Joanete causa dor e, se grave, deforma o pé, mas tem tratamento eficaz?
Conhecido popularmente como joanete, o hálux valgo é um desvio ósseo em que o primeiro dedo do pé se desloca para a lateral enquanto o metatarso, um dos principais ossos do pé, que se liga às falanges e aos ossos do tornozelo, se move para parte interna, causando deformidade e relatos de dor.
"Em casos de processo inflamatório agudo, a região afetada chega a apresentar vermelhidão e aumento do volume, com formação de bursa [pequena bolsa cheia de líquido]", descreve Gabriel Albuquerque, ortopedista e chefe da unidade de ortopedia e traumatologia do Hospital Universitário da Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco), em Petrolina (PE), ligado à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).
Além disso, de acordo com ele, é comum ocorrer o surgimento de calosidades devido ao atrito com os calçados ou ao contato entre o hálux —o dedão do pé— e o segundo pododáctilo, como são chamados tecnicamente cada um dos dedos.
"À medida que a deformidade do joanete progride, é possível ocorrer a sobreposição do hálux (dedão do pé) sobre o segundo pododáctilo (dedo do pé), resultando em uma deformidade em forma de garra. Os sintomas e a área afetada variam conforme a gravidade e o estágio do joanete em cada indivíduo", descreve Albuquerque.
Com prevalência entre mulheres com mais de 60 anos, o joanete pode se desenvolver, também, durante a adolescência.
Entre os fatores que as levam a apresentar mais joanetes, cerca de quatro vezes mais, estão os calçados inadequados —com salto alto, bico fino ou muito apertados que exercem pressão excessiva sobre os dedos.
A predisposição genética também está entre as causas do joanete, relacionada ao cromossomo sexual feminino.
"A causa exata dessa incidência mais elevada ainda não foi totalmente esclarecida e mais pesquisas são necessárias para uma compreensão completa do motivo pelo qual o distúrbio afeta mais as mulheres. Entre as vertentes teóricas existentes, uma delas aponta que os fatores hormonais podem desempenhar um papel, aumentando a hipermobilidade articular nelas", explica o ortopedista do HU-Univasf.
Doenças inflamatórias sistêmicas, como a artrite reumatoide, que acomete as articulações dos pés em mulheres duas vezes mais do que os homens, hipermobilidade articular, deformidade colapsante progressiva do pé e alterações no desenvolvimento elevam o risco de desenvolver joanetes, assim como a prática de atividades físicas específicas, como o balé.
Como tratar? É só com cirurgia?
Muitos toleram a aparência alterada e só buscam especialistas quando há quadros de dor, no entanto, quanto mais cedo se iniciar o tratamento, as chances de agravamento são reduzidas.
Fisioterapia, órteses e cirurgias estão entre as opções disponíveis para cuidar do problema.
"O diagnóstico precoce é sempre melhor a fim de evitar um procedimento cirúrgico, visto que por ser uma deformidade, não há como prevenir", explica Alexandre Penna Torini, ortopedista e traumatologista, oncologista cirúrgico e de cirurgia do quadril da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Ter orientações sobre o uso de calçados confortáveis e adequados, que proporcionem espaço suficiente para os dedos e não ocasionem pressão excessiva, são fundamentais para afastar a disfunção, além de consultar-se com ortopedista se houver alteração, dúvida, algo que fuja do normal e, principalmente, se existir predisposição genética, com casos na família, a fim de ter ciência de medidas preventivas adicionais.
"A terapêutica inicial envolve o uso de medicação para controle dos sintomas, como analgésicos e anti-inflamatórios. O uso de espaçadores é recomendado para aliviar a pressão sobre o joanete, em alguns casos. No entanto, a cirurgia pode ser indicada a fim de reduzir a deformidade e aliviar os sintomas", explica Albuquerque.
O tratamento conservador não corrige o joanete, afirma Antônio Alício, vice-presidente da ABTPé (Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé) e médico ortopedista em Alagoas.
"O uso de órteses apenas alivia a dor durante um período. Se a pessoa volta a usar calçados apertados, o atrito na região retorna e, consequentemente, a dor. Às vezes, fazer a cirurgia numa fase precoce é muito bom para evitar intervenções maiores", afirma.
Embora pareçam ser uma solução promissora, de acordo com Albuquerque, os dispositivos indicados para uso durante a noite e sem sustentação de peso, na prática, não têm se mostrado eficazes.
"Não há evidências que comprovem a eficácia dos dispositivos corretores, como os splints ou talas, que têm como objetivo reposicionar o dedão do pé para permitir a adaptação dos tecidos moles e retardar o agravamento. É importante ressaltar que cada caso é único, com variações na resposta ao uso."
Existem técnicas cirúrgicas diferentes para cada grau do joanete: leve, moderado e grave. A boa notícia é que a técnica para a correção evoluiu com novas abordagens minimamente invasivas, com incisões e cicatrizes menores, reduzindo o trauma cirúrgico e com reabilitação mais rápida.
Chamada de percutânea, a operação é feita por meio de pequenas incisões e o pós-cirúrgico implica no uso de curativo que limita o uso de calçados comuns.
Há a liberação para pisar no chão, no entanto, o curativo impede, por exemplo, o uso de um tênis ou um calçado comum. Em geral, usa-se uma sandália especial com solado rígido, a Augusta, por 6 a 8 semanas até retomar suas atividades, inclusive atividade física.
Nos casos graves em que o joanete já está bem avançado, aquele em que o dedo já subiu no outro, com muita calosidade e os demais dedos já se deformaram como uma garra, o vice-presidente da ABTPé explica que se faz uma artrodese do dedão do pé, em que ele é fixo em uma posição com o uso de um parafuso para travar o movimento. Assim, a pessoa consegue calçar bem um sapato, mas com limitações porque o dedo fica fixo no mesmo local.
A pergunta que os pacientes mais fazem é se após a cirurgia o joanete pode regressar. Sim, mas o risco de recidiva é baixo. Em torno de 5% a 8%. E, entre as complicações, está o edema, com a demora do pé em desinchar. Antônio Alício, vice-presidente da ABTPé (Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé)
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