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Ela tratou câncer grávida: 'Três médicos falaram que caroço não era nada'

Imagem: Arquivo pessoal

Roseane Santos

Colaboração para VivaBem

21/03/2024 04h01

Após a mãe contar que estava com câncer de mama, Valkiria Valério, 46 anos, suspeitou que um caroço que tinha no seio também era um tumor. Ela ouviu de três médicos que não tinha nada, mas seguiu desconfiada e buscou uma quarta opinião, que confirmou o diagnóstico do nódulo maligno. Como a situação era grave, a terapeuta de Sorriso (MT) teve de passar por cirurgia e quimioterapia durante a gravidez. A seguir, ela relata como foi o tratamento:

"A minha vida começou a mudar no ano de 2012. Grávida aos 35 anos e com um quadro de pressão alta, fui surpreendida com a notícia de que minha mãe precisou ser submetida a uma cirurgia de emergência.

Ela tentou me poupar por algum tempo, mas acabou revelando que fez uma biopsia e o resultado apontava um tumor maligno na mama em estágio avançado, com suspeita de metástase.

Imagem: Arquivo pessoal

Ao saber o que estava acontecendo com ela, acendeu um sinal vermelho também em mim. No primeiro mês de gestação, enquanto tomava banho, senti um nódulo na minha mama, bem perceptível ao toque.

O câncer de minha mãe me preocupou e, imediatamente, procurei um médico, que me encaminhou para a mamografia. Já com o exame em mãos, ele me tranquilizou falando que eu era muito jovem e o caroço no seio deveria ser uma alteração hormonal por causa da gravidez.

Cansaço e muita fraqueza

Com o passar da gestação, minha pressão arterial ficou cada vez mais irregular. Tinha uma sensação de cansaço e muita fraqueza. Achei estranho e decidi procurar outro médico. Falei sobre o nódulo e ele concordou com a opinião do primeiro: 'Não é nada'.

Apesar disso, sentia que algo estava errado e, o pior de tudo, percebi que o nódulo aumentava de tamanho e comecei a sentir dor. Busquei, então, a opinião de um terceiro médico, que também reafirmou o que os anteriores tinham falado.

Mas eu conhecia bem meu corpo. Não conformada, fui atrás de mais uma avaliação. Dessa vez, conheci uma médica chamada Maria Luiza Bini e, graças a Deus, ela me olhou de forma diferente, mostrando muito profissionalismo. Imediatamente me encaminhou para um oncologista, com pedido de urgência. Isso facilitou e fez com que tudo andasse muito rápido.

Imagem: Arquivo pessoal

Ao chegar ao consultório do oncologista, o Dr. Érico Folchini, ele percebeu a gravidade, pois já não era um tumor, mas dois, e com tamanho que o deixo u muito preocupado. A situação fez com que ele tomasse medidas emergenciais para o início imediato do tratamento. Agora a preocupação maior era como realizar tudo aquilo eu estando grávida.

Minha filha nasceu de 32 semanas

Na semana seguinte já fui submetida a uma quadrantectomia, retirando 18 linfonodos axilares.

Após a cirurgia, fui orientada a iniciar imediatamente a quimioterapia, mas, devido às reações geradas e à preocupação com a saúde da minha filha, relutei por um tempo, fazendo a primeira sessão de quimio com 28 semanas de gestação, e a segunda com 31

Quando estava na 32ª semana foi realizada, de forma antecipada, uma cesariana. A minha filha Daniella nasceu com 50 cm e pesando 2.880 kg, saudável e superando todas as expectativas da equipe médica. Ela precisou ficar na UTI devido a uma insuficiência respiratória, permaneceu lá por três dias. Tudo dentro do esperado para uma criança prematura.

Quinze dias após o parto, tive de fazer uma nova cirurgia para ampliação de margem de segurança do quadrante. Depois, continuei com as sessões de quimio (foram oito) e fiz 33 sessões de radioterapia, além de 17 doses de Herceptin e o uso de Tamoxifeno por 10 anos.

No decorrer do tratamento, vivi emoções diversas e sentimentos de incertezas, mas também de ânimo e superação

Imagem: Arquivo pessoal

Perdi a minha mãe e quase o meu esposo

Deus permitiu que minha mãe conhecesse a neta. Mas, depois de cinco anos do início do meu tratamento, ela morreu em consequência da metástase do câncer. Foi um momento muito difícil e desafiador, porém, a certeza de que estarei com ela na eternidade me conforta.

Em 2022, passamos por mais uma prova envolvendo o câncer: meu esposo foi diagnosticado com câncer no rim, e o médico disse que ele tinha 5% de chance de sobreviver.

Ele foi submetido a uma nefrectomia para a retirada de um tumor de 9,5 cm por 7,5 cm. Contrariando todos os prognósticos que deram a ele Deus reverteu os 5% em 100%.

Hoje, ele está em remissão e bem. Minha filha tem 10 anos e é uma criança saudável, extremamente inteligente, e feliz.

Imagem: Arquivo pessoal

Diante de tudo que vivi, quero deixar a todos uma palavra de ânimo e encorajamento. Nunca desista, mesmo que as situações ou circunstâncias sejam contrárias e desanimadoras

Para finalizar, vou deixar três pilares muito importantes para a vida de todos: cuide de sua vida espiritual, da sua saúde mental e também da física."

Tratamento de câncer na gravidez

A gestação não piora o câncer de mama nem impede a maior parte dos tratamentos, mas o caminho a seguir deve ser cuidadosamente planejado pelo médico, para minimizar os riscos para o bebê.

O tratamento de tumores não é indicado no primeiro trimestre de gestação. Como a maioria dos órgãos internos do bebê se desenvolve durante esse período, a segurança da quimioterapia não foi estudada nessa fase e o risco de aborto espontâneo é maior.

Em casos graves, como o de Valkiria, a mulher pode receber quimioterapia a partir do segundo trimestre, com medicamentos específicos que não prejudicam a gravidez.

Em geral, a cirurgia para remover um nódulo é segura durante a gestação.

A maioria das mulheres que descobre câncer de mama durante a gravidez apresenta nódulo palpável ou alguma alteração de pele.

A decisão de interromper a gravidez em casos de câncer de mama é complexa e deve ser discutida com a equipe médica e a paciente. Em raras ocasiões o aborto terapêutico é aconselhado, geralmente em situações de elevado risco de morte materna, quando tratamentos tóxicos à gravidez precisam ser utilizados imediatamente.

Após o parto, a amamentação não é recomendada durante o tratamento com quimioterapia ou radioterapia, pois os medicamentos podem passar para o leite materno e afetar o bebê.

Fonte: Clarissa Silveira, médica ginecologista, obstetra, mastologista com foco em saúde sexual.

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