele estava me causando. Tinha quadros inflamatórios frequentes e esteatose hepática. Agora, com 31 kg a menos, tenho disposição e consigo me exercitar sem me machucar", comemora.

O que é estigma de peso?

O estigma associado ao peso corresponde a valores, julgamentos e comportamentos direcionados às pessoas que não se encaixam nos padrões culturalmente valorizados. Em nossa sociedade, o corpo magro e atlético é amplamente celebrado, enquanto o corpo gordo é frequentemente alvo de críticas.

"Há um pensamento equivocado de que pessoas obesas são relaxadas e sem força de vontade, quando, na verdade, a obesidade é uma doença multifatorial de difícil tratamento", diz a nutricionista Maria Paula Cambi, doutora em medicina interna pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e membro efetivo da IFSO (Federação Internacional para Cirurgia de Obesidade e Distúrbios Metabólicos).

Roberta Klein disse que a discrição sobre o assunto foi a maneira encontrada para evitar julgamentos Imagem: Arquivo pessoal

De acordo com pesquisa publicada no periódico PlosOne em junho de 2023, o estigma costuma persistir de diferentes formas após a bariátrica e é evidenciado pela constante vigilância interna e externa de familiares e pessoas próximas.

Embora estejam com o corpo mais emagrecido, essas pessoas continuam sendo alvos de comentários que depreciam a escolha pela cirurgia. Além disso, esses pacientes são vigiados quanto ao que comem e o quanto emagreceram. Mariana Dimitrov Ulian, nutricionista, doutora em ciências pela Faculdade de Saúde Pública da USP e uma das autoras do artigo

Roberta, que além de professora produz conteúdo para suas redes sociais sobre seu novo estilo de vida, conta receber muitos comentários depreciativos, os quais anulam seu esforço em se manter saudável. "Antes eu era criticada por ser gorda, agora que emagreci e mudei toda a minha vida, os comentários são que eu estou muito magra, que só penso em exercício, sou chata por não querer comida gordurosa", conta.

A psicóloga Dayane Leite, capacitada em avaliação, preparo e acompanhamento de cirurgia bariátrica pela Faculdade de Brasília, afirma que os apontamentos não são bem-vindos e podem impactar a saúde física e mental dos pacientes.

O que não dizer a alguém que fez ou vai fazer bariátrica

Por isso, os especialistas ouvidos pelo VivaBem listaram comentários que não devem ser feitos a pessoas que passaram ou vão passar por uma cirurgia bariátrica.

1) "Era possível emagrecer com exercícios e dieta"

Evite fazer suposições sobre a história médica ou as circunstâncias pessoais do paciente. Cada pessoa tem uma jornada única e complexa em relação ao seu peso e à sua saúde e, muito frequentemente, aqueles que optam pela bariátrica já tentaram diversas estratégias para emagrecer.

"Tenho pacientes que mesmo cuidando da alimentação e se exercitando com regularidade continuaram obesas. Isso acontece porque a obesidade tem causa multifatorial", explica o cirurgião Aderson Aragão, mestre em tecnologia minimamente invasiva e simulação em saúde pelo Centro Universitário Unichristus e membro titular da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica).

Ulian aponta ainda que os pacientes bariátricos comumente se mostram frustrados por não terem conseguido emagrecer sem a bariátrica. "A decisão pela cirurgia decorre de muito amadurecimento, é como se ela fosse a última tentativa", reforça.

2) Não conte histórias trágicas de pessoas que morreram por causa da cirurgia

Há 30 anos, a cirurgia bariátrica era considerada agressiva e casos de intercorrência eram comuns. De acordo com Aragão, isso ocorria pela falta de padronização, de técnica e de equipamentos adequados. Além disso, as pessoas que se submetiam à bariátrica tinham obesidade no grau mais elevado e comumente apresentavam complicações de saúde.

A bariátrica foi a ferramenta que possibilitou André Prado alcançar a mudança de vida que desejava Imagem: Arquivo pessoal

Entretanto, esse cenário mudou e a cirurgia é considerada minimamente invasiva. Se antes era necessário abrir o abdome do paciente, hoje, na maioria dos casos, o procedimento ocorre através da abertura de pequenos orifícios por onde são introduzidas as pinças cirúrgicas. Pessoas com IMC a partir de 30 que apresentam outras condições de saúde, como diabetes, já são elegíveis ao procedimento.

"Hoje o risco de morte bariátrica é de 0,23%, equivalente a uma cirurgia de vesícula. Não é mais necessário fazer uso de dreno ou sonda e não precisamos mandar nenhum paciente para UTI. A recuperação é muito mais rápida", enfatiza Aragão.

Por isso, ao invés de aumentar a tensão que possivelmente o paciente já sente, certifique-se que ele escolheu uma equipe capacitada para realizar a cirurgia e se mostre disponível para ouvir suas preocupações.

3) "Vai engordar tudo de novo"

A recorrência de peso pós-bariátrica pode acontecer, mas para uma porcentagem pequena de pacientes que, muitas vezes, não aderiram ao tratamento e/ou continuaram no sedentarismo. Também é considerado normal, segundo Cambi, o reganho de até 10% do peso perdido, já que o metabolismo desacelera com o passar do tempo. A dica é se colocar no lugar do paciente e entender os desafios que ele enfrenta.

4) "Você vai comer isso?"

Apesar de ser visto como um sinal de preocupação, o monitoramento das escolhas alimentares do paciente só atrapalha no processo pós-bariátrica. Além disso, os pacientes devem ter autonomia sobre o que põem no prato. Eles já são informados sobre as quantidades e escolhas alimentares a serem seguidas após o procedimento, o que inclui uma dieta líquida no primeiro momento.

"O paciente não vai comer como um passarinho para o resto da vida. A tendência é que ele leve uma vida normal, o que inclui comer um pedaço de pizza aos finais de semana", diz a psicóloga Carolina Ribeiro, que é pós-graduada em obesidade e cirurgia bariátrica e membro da SBCBM.

5) "Escolheu o caminho mais fácil"

No Brasil, a cirurgia bariátrica só passa a ser uma opção de tratamento quando o paciente atinge IMC maior que 30, ou seja, quando há um quadro de obesidade. Dessa forma, não é todo mundo que pode ser submetido à cirurgia.

Ela é uma ferramenta utilizada quando o paciente já tentou, geralmente por anos e à custa de muito sofrimento, outras formas de emagrecer. Ainda assim, a bariátrica não é uma solução definitiva e o paciente precisa fazer reeducação alimentar e atividade física.

"Embora o paciente se satisfaça mais rápido, ele continua sentindo vontades. O desafio de recusar comida é o mesmo de qualquer pessoa", comenta Ribeiro.

Os especialistas advertem que a melhor maneira para os pacientes lidarem com julgamentos e comentários desnecessários é "se munir de informações embasadas cientificamente".

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