Por que meu filho faz xixi na cama todos os dias e como tratar?
Daniel Navas
Colaboração para o VivaBem
26/03/2024 04h00
Podem ser diversas as causas. Mas, geralmente, a criança tem dificuldade para despertar e fazer xixi no banheiro.
No nosso cérebro há uma região chamada locus coeruleus, que é exatamente a área que faz a gente acordar para diversas situações, inclusive quando a bexiga está cheia. Mas algumas crianças demoram para amadurecer essa região, por isso apresentam uma dificuldade maior de despertar a qualquer estímulo.
Além disso, essa dificuldade de despertar pode provocar ou estar associada a uma redução da produção noturna do hormônio antidiurético, que diminui a produção de urina à noite. A dificuldade de despertar junto com o aumento da produção de urina no período noturno resulta na enurese noturna, que é o nome para o xixi na cama.
Outras causas que podem estar por trás da enurese noturna são:
Bexiga de tamanho menor;
Demora maior na maturação dos músculos dos esfíncteres da bexiga;
Causas emocionais, mais raramente.
Claro que somente o médico especialista, após conhecer o histórico da criança, examiná-la e solicitar exames, poderá indicar o tratamento ideal para cada caso. Mas vale saber que as opções de terapia são:
Restrição hídrica: não ingerir líquidos 2 horas antes de se deitar, até que a criança tenha total controle sobre sua micção. Também é importante evitar produtos que contenham cafeína, pois ela é diurética e estimula a contração da bexiga.
Urinar ao se deitar e ao se levantar: é essencial criar o hábito de fazer xixi logo antes de deitar e logo ao acordar, esvaziando completamente a bexiga.
Recompensa pelas noites secas: os pais devem valorizar cada dia sem xixi na cama, com elogios, carinhos, demonstrando seu contentamento e participando ativamente do tratamento.
Treinamento da micção: com exercícios que orientam o controle do ato de urinar. Aqui, vale pedir a ajuda do pediatra em como realizar essa atividade com a criança.
Tratamento da constipação ("intestino preso" ou "prisão de ventre"): há importante correlação entre esse problema e a enurese noturna. Por isso, a cura da constipação aumenta a possibilidade de sucesso no controle da micção.
Acompanhamento psicológico: é importante para auxiliar o jovem a não se sentir culpado e recuperar sua autoestima, acreditando na sua capacidade de vencer.
Alarme de enurese: é um sensor de umidade que ativa um circuito sonoro quando a criança urina. Geralmente, o barulho não desperta a criança, por isso os pais devem acordar o pequeno para completar a micção no banheiro. Esse ato de acordar e o cérebro perceber o acontecimento do xixi na cama é que faz com que essa comunicação entre o cérebro e a bexiga melhore durante a noite.
Existem também tratamentos medicamentosos, mas assim como todas as outras terapias, somente o médico poderá indicar.
Vale saber, aliás, que um novo método de tratamento está surgindo e deve ser lançado no ano que vem. Com o nome Soluu, é muito parecido com o alarme de enurese, ou seja, um sensor de umidade, mas o diferencial é que o aparelho estimula a contração da musculatura do assoalho pélvico.
É uma vestimenta que a criança dorme com ela, e à medida que o sensor de umidade é ativado, haverá além do alarme (comunicado pelo telefone celular, o que facilita com que haja menos barulho), uma ativação do estímulo para a contração da musculatura do esfíncter externo, que vai conter a urina.
Esperado até certa idade
É importante ter em mente que até os 5 anos de idade é esperado que a criança apresente episódios de micção durante o sono, sendo considerado normal. Já dos 5 aos 7 anos, espera-se até dois episódios semanais, e após os 7 anos de idade, o controle do xixi durante o sono deve ser conquistado como processo do desenvolvimento da criança.
Ainda assim, cada criança tem seu tempo e algumas podem conquistar esse controle muito antes ou depois disso. Portanto, é imprescindível a avaliação por um especialista.
É bom saber que, quando a criança fizer xixi no colchão, o ideal para limpeza é ser feito em local arejado e com produtos específicos, como detergente neutro. A exposição ao sol não é o ideal, porque o calor junto com a gordura corpórea impregnada nesse item pode facilitar a proliferação de ácaros e microrganismos causadores de doenças.
Por isso, os protetores de colchão e travesseiros impermeáveis em formato de capas devem ser utilizados, a fim de evitar que a umidade alcance tanto colchões como travesseiros.
Fontes: Caroline Peev, coordenadora do pronto socorro do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo; Joana Portela, médica pediatra do HU-UFMA (Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão), ligado à Rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Ubirajara Barroso Jr., médico urologista em São Paulo e Salvador.
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