Quais os riscos para a saúde de se enterrar pet no quintal de casa?
Marcelo Testoni
Colaboração para VivaBem
15/03/2024 04h05
Muitas vezes, por apego ao cão, gato ou outro ser vivo que se foi e era considerado como um filho, o tutor pode querer enterrá-lo no quintal de casa.
"Do ponto de vista da saúde mental, o luto precisa ser vivenciado até se chegar à aceitação. Mas quando ele demora muito para passar, pode se tornar patológico, pois a pessoa fica presa e sofre muito", informa Yuri Busin, psicólogo pós-graduado pela PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).
Um pet enterrado em casa pode favorecer episódios depressivos e de ansiedade (diante da saudade incontrolável) e até angústia, desespero e traumas, se for desenterrado por outros bichos, ou pelo mau tempo.
Portanto, é necessário que o sujeito enlutado se distancie dos gatilhos que disparam seu sofrimento e, com dificuldades, que procure ajuda logo de início, para que esse processo não se prolongue e favoreça outros riscos, também para a saúde física.
Cadáver em quintal favorece doenças
Para alguns, sepultar o pet no quintal de casa também pode parecer uma alternativa rápida, econômica e segura. Porém é totalmente desaconselhável e o tutor pode ser denunciado e punido com sanções e multas elevadas.
É que o cadáver do bicho pode acabar contaminando os lençóis freáticos e, consequentemente, a água que é consumida, violando questões de saúde pública e ambiental por oferecer potenciais riscos à integridade física de terceiros.
"Existem diversos riscos, especialmente se o animal possui zoonoses (doenças transmitidas entre animais e pessoas), como raiva ou tuberculose. Sem que haja um diagnóstico da causa da morte, as pessoas ficam sujeitas à contaminação, por bactérias e também fungos", informa Cláudia Momo, veterinária e professora responsável pelo laboratório de patologia animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
A veterinária explica que conforme a putrefação avança, as bactérias presentes no intestino do animal morto passam a se proliferar e colonizam todo o cadáver e o ambiente ao seu redor, como solo, água e plantas.
Além disso, nesse processo, há formação do chorume, líquido escuro que contém alta carga poluidora e odor forte nauseante, que com a ação das chuvas tende a se espalhar ainda mais, juntamente com sangue, secreções, atraindo baratas, ratos e moscas.
"Muito comum também é a prática do descarte indevido dos restos mortais de animais em lixeiras, considerada crime ambiental, que tem como pena reclusão de 1 a 4 anos e multa", adverte Sylvia Lemos Hinrichsen, infectologista e professora em biossegurança, controle de infecções e risco sanitário hospitalar da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
Como dar fim digno ao pet e sem riscos
Quando um animal morre em clínica veterinária, o tutor pode pagar uma taxa para que se encaminhe o corpo para um serviço de cremação. Em casa, o ideal é que, "caso haja suspeita de zoonose, o tutor se dirija a uma clínica veterinária que possua serviço de patologia animal para se fazer uma necropsia", recomenda Cláudia Momo, acrescentando que "a Divisão de Vigilância de Zoonoses realiza esse exame apenas quando há relevância para a saúde pública".
Se o tutor optar apenas por dar fim aos restos mortais, as prefeituras oferecem um serviço gratuito de cremação para animais domésticos, mas é preciso se informar sobre os pontos de coleta ou retirada domiciliar com o Centro de Controle de Zoonoses.
Os animais mortos são acondicionados em containers refrigerados até o momento de serem transportados para o crematório e depois a um aterro.
"A cremação é a opção mais viável para o animal de estimação. Para coleta domiciliar, o animal deverá ser devidamente acondicionado em caixa de papelão, saco plástico, ou outro material resistente", recomenda a infectologista Sylvia Lemos.
Para quem prefere que o corpo do pet seja velado e depois sepultado ou incinerado em algum local que possa ser visitado ou que entregue suas cinzas depois, existem os cemitérios para bichos, que funcionam da mesma forma que as funerárias e os cemitérios para humanos.
Agora, em áreas rurais, pode se fazer o enterro do pet em uma área reservada, longe de fontes de água, como rios, lagos e nascentes.
"Não se deve deixar o cadáver ao ar livre, tampouco queimá-lo. O mais recomendado é fazer sua compostagem, que é simples, econômica e ambientalmente correta. Ela destrói os microrganismos do cadáver, gerando um material rico em nutrientes, que pode ser utilizado como fertilizante em pastagens", assegura Momo.