Estudo mostra como células respondem à covid e pode beneficiar tratamentos
O vírus da covid-19 tem estratégias diversas para infectar células de diferentes regiões do corpo humano. Uma pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e instituições parceiras traz novas respostas sobre como esse vírus age e mostra que ele modifica proteínas, alterando desde a estrutura das células até processos biológicos particulares como a produção de energia.
Publicados na quarta (27) na revista Scientific Reports, os achados avançam a pesquisa na área e podem servir para formular novos medicamentos e tratamentos para a covid-19.
Para entender o processo de infecção causado pelo Sars-Cov-2, os pesquisadores mapearam o conjunto total de proteínas de diferentes células, com o uso de uma ferramenta chamada proteômica. Ao todo, foram mapeadas mais de 3 mil proteínas de nove diferentes tipos celulares infectados pelo vírus, incluindo células do cérebro, do sangue, do sistema digestivo e do tecido adiposo, que armazena gorduras.
No total, os estudiosos encontraram 1.652 proteínas que tiveram sua produção aumentada ou diminuída em resposta à infecção. Além disso, eles descobriram que a infecção afetou 151 reações bioquímicas que processam proteínas e outras moléculas para manter nosso corpo funcionando corretamente.
O trabalho demonstra que, durante a infecção, o vírus causa um desbalanço na produção de proteínas de cada célula, em diferentes células do corpo humano. Quando isso acontece, as funções biológicas relacionadas a essas proteínas ficam desreguladas, prejudicando o funcionamento do corpo.
Cada tipo celular apresentou seu próprio perfil de proteínas e atividades biológicas alteradas. Enquanto algumas células tiveram alterações mais significativas em processos de transporte celular, outras apresentaram mudanças na estrutura celular, por exemplo. Isso aprofunda o conhecimento sobre a forma como o vírus da covid-19 infecta cada tipo de célula do organismo humano. Daniel Martins-de-Souza, coautor do estudo, explica: "Inicialmente, a gente achava que a covid-19 era uma doença respiratória. Depois, a gente viu o quão versátil o vírus é, porque ele é capaz de invadir outros tipos celulares".
Apesar da singularidade de cada célula, um processo se mostrou alterado em todos os tipos celulares analisados: o metabolismo energético, ou seja, a forma como as células produzem e lidam com a energia.
De acordo com o estudo, esse pode ter sido um mecanismo usado pelo vírus para se multiplicar dentro do corpo e garantir sua sobrevivência. "O vírus toma conta da maquinaria celular e passa a usar o mecanismo de produção de energia para ele próprio se replicar, podendo prejudicar ou, até mesmo, esgotar a célula", explica o pesquisador.
Para Martins-de-Souza, entender as respostas específicas que o vírus ativa em cada tipo de célula é essencial para formular tratamentos mais especializados ou focados nas sequelas da Covid-19, que dependem da célula infectada. "Saber o que afeta uma célula hepática, por exemplo, é importante para tratar pessoas que desenvolveram problemas hepáticos por causa da infecção do Sars-Cov-2, e assim por diante".
O estudo abre caminho para futuras pesquisas que investiguem os mecanismos de ação do vírus. Para ajudar em futuros projetos, o grupo de pesquisa da Unicamp desenvolveu uma ferramenta virtual que permite acessar cada proteína individualmente e verificar como ela foi alterada em cada uma das células. Esse banco de dados pode ser usado por diferentes grupos de pesquisa.
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