Como cães e gatos ajudam a ter uma vida mais longa e saudável
O Brasil é o terceiro país com mais animais de estimação do mundo: 149,6 milhões, segundo dados do censo de 2021 do IPB (Instituto Pet Brasil), último disponível. Os cães, como imaginado, são os mais populares, com 58 milhões, seguidos das aves, 41 milhões, e dos gatos, 27 milhões.
O envolvimento com animais de estimação, principalmente cães e gatos, gera diversos benefícios além da companhia. Eles contribuem tanto para a saúde física como emocional dos seus tutores.
Bruce Headey, psicólogo social australiano, realizou uma pesquisa com donos de cães da Austrália e descobriu que eles vão menos ao médico e dormem melhor do que quem não tem cachorro. Eles também são menos propensos a tomar medicamentos para o coração.
O cardiologista Marco Antonio Alves, coordenador do serviço de cardiologia do Hospital Esperança, do Recife, concorda e explica que os passeios diários com os cachorros são de grande importância nesse aspecto. "Eles ajudam a manter ou até perder o peso corporal, diminuindo a incidência de obesidade, os níveis de pressão arterial, glicose, colesterol, triglicerídeos, reduzindo a probabilidade de doenças cardiovasculares, como infarto e AVC", ressalta.
Um estudo conduzido no Reino Unido por James Serpell, professor de ética animal na Universidade da Pensilvânia, nos EUA, reforça isso.
Ele acompanhou donos de animais de estimação durante os 10 primeiros meses após a adoção.
Logo no primeiro mês já foi percebido entre proprietários de cães e gatos uma diminuição expressiva de dores de cabeça, dificuldade para dormir, indigestão e problemas de sinusite.
E essas mudanças continuaram durante todo o estudo, com melhora também na saúde geral.
Para os donos de cães houve ainda um aumento considerável na atividade física.
Melhoras também na saúde emocional
Alves ressalta ainda que o convívio com animais de estimação pode aumentar a produção de hormônios como serotonina, dopamina, prolactina e oxitocina, capazes de melhorar o humor, reduzir a sensação de solidão, melhorando consequentemente os níveis de estresse, ansiedade e depressão.
Foi o que ocorreu com Nadia Rodrigues, 47, de São Paulo. Há anos ela vinha lutando contra crises de ansiedade que atrapalhavam seu sono, obrigando-a muitas vezes a tomar remédios para dormir.
"Como meu marido não é brasileiro, às vezes ficamos um ou dois meses distantes. Isso me trazia muita ansiedade e solidão", conta. Há pouco mais de um ano ela adotou um gatinho chamado Ziggy e viu uma mudança grande no seu emocional e na qualidade do seu sono.
"Depois que o Ziggy chegou as coisas melhoraram bastante. Cuidar e brincar com meu gatinho me distrai e me traz?muita?alegria. Quando acordo de manhã sei que ele vai estar na porta do quarto me esperando. Só de olhar para ele, ver ele brincando e criando aventuras pela casa é um grande prazer. Isso me deixa muito feliz", relata.
Tatiana Iriguaray, professora de psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUC-RS, dedicou sua trajetória acadêmica a investigar os aspectos psicológicos na relação humano-animal. Ela reforça os ganhos emocionais dessa interação.
"Uma das mais importantes contribuições dos animais é proporcionar companhia, além de facilitar a participação social e levar a uma maior interação entre as pessoas. Os animais são considerados catalisadores sociais, ou seja, eles facilitam a conversa entre estranhos, e esse envolvimento social com outras pessoas pode indiretamente levar a uma melhora na saúde psicológica dos tutores", explica.
Nascido com síndrome de Down e recentemente diagnosticado com TEA (transtorno de espectro autista), o filho de Dayse Carvalho, 49, de Salvador, entende bem a importância dessa interação. Criado desde que nasceu com os cachorros dos pais, Enzo, 13, tem limitações de fala, autonomia e dificuldades de interação. Há dois anos ele ganhou o próprio cachorro, um golden retriever chamado Dom, de atendimento terapêutico e treinado para dar suporte emocional a ele.
"Desde que o Dom chegou na vida do Enzo senti uma evolução enorme. Melhorou a autonomia, a autoconfiança, a interação com outras pessoas. Ele ficou menos tímido e mais vaidoso, orgulhoso de si. Hoje ele está mais feliz, com certeza", conta Dayse.
Ela acrescenta que Dom acompanha Enzo por todo o lugar da casa, se tornando uma companhia constante e, junto com a escola e a terapia, se tornou fator importante no desenvolvimento do filho.
Segundo Iriguaray, ainda existem poucas pesquisas que avaliam o impacto dos animais de estimação na função cognitiva dos seus tutores.
"Porém, evidências apontam que a posse de animais de estimação pode minimizar o declínio cognitivo. Uma possível explicação para isso é que a interação com os animais e a responsabilidade em ter que cuidar deles podem ajudar os indivíduos a manterem níveis altos de atividade, retardando o declínio cognitivo", pontua.
Alergia é um mito
Segundo Marco Antonio Alves, cardiologista, a convivência com os animais fortalece também o sistema imunológico. "Estudos afirmam que há diminuição de reações alérgicas, diferentemente do que muitas pessoas pensam, acreditando que esta convivência pode aumentar a incidência de alergias", esclarece.
Um desses estudos foi realizado em 2018 pela bioestatística Alexandra Sitarik e colegas do Sistema de Saúde Henry Ford, de Detroit (EUA).
A pesquisa revelou que a poeira das casas com cães pode influenciar o desenvolvimento e a resposta do sistema imunológico humano, alterando a composição do microbioma intestinal de forma a reduzir o risco de alergias e asma.
Isso porque a presença de um cachorro em casa foi associada a uma maior porcentagem de variação na composição da poeira bacteriana, incluindo vestígios das bactérias Moraxella, Porphyromonas, Capnocytophaga, Fusobacterium, Streptococcus e Treponema.
Quanto mais cedo for a exposição aos pelos dos cachorros, mais forte o sistema imunológico se torna. Crianças pequenas que crescem com cães em casa têm menos risco de desenvolver alergias, eczema ou asma.
Não é para todo mundo
Apesar de muitos benefícios à saúde humana, conviver com animais de estimação também pode ter um lado ruim. Segundo Nathália Saraiva de Albuquerque, veterinária, mestre em psicologia clínica pela PUC-RS e aluna de doutorado de Tatiana Iriguaray, existem pesquisas que mostram que a posse de um animal estaria relacionada a uma pior saúde psicológica.
Acredita-se que isso tenha relação com o perfil da pessoa ou com o tipo de relacionamento que ela estabelece com o animal.
"Para alguns indivíduos, a responsabilidade em ter que tomar conta de um animal pode ser prejudicial, devido ao estresse gerado pelo compromisso, além de interferir na liberdade das pessoas, podendo prejudicar passeios e viagens. E ainda existe a responsabilidade financeira. Os gastos com comida e veterinário podem causar preocupações para os tutores", alerta.
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