O que acontece no seu corpo quando você usa anabolizantes

Esteroides androgênicos anabolizantes ou apenas anabolizantes, como são conhecidos, têm indicações muito específicas, como melhorar o peso e a massa muscular em pacientes críticos, disfunções e adaptações hormonais, como o hipogonodismo masculino, e nos cuidados da pessoa com incongruência de gênero ou transgênero.

Apesar disso, a fama desse medicamento não se deve a esses pacientes, mas aos amantes das academias. Nesses ambientes, pouco importa o gênero: o apelo estético que ele possui seduz a maioria.

Ficar "grande", aumentar o desempenho e exibir os resultados de um treino disciplinado não seriam problemas, não fosse o perfil de risco do abuso dos anabolizantes, o que faz que eles estejam na mira das autoridades sanitárias, que vedam seu uso para esses fins.

Estima-se que 3,3% da população seja usuária ocasional ou frequente.

18,4% são esportistas recreacionais e 13,4% deles são atletas.

A maioria é jovem, estudante e solteiro.

Mais de 50% é o percentual de dependência entre os usuários, que tendem a abusar também do álcool, nicotina e até cocaína. Dados da Sbem.

Entenda o que são anabolizantes

Trata-se de hormônios esteroides naturais ou sintéticos capazes de promover o crescimento celular e sua divisão, levando ao desenvolvimento de variados tipos de tecidos, como o muscular.

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Os endrogênios naturais —como a testosterona— são responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento dos órgãos sexuais em homens, pela fertilidade e manutenção das características masculinas.

Sejam naturais ou sintéticos, os esteroides anabólicos agem ativando receptores desses hormônios que estão presentes em todo o organismo.

Eles facilitam o aumento da massa muscular, têm ação estimulante no sistema nervoso central e aumentam o desejo sexual e a libido.

Promovem ainda o aumento dos glóbulos vermelhos no sangue, a retenção de nitrogênio, o depósito de cálcio nos ossos e afetam a distribuição de reservas de gordura do organismo.

Possíveis efeitos no seu corpo

De acordo com os especialistas consultados, mesmo quando o anabolizante é indicado para tratar doenças específicas e em doses adequadas, ele pode trazer efeitos indesejáveis, que são facilmente controlados porque os pacientes são monitorados periodicamente.

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No caso da automedicação prolongada ou de abusos com finalidade meramente estética, é comum que as dosagens sejam de 5 a 15 vezes superiores às sugeridas nas bulas oficiais. E ainda há o risco de uso de fórmulas manipuladas sem supervisão sanitária e fármacos de uso veterinário.

Confira algumas das complicações mais frequentes nessas situações:

  • Alterações de características masculina e feminina
  • Problemas dermatológicos
  • Mudanças neuropsiquiátricas
  • Queixas urogenitais
  • Doenças cardiovasculares
  • Dependência

O corpo todo muda

Nas mulheres, a ação excessiva dos hormônios pode resultar no engrossamento da voz, surgimento de pelos em regiões onde eles não existiam, aumento do clitóris, alterações no ciclo menstrual, redução das mamas, aumento do apetite e calvície de padrão masculino.

Entre os homens, poderão estar presentes o aumento das mamas, redução do testículo, além da diminuição da contagem de espermatozoides e calvície.

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A pele pede mais atenção

Entre as possíveis manifestações desse tipo, destaca-se o aumento da oleosidade e o aparecimento ou a piora de quadros de acne, o que pode acometer cerca de 40% a 50% das pessoas que usam anabolizantes.

A acne pode ser grave, e incluir as regiões da face e do tronco.

Outra possível alteração na pele é a infecção no local de sua aplicação.

As emoções ficam alteradas

Com os níveis de testosterona mais altos, quadros de instabilidade emocional, alterações de humor, perda do olfato (anosmia), dor de cabeça, depressão, nervosismo, agitação, dores pelo corpo, violência, insônia e comportamentos agressivos podem dar as caras.

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Funções urogenitais sofrem

No grupo masculino, têm sido observadas as seguintes alterações:

  • Alterações nas taxas de antígenos prostáticos
  • Hiperplasia prostática benigna (aumento da próstata)
  • Baixa contagem de espermatozoides e infertilidade
  • Aumento de mamas
  • Prostatite (inflamação da próstata)
  • Dor pélvica
  • Incontinência urinária
  • Infecção urinária
  • Redução dos testículos
  • Disfunção na ejaculação e erétil (em especial com a nandrolona)
  • Hipogonodismo após a retirada do medicamento (mau funcionamento das gônadas)

Saúde cardiovascular sofre

O uso de altas doses por períodos prolongados pode provocar alterações no funcionamento do coração e dos vasos sanguíneos, o que pode resultar no aumento da pressão arterial.

É ainda possível que ocorram alterações nos níveis de gordura no sangue. Os níveis do LDL (o colesterol ruim) sobem, enquanto do HDL (colesterol bom), caem. A longo prazo, tais alterações podem ter como consequência a aterosclerose e o aumento de risco cardiovascular.

