Por que é comum mulheres fazerem xixi na calça durante exercícios físicos?
De VivaBem, em São Paulo*
07/04/2024 04h00
A incontinência urinária costuma ter situações específicas para marcar presença na vida das mulheres. Sexo, parto e...? Exercício físico. Sim, cerca de 50% das praticantes de esportes competitivos que se dedicam a treinos frequentes e intensos têm escapes de urina durante a prática. E, não, não é preciso ser atleta profissional para vivenciar a situação.
Enquanto os homens têm, em média, de 12 a 14 centímetros de uretra — já que ela acompanha toda a extensão do membro masculino — as mulheres têm apenas 2,5 centímetros de percurso, que vai da bexiga até a parte externa.
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É por causa dessa diferença de medidas que, dos cerca de 10 milhões de brasileiros com incontinência urinária, a minoria é do sexo masculino. Homens, em geral, só sofrem do problema quando, por exemplo, passam por uma cirurgia de próstata, que tem como um dos riscos esse efeito colateral.
O que fazer?
Assim como se fortalece membros superiores e inferiores, é necessário fortalecer outras partes do corpo para dar conta de aguentar os exercícios físicos mais pesados. Isso porque determinadas modalidades podem acabar enfraquecendo a região da vulva e a própria uretra.
Modalidades como as corridas de longa distância, a ginástica olímpica, a cama elástica, os esportes de quadra em geral, a musculação e, por último, o crossfit são as principais dentre aquelas que podem ocasionar escapes de urina.
Por isso, existe, hoje, um campo da ginecologia dedicado apenas aos impactos do esporte na saúde íntima. Inclusive, essa ramificação só surgiu porque profissionais da saúde que também eram esportistas notaram várias pacientes jovens com perda involuntária de urina. O que existia em comum entre elas? Praticavam muito exercício.
Sobrecarga
A atuação da ginecologia do esporte vai além da prevenção e do tratamento da incontinência urinária. Seus especialistas ajustam, por exemplo, o ciclo menstrual de uma atleta conforme o calendário de competições. A TPM, que pode provocar faltas no esporte coletivo, por exemplo, é até desejável para uma lutadora.
No entanto, a incontinência nunca é bem-vinda e geralmente acontece por causa da sobrecarga. Assim como os joelhos e outras articulações devem aguentar seis vezes o peso do corpo em cada passo da corrida — usando essa modalidade como exemplo —, o assoalho pélvico também precisa suportar uma carga multiplicada.
Afinal, ele engloba diversos músculos. Impossível não citar um deles, fundamental, que é o elevador do ânus. Há ainda o hiato genital, o rasgo feminino que abriga três buracos— o ânus, a vagina e a uretra. Esta, por sua vez, é complexa, formada por vasos, músculos e tecidos conjuntivos.
Juntos, eles provocam um aperto que impede o menor pingo de escoar sem controle.
Todo esse conjunto pode se enfraquecer ao fazer força exagerada, como ao levantar halteres, por exemplo, ou dar um salto para arremessar uma bola. O efeito é uma pressão interna dos órgãos sobre a região, em que útero, bexiga e outros órgãos pressionam sem parar o assoalho pélvico.
Neste caso, a frouxidão pode transformar aquela uretra, que em matéria de tamanho nunca foi grande coisa, em um caminho mais curto ainda. É quando o escape de urina ocorre.
Fatores de risco
Em quadros mais extremos, a bexiga e o útero podem cair. Gestação é outro fator a ser considerado. Por isso, no caso das esportistas, muitas vezes a incontinência aparece por volta dos 40 anos, quando a mulher já teve um ou mais filhos. Já na menopausa, a baixa de estrogênio dificulta o enrijecimento da musculatura ao redor da uretra.
Por isso, fazendo ou não esportes, a dica é contrair os músculos pélvicos algumas vezes por dia desde a adolescência. O ideal seria repetir o movimento de quem quer segurar o xixi e o cocô dez vezes, sustentando cada contração por alguns segundos.
As esportistas podem (e devem) contrair o assoalho desse jeito até mesmo durante os treinos. Para elas, a fisioterapia é bem-vinda quando já há qualquer perda de urina.
Fonte: Zsuzsanna Ilona Katalin de Jármy Di Bella, uroginecologista e professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
*Com matéria publicada em 22/02/2018, no blog de Lucia Helena.