Ela entrou na menopausa aos 16 anos após perder os ovários: 'Fase de luto'
Aos 4 anos, a estudante Júlia Micaelly Ribeiro Carvalho, 19, já tinha sinais no corpo que a diferenciava de outras meninas da sua idade. Suor com odor forte, pelos nas regiões íntimas e uma estatura acima das outras meninas eram os principais.
Os pais percebiam essa diferença, mas a falta de informação fez com que eles não buscassem ajuda médica.
"Quando tinha 7 anos, a mãe de uma amiguinha de escola estranhou o meu corpo e falou com a minha mãe. Foi quando ela decidiu me levar a um ginecologista", recorda Júlia.
O diagnóstico foi de puberdade precoce. Júlia já tinha produção hormonal como uma garota de 12 anos, seus ovários já tinham folículos e ela começaria a menstruar em algumas semanas.
"Na mesma semana em que recebi o diagnóstico comecei a fazer tratamento com hormônios para retardar a minha menstruação, foi um susto enorme porque eu era uma criança. Com os medicamentos conseguimos atrasar esse processo em cinco anos, e menstruei pela primeira vez aos 12 anos", diz a estudante.
Aos 14 anos, mais um susto. Júlia conta que um dia acordou de madrugada com dores abdominais intensas e precisou ser levada ao hospital. Após ser medicada diversas vezes e nada amenizar as dores, a família desconfiou que algo mais grave pudesse estar acontecendo.
"Sentia como se tivesse um líquido vazando dentro da minha barriga, mas o hospital era precário e não deu muita atenção. Vendo a situação, minha mãe pagou uma clínica para que eu pudesse fazer um ultrassom", conta.
O resultado foi: o ovário da estudante havia se rompido e ela estava tendo uma hemorragia.
Júlia foi internada às pressas e no mesmo dia passou por cirurgia. No procedimento foi necessário retirar os dois ovários da estudante, como consequência ela pararia de ovular e entraria na menopausa.
"Foi uma fase muito difícil porque meu sonho sempre foi ser mãe e na minha cabeça aquilo significava que eu não poderia mais. Me sentia menos mulher e passei por uma fase de luto", detalha.
Para realizar o sonho, Júlia conta que a mãe fez o congelamento de óvulos que serão doados a ela para uma FIV (fertilização in vitro) que será feita futuramente.
"Muitas pessoas falam que não sou mais mulher de verdade, me sinto como se fosse inválida. Por isso decidi contar minha história na internet para encontrar mulheres que passaram por situações como a minha e também para mostrar que não é o fim", diz.
O que é a puberdade precoce e por que ela acontece
A puberdade precoce é quando os níveis de hormônios sexuais aumentam antes da idade esperada e causam as transformações no corpo da criança antes da idade habitual: 8 anos nas meninas e 9 anos nos meninos.
Esse aumento de hormônios pode acontecer porque o cérebro aumenta a produção de substâncias que estimulam os ovários ou os testículos a produzirem-nos, ou por outras causas que geram produção aumentada, como tumores ou por alterações de funcionamento de glândulas.
"Outros fatores são influências genéticas, exposição a produtos químicos ambientais, obesidade infantil e condições médicas subjacentes, como tumores ovarianos ou distúrbios hormonais", explica Thiago Artioli, endocrinologista pediátrico da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
A puberdade precoce, quando não acompanhada e tratada, pode ter impacto na maturidade óssea, levar à baixa estatura, aumentar risco de cânceres de mama e endométrio, obesidade, hipertensão e diabetes.
Somando-se a isso, a criança ainda pode ter problemas psicológicos e sociais.
"Ter o corpo mais desenvolvido quando comparado a outras crianças da mesma idade pode fazer com que ela se sinta diferente, causar constrangimento fazendo com que ela se isole", explica a ginecologista Erika Krogh, membro da Comissão de Ginecologia Infanto Puberal da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Puberdade precoce leva à menopausa precoce?
Os especialistas ouvidos por VivaBem afirmam que a puberdade precoce não ocasiona a menopausa precoce, quando um acompanhamento médico é feito ao longo da vida e há reposições e controle hormonais adequados. No entanto, quando esse acompanhamento não é feito, pode ocorrer.
Causas genéticas, doenças autoimunes, infecciosas, danos ao tecido ovariano por cirurgia ou retirada dos ovários e tratamentos contra o câncer como quimioterapia e radioterapia podem ocasionar a menopausa precoce.
Os principais sintomas da menopausa são a parada da menstruação, ondas de calor, secura vaginal, alterações de humor, de sono e perda de massa óssea.
O tratamento é a reposição hormonal, se não houver contraindicação —neste caso, existem outras medicações que podem ajudar no controle dos sintomas. Além disso, é importante investigar se há uma causa para a menopausa precoce que precise de tratamento.
"Outras frentes indispensáveis para as mulheres com menopausa precoce são o acompanhamento psicológico, o cultivo de um estilo de vida saudável e conversar sobre opções de planejamento de filhos, como, por exemplo, com técnicas de reprodução assistida", acrescenta Helga Marquesini, sexóloga e ginecologista do Sírio-Libanês (SP).
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