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Complicações graves como o infarto, hipertensão arterial, AVC (acidente vascular cerebral), coágulos sanguíneos, arritmias e até morte súbita têm sido associados ao abuso de esteroides anabolizantes.

Essas complicações são as principais responsáveis pelo aumento do risco de mortalidade precoce no grupo de pessoas que usam esse medicamento. De acordo com dados da Sbem, tais situações resultam em uma taxa de mortalidade 3 vezes maior entre indivíduos que utilizam o medicamento.

Já não dá para viver sem eles

O uso prolongado e repetido de anabolizantes pode levar à supressão gonadal, ou seja, quando da retirada do medicamento a produção da testosterona endógena (natural) não mais atenderá às necessidades orgânicas da pessoa.

Os sintomas podem ser fadiga, agitação, falta de apetite, insônia, depressão, redução do interesse sexual.

O problema, aqui, é que não dá para saber quem poderá ter esses efeitos indesejados. Cada organismo reage do seu jeito e alguns quadros podem ser irreversíveis.

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A tendência é que a pessoa volte a utilizar o hormônio, agora de forma crônica.

A dependência também pode ser psicológica: sem o uso do anabolizante, o indivíduo não se sente satisfeito com sua composição corporal natural.

Além disso, de acordo com dados da Sbem, o uso abusivo e por longo período pode levar a lesões cerebrais que facilitam o desenvolvimento de comportamentos de dependência de outras drogas.

Os tipos disponíveis

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Imagem: iStock

São várias as substâncias que atuam como esteroides anabolizantes, e elas possuem apresentações como comprimidos, ampolas para injeção intramuscular, gel e adesivos tópicos, além de implantes hormonais.

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Em geral, esses medicamentos são encontrados em farmácias tradicionais ou de manipulação, academias, internet e outras formas de mercado ilegal. O risco para os consumidores é obterem itens falsificados e sem segurança sanitária.

Os tipos mais utilizados no Brasil são a testosterona e a nandrolona. A oxandrolona, bastante popular entre as mulheres, pode causar sérios problemas hepáticos, além dos outros efeitos colaterais citados anteriormente.

Conheça as indicações médicas

Os esteroides anabolizantes podem trazer benefícios para a saúde em quadros específicos. Em todos eles, o uso do medicamento deve ser prescrito e supervisionado por um médico. Confira:

Hipogonadismo masculino (deficiência de testosterona em homens)

Disfunções da libido (especialmente em mulheres no período posterior à menopausa)

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Caquexia e quadros que levam à perda de massa e função musculares (sarcopenia)

Pessoas transgênero

Quem tem de passar longe deles

Algumas enfermidades e determinadas condições impedem o uso desse tipo de medicamento. Confira as principais delas:

Homens que desejam manter a fertilidade

Gravidez ou amamentação

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Doenças da próstata, elevação no PSA, e sintomas urinários graves

Apneia do sono não tratada

Policitemia (doença crônica que afeta o sangue)

Dores de cabeça, inclusive enxaqueca

Convulsões

Pressão alta descontrolada (hipertensão arterial)

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Diabetes

Enfermidades do coração, fígado e rins

Cânceres de mama, rim ou pulmão

Ter tido um infarto ou AVC nos últimos 6 meses

A importância do monitoramento

Mesmo depois do estabelecimento de um diagnóstico, é esperado que os médicos solicitem exames para prevenir ou controlar possíveis efeitos adversos.

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Homens com hipogonadismo devem ter sua testosterona avaliada, e ainda será necessário investigar níveis de gordura no sangue, função hepática, níveis de hemoglobina e hematócrito, antígeno prostático e exames de próstata para homens com mais de 40 anos.

Os exames podem ser repetir, a critério médico, a cada trimestre ou semestre, e então a cada ano para que se possa prevenir eventos cardíacos.

Entre as mulheres, devem também ser observados sinais de hiperandrogenismo (características masculinas).

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, coordenadora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia - São Paulo); Ana Flávia Torquato, endocrinologista do HUWC-UFC (Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Ericson Pereira, profissional de educação física, mestre em tecnologia em saúde e doutor em biociências, coordenador do curso de educação física da PUC-PR; Felipe Henning Gaia Duarte, presidente da Sbem-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo); e Marcelo Polacow, presidente do CRF-SP. Revisão técnica: Ana Flávia Torquato.

Rerefências:

Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). Posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia sobre o uso de Esteroides Anabolizantes e similares para fins estéticos ou para ganho de desempenho esportivo 2021/2023

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Conselho Federal de Medicina. Resolução 1999/2012.

Ganesan K, Rahman S, Zito PM. Anabolic Steroids. [Updated 2023 May 23]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482418/
Pereira E, Moyses SJ, Ignácio SA, Mendes DK, Silva DSDA, Carneiro E, Hardy AMTG, Rosa EAR, Bettega PVC, Johann ACBR. Prevalence and profile of users and non-users of anabolic steroids among resistance training practitioners. BMC Public Health. 2019 Dec 9;19(1):1650. doi: 10.1186/s12889-019-8004-6. PMID: 31818274; PMCID: PMC6902556. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31818274/

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