Peso e proteínas alterados: estudo mostra efeitos de sete dias de jejum

A prática milenar de se abster de alimentos por períodos específicos tem sido uma parte essencial de diversas culturas e tradições religiosas ao longo de milhares de anos. No entanto, até recentemente havia uma compreensão limitada sobre as implicações biológicas do jejum prolongado.

Entretanto, um estudo, publicado no periódico Nature Metabolism no dia 1 de março, elucidou algumas questões, mostrando que além da redução do peso, o jejum também altera diversas proteínas que desempenham papéis fundamentais no corpo humano.

A pesquisa revelou que essas alterações sistêmicas no corpo só se tornam evidentes após três dias de restrição alimentar, o que ocorre em um momento posterior ao que se pensava anteriormente, conforme afirmou em comunicado a epidemiologista Claudia Langenberg, uma das autoras do artigo.

Como a pesquisa foi feita

Os pesquisadores recrutaram 12 voluntários saudáveis e com leve sobrepeso, sendo 7 homens e 5 mulheres. Eles permaneceram em jejum absoluto, recebendo apenas água.

Os participantes foram monitorados diariamente quanto a alterações nos níveis de 2.923 proteínas no sangue.

Insulina, ácidos graxos livres, glicose, lipídios, enzimas hepáticas, hormônios tireoidianos e nitrogênio urinário também foram dosados.

Quais foram os resultados

Conforme o esperado, a queima de gordura corporal como fonte de energia resultou em uma perda média de peso de 5,7 kg ao final do experimento.

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Não houve diminuição significativa da gordura visceral, que está associada a um maior risco de doenças cardiovasculares.

Após cerca de três dias de jejum, aproximadamente uma em cada três das proteínas analisadas apresentou mudanças em todos os principais órgãos.

Foi descoberta, por exemplo, uma redução significativa nos níveis de uma proteína chamada SWAP70 no sangue, especialmente no sexto dia de jejum. De acordo com os autores do artigo, isso pode explicar, pelo menos em parte, por que os pacientes com artrite sentem alívio da dor durante o jejum prolongado. Durante o experimento, a proteína HYOU1, que está ligada à doença arterial coronariana, também foi reduzida.

É como se o corpo tivesse passado por ajustes, corrigindo alguns elementos. Essas mudanças indicam uma possível melhora na saúde, pois algumas proteínas podem estar relacionadas a doenças. Elane Hortegal, nutricionista doutora em saúde coletiva e professora da UFMA (Universidade Federal do Maranhão)

Esses resultados, inclusive alterações de proteínas que diminuem a função reprodutiva, indicam uma adaptação evolutiva, conforme aponta a pesquisadora Ana Bonassa, doutora em ciências com foco em fisiologia humana pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo).

"Elas são consequência de milhares de anos com o meio ambiente selecionando características que conferem mais vantagem para que os indivíduos sobrevivam e gerem mais descendentes", afirma Bonassa.

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Mudanças negativas e falta de dados

Por outro lado, também foram vistas mudanças consideradas negativas como aumento de proteínas que favorecem a trombose e a perda de massa óssea. De acordo com as pesquisadoras ouvidas por VivaBem, é preciso cautela sobre os achados relatados pelo experimento, que apresenta limitações quanto ao tamanho e homogeneidade étnica da amostra estudada (apenas 12 pessoas, todas da Europa).

Acredito que seja prematuro associar a prática do jejum à redução do risco de doenças, uma vez que não temos certeza se as alterações nas proteínas relacionadas aos fatores de risco persistem a longo prazo. Além disso, ainda não compreendemos completamente a relevância clínica dessas modificações nas proteínas. Ana Bonassa, doutora em ciências com foco em fisiologia humana pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP

A nutricionista Nidia Denise Pucci, que acompanhou pacientes que realizaram greve de fome voluntária por 46 dias no Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) em 1998, alerta que o jejum prolongado pode causar atrofia intestinal e redução da imunidade, além de fraqueza, tontura e mal-estar.

"Pessoas devem ter cautela ao usar o jejum como uma estratégia para perda de peso, pois dependendo de suas condições clínicas, pode haver complicações", destaca Pucci, que é doutora pela FMUSP e atua como nutricionista no Instituto Central do HC.

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