Engolir moeda e ímã para aumentar zinco e ajudar na musculação faz sentido?

Virou notícia internacional: um homem de 26 anos em Nova Déli (Índia), engoliu 39 moedas e 37 ímãs por acreditar que o zinco, um componente desses objetos, poderia ajudá-lo na musculação. Passados 20 dias, ele acabou hospitalizado em estado grave, sem conseguir se alimentar, e precisou passar por uma cirurgia.

"De vez em quando aparecem casos assim, como também usar moedas em contato direto com a pele para aumentar a absorção de zinco. No entanto, não há base científica para apoiar tais crendices", informa Patrícia Santiago, médica pela UEA (Universidade do Estado do Amazonas) e pós-graduada em nutrologia.

Segundo Santiago, o zinco é um mineral que pode ser absorvido principalmente por meio da ingestão, mas não da forma como buscou o rapaz na Índia, apontado como em tratamento psiquiátrico. "A pele igualmente não é uma via eficaz para a absorção de zinco ou de qualquer outro mineral contido em objetos", continua.

Zinco ajuda, se consumido corretamente

Sérgio Pistarino, médico do esporte, explica que uma das principais funções do zinco é facilitar o processo pelo qual o corpo humano constrói as proteínas essenciais para o desenvolvimento e reparo dos tecidos musculares. Ajuda ainda na imunidade, na cicatrização e no funcionamento de enzimas.

"Ele também atua como um super antioxidante, protegendo os músculos do estresse oxidativo que ocorre durante o exercício e desempenha um papel crucial na regulação dos hormônios de crescimento e testosterona, ambos igualmente fundamentais para o desenvolvimento muscular", complementa o médico.

Entretanto, consumido errado o zinco é maléfico. "Pode causar intoxicações e esses episódios de vômitos, diarreias, dores abdominais e anemia, por interferir na absorção do ferro", diz Kauê Chinaglia, doutorando em farmacologia com ênfase em toxicologia pela Unicamp.

Nada de engolir moedas e ímãs!

Em 2008, o periódico científico American Journal of Medical Sciences reportou um caso de intoxicação devido à ingestão maciça e prolongada de moedas em um adulto. O farmacêutico Chinaglia esclarece que isso ocorreu devido à corrosão severa pelo suco gástrico, o que possibilitou maior liberação e absorção do zinco.

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"Esse tipo de ingestão acaba sendo comum em crianças, de forma acidental. De forma intencional é possível quando se busca obter benefícios provenientes do zinco. Mas essa prática pode causar lesões e obstruções no trato gastrointestinal, além de oferecer riscos por microrganismos patogênicos", adverte o doutorando.

Quanto à ingestão de ímãs, também é ineficaz para musculação e muito perigosa. "Pode causar danos adicionais sérios, como perfuração e infecção se atraírem uns aos outros através do tecido intestinal. Fora os riscos de reação química e asfixia, portanto emergências médicas", alerta Patrícia Santiago.

Turbine seu treino com equilíbrio

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Imagem: iStock

Em se tratando do zinco, que desempenha vários papéis que podem ser benéficos para quem pratica exercícios físicos regularmente, saiba que ele pode ser obtido basicamente por meio de uma alimentação natural e saudável ou de suplementos —quando necessário e sempre com orientação médica, para evitar complicações.

Incorpore na dieta alimentos que contenham esse mineral, como carnes, peixes, laticínios, legumes e grãos integrais, indica a nutróloga.

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"A quantidade diária recomendada de zinco para adultos varia, mas geralmente está em torno de 11 mg para homens e 8 mg para mulheres", acrescenta o médico Sérgio Pistarino, que também sugere algumas fontes de zinco com suas quantidades aproximadas:

Carne Vermelha (100 g): cerca de 7 mg de zinco

Frango (100 g): aproximadamente 2 mg de zinco

Peixe (salmão - 100 g): cerca de 0,5 mg de zinco

Lentilhas (1 xícara cozida): cerca de 1,3 mg de zinco

Nozes (um punhado): cerca de 2-3 mg de zinco

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Porém, Pistarino informa que em casos de treino intenso e objetivos específicos, essa necessidade pode ser maior.

"Além disso, o ganho de massa muscular e o desempenho atlético não dependem exclusivamente do zinco. Outros nutrientes cruciais para esses objetivos incluem proteínas, carboidratos, gorduras saudáveis, vitaminas do complexo B, vitamina D, ferro e magnésio", conclui. Mas já sabe: nada de sair por aí pensando em engolir moedas e imãs para arrasar no treino.

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