Até quanto tempo é normal a menstruação atrasar e como fazer descer?
Carol Firmino
Colaboração para UOL*
10/03/2024 04h00Atualizada em 11/03/2024 11h27
É possível que estar com a menstruação atrasada resulte em uma associação imediata à gravidez. De fato, é necessário descartar essa causa já no primeiro momento para poder investigar outros motivos. A menstruação é um fenômeno ao mesmo tempo maravilhoso e complexo, envolvendo diversos órgãos e hormônios funcionando em sincronia.
Conhecer o ciclo menstrual é entender o corpo feminino e suas potencialidades.
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As secreções hormonais do cérebro e dos ovários e a atuação dos hormônios ovarianos no útero são essenciais para que existam ciclos menstruais regulares. Assim, qualquer fator que tenha impacto em uma ou várias vias deste processo pode alterar o padrão de sangramento menstrual.
Por que a menstruação atrasa? O que pode causar?
Descartada a possibilidade de gravidez, é necessário investigar outras causas comuns, que podem ser:
Alterações hormonais, como problemas na tireoide e SOP (Síndrome dos Ovários Policísticos)
Problemas derivados de distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia
Alterações importantes no peso corporal, tanto de emagrecimento quanto ganho de peso
Além disso, é importante avaliar uso e suspensão de medicações como anticoncepcionais, déficits nutricionais, excesso de exercícios físicos e situações de estresse.
A insuficiência ovariana, provocada por menopausa precoce, as alterações nos receptores de hormônios folículoestimulantes (responsáveis pela produção de estrogênio), os distúrbios autoimunes, as infecções e os tratamentos de radioterapia ou quimioterapia também podem alterar o ciclo menstrual.
Quando é normal a menstruação atrasar?
Pode ocorrer uma variação de até três dias na chegada da menstruação. Se passar disso a recomendação é investigar as causas junto a um médico.
O ciclo menstrual feminino fisiológico pode ter intervalos entre 21 e 35 dias e durar de dois a seis dias, sem caracterizar qualquer problema específico. No entanto, qualquer padrão de sangramento que não siga essas especificações necessita de um olhar atento.
Estresse, ansiedade e depressão interferem no ciclo menstrual?
Atrasos menstruais são comuns em momentos de alterações emocionais significativas, como durante períodos de estudos para vestibular e concursos públicos ou após a perda de alguém próximo.
Isso acontece porque o corpo aumenta a secreção do hormônio cortisol e causa interferência na liberação dos hormônios que controlam nossos ovários, algo que pode provocar mudanças nos ciclos menstruais.
No caso da depressão, as principais interferências são resultado de tratamentos com antidepressivos ou da própria doença, que provoca a alteração de neurotransmissores —moléculas que fazem a comunicação entre neurônios— e pode modificar secreções hormonais relacionadas à regulação do ciclo menstrual.
O estado de depressão funciona como um estresse crônico para o organismo. Além disso, alguns estudos mostram que, nas mulheres depressivas, diminui o hormônio LH, responsável pela ocorrência da ovulação. Quando não ovulamos, o ciclo menstrual não se completa e, portanto, a menstruação não acontece.
O que fazer quando a menstruação atrasar com frequência?
É imprescindível agendar uma consulta com sua ginecologista de confiança o quanto antes. Assim, será feita a investigação adequada, com história clínica, exame físico e exames complementares, incluindo Beta HCG, para descartar gestação e exames hormonais.
O mais importante é ter um canal aberto de comunicação e se sentir confortável para conversar sobre todos os pontos que envolvem o ciclo menstrual. Com isso, vão chegar a um diagnóstico adequado e conversar sobre tratamentos possíveis, quando necessário.
A pílula do dia seguinte pode atrasar a menstruação?
Esse medicamento contém uma dose alta do hormônio sintético levonorgestrel, que atua, predominantemente, inibindo a ovulação. Para que isso ocorra, há alteração de secreção de hormônios responsáveis também pela regulação do ciclo menstrual. Por isso, a menstruação pode atrasar em função do uso da pílula do dia seguinte, no entanto, não é uma regra.
Cerca de 60% das mulheres que utilizaram a pílula terão sua próxima menstruação dentro do período esperado. Mas, em alguns casos, pode atrasar até sete dias ou mesmo adiantar, sendo que as alterações menstruais costumam ocorrer no ciclo seguinte ao uso da pílula.
A troca da pílula anticoncepcional pode atrasar o ciclo menstrual?
O principal mecanismo de atuação dos anticoncepcionais é a inibição da ovulação. Então, quando não há ovulação, não há queda hormonal ao final do ciclo e, portanto, não há menstruação.
Assim, quem utiliza pílulas anticoncepcionais (de maneira correta) não ovula e não menstrua. O sangramento que pode ocorrer, principalmente durante a pausa prevista nas cartelas, não configura uma menstruação, e sim um sangramento de privação hormonal.
Esse mesmo sangramento pode ocorrer durante a troca de anticoncepcionais ou quando há falha no uso regular da pílula. No entanto, é importante ressaltar que a troca de método contraceptivo é o momento mais comum para ocorrência de falha e gravidez indesejada. Por isso, se a menstruação estiver atrasada após a mudança de pílula, é importante avaliar a possibilidade de gestação.
Existem métodos para "incentivar" a menstruação a descer?
Na verdade, o que existe são tratamentos, dependendo da causa do atraso menstrual. Por exemplo, no caso de alterações de tireoide, a reposição do hormônio pode regularizar os ciclos. Além disso, são realizados testes com medicações específicas que podem fazer a paciente sangrar, para confirmar ou descartar diagnósticos suspeitos.
Por mais que não haja comprovação científica, algumas mulheres recorrem a chás com o objetivo de provocar o sangramento. Sobre isso, alguns estudos avaliam a utilização de fitoterápicos para auxiliar a regularização dos ciclos menstruais em pacientes com condições específicas, como a SOP (Síndrome dos Ovários Policísticos). No entanto, as pesquisas utilizam extratos de ervas manipuladas, com concentrações específicas, e não seu consumo como chás.
É importante lembrar que fitoterápicos podem ter interação com outros medicamentos que a paciente faz uso e, portanto, seu consumo nunca é recomendado sem orientação médica adequada.
Alguns chás podem auxiliar apenas no controle de alguns sintomas de TPM ou sintomas presentes durante o período menstrual, como as cólicas, mas não para fazer com que a mulher menstrue. O melhor método para que o corpo complete o ciclo de maneira saudável é cuidar do estilo de vida e manter a rotina ginecológica em dia.
Isso significa:
Investir em uma dieta equilibrada
Praticar exercícios físicos de forma regular e não excessiva
Buscar alternativas para controlar o estresse e valorizar a qualidade do sono, principalmente porque é nesse momento que vários hormônios reguladores do ciclo menstrual são secretados
Fontes: Fabio Broner, ginecologista do Hospital Albert Sabin de São Paulo; Juliana Sperandio, médica da Clínica Alira, ginecologista, obstetra e especialista em cirurgias minimamente invasivas pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); e Luciana Delamuta, ginecologista e obstetra pela FMUSP
*Com matéria publicada em 17/05/2022