São quantos dias de atestado para dengue? Veja orientações para afastamento

A dengue é uma das doenças incluídas pelo Ministério da Saúde na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT), o que quer dizer que ela é um fator de risco durante as atividades. Mesmo em casos em que o contágio se dá fora do trabalho, o diagnóstico pode levar ao afastamento do serviço.

Com a alta de casos, aumentou também o número de pesquisas sobre o tema na internet, como mostra o Google Trends. Veja o que dizem alguns especialistas sobre as condições para o afastamento e o tempo de atestado.

Qualquer tipo de dengue gera atestado de afastamento do trabalho?

Depende. Para Alexandre Naime Barbosa, médico infectologista e coordenador científico da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), o afastamento é recomendado para todos os níveis da doença.

É altamente recomendável que o indivíduo seja afastado do trabalho, porque uma das medidas para que esse paciente seja manejado da forma correta é o repouso e a hidratação, que são pilares fundamentais no manejo da dengue. Então, obviamente, eu preciso que esse indivíduo não esteja trabalhando. E, obviamente, isso vale para todos os pacientes com dengue.

Para a médica Rosylane Rocha, diretora científica da ANAMT (Associação Nacional de Medicina do Trabalho), pacientes com manifestações superficiais da doença já requerem cuidados. "Mesmo os casos leves geram desconforto, mal-estar, fadiga e dor", explica.

No entanto, essa percepção pode variar de acordo com o médico. Segundo o infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), casos mais leves podem não precisar de afastamento.

O afastamento é decorrente da manifestação clínica naquele indivíduo. Se você está com uma dengue mais importante, ele vai necessitar mais dias até uma plena recuperação e uma volta às suas atividades normais. Se é uma dengue muito leve, talvez nem precise ser afastado.

A dengue gera quanto tempo de atestado?

Varia. Em geral, a intensidade dos sintomas é o que dita o período de atestado para o trabalhador. "Não deve haver imposição definida de dias de atestado. Há necessidade da avaliação do médico para saber as condições clínicas do paciente", afirma Rosylane.

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O que determina o tempo do afastamento são os sinais, os sintomas, e não a doença. Se eu não estou bem por uma semana, vou ficar uma semana de repouso. Se no terceiro dia eu estou ótimo, pronto, vou ficar três dias -- é suficiente para o afastamento. Não há um prazo, já que a dengue não é uma doença que você tem que isolar a pessoa do seu convívio. Não é uma doença transmissível de pessoa a pessoa. Portanto, não há nenhuma recomendação específica de tempo de isolamento.
Renato Kfouri

Para Alexandre, por outro lado, o afastamento mínimo deve ser de sete dias, podendo ser prorrogado caso a doença não apresente sinais de melhora.

[São] no mínimo sete dias, a contar do início dos sintomas, porque eles tendem a melhorar bastante a partir do sétimo dia até o décimo. Como a gente reavalia esse paciente, pode deixar os sete dias ou prolongar para dez. Tem paciente que precisa ficar até 14 dias, por conta da intensidade dos sintomas, por conta de febre, dor no corpo e até mesmo, em alguns casos, necessidade de hidratação por mais tempo.

Precisa fazer o teste para pegar o atestado para dengue?

Não. De acordo com os especialistas, a observação dos sintomas é suficiente para o afastamento do trabalho.

[O teste] é necessário para a gente confirmar o caso, mas ele não é necessário para fazer o diagnóstico, porque somente com os achados clínicos e os achados de laboratório já dá para fechar o caso como dengue. Fora que se o paciente está doente, pode ser outra coisa — por exemplo, febre maculosa, que do ponto de vista clínico é muito parecida, ou leptospirose. Eu não posso deixar uma pessoa dessa trabalhar sob qualquer circunstância. Então o teste não pode ser uma obrigatoriedade para que o indivíduo tenha atestado. Ele está doente e pronto, explica Alexandre.

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Se a pessoa está com cansaço, falta de ar, dor no corpo, mal-estar, ela precisa repousar. Afasta do trabalho por três dias, por quatro, por dois... Independente se é dengue, se é pneumonia, se é gripe, se é covid. Não faz diferença. O que determina o afastamento é o estado da pessoa e o que o médico avaliou. Não a doença que ela tem, o método de diagnóstico que ele utilizou, concorda Renato.

Por que a dengue foi incluída na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT)?

Em termos gerais, a inclusão mostra que os ambientes de trabalho podem conter fatores de risco para o contágio da dengue, especialmente para trabalhadores de áreas domiciliares.

O Aedes aegypti transmite a dengue principalmente no ambiente domiciliar, mas nós temos muitas pessoas que trabalham nesse ambiente. Por exemplo, empregadas domésticas, trabalhadores de construção civil, e principalmente uma categoria que está muito exposta, são os próprios agentes comunitários, aqueles agentes que fazem o controle do vetor, explica Alexandre.

Quais são os sintomas da dengue?

Após o período inicial, que pode durar de dois a sete dias, a maioria dos pacientes com sintomas de dengue experimenta uma melhora notável, especialmente em relação à febre. Nos casos leves da doença, o ciclo infeccioso se completa após essa fase e o paciente se recupera. Alguns dos sintomas leves incluem:

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  • Eritema (manchas vermelhas semelhantes a alergia);
  • Dor no corpo;
  • Mialgia (dor muscular);
  • Fadiga;
  • Dor de cabeça;
  • Dor no fundo dos olhos;
  • Febre (superior a 38,5°C);
  • Perda de apetite;
  • Dor abdominal.

A incubação do vírus no organismo pode demorar de quatro a dez dias e, depois, começam os sintomas da primeira fase, também chamada febril, por ser caracterizada, principalmente, pela febre acima de 39ºC. Cansaço que não passa, náuseas, diarreia e surgimento de manchas ou erupções avermelhadas na pele, assim como dores musculares, nas juntas e atrás dos olhos, também são fortes indícios do estágio inicial da condição.
Alberto Chebabo, infectologista, diretor médico do Hospital Clementino Fraga Filho da UFRJ, e presidente da SBI

* Com informações de reportagem publicada em 06/02/2024.

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