Brasileiro ex-lutador de UFC treina com eletrodos 'inspirado' em 'Rocky 4'
Houve um tempo em que a eletroestimulação muscular era vista como uma técnica relegada à fisioterapia ou até mesmo uma picaretagem pura e simples, divulgada por influenciadoras fitness, atrizes e lojas que vendem produtos "milagrosos" na TV.
Mas o jogo mudou. A eficácia do método foi comprovada cientificamente e a eletroestimulação muscular ganhou espaço na rotina de atividade física de muitos praticantes amadores que buscam "desempenho" e até de esportistas de alto rendimento, como o brasileiro com maior número de lutas vencidas no UFC, o paulistano Demian Maia, que usa a tecnologia para potencializar sua preparação física.
É uma evolução e tanto dos primeiros anos, ainda no século 20, quando o produto foi lançado e patenteado por empresas russas e depois ganhou o mundo. É de se supor que a preparação high tech do vilão do filme "Rocky 4", o gigante soviético Ivan Drago, teve eletroestimulação no "combo".
No filme, os eletrodos —como os usados no treino com eletroestimulação— aparecem atados ao corpo de Drago numa sequência famosa, mas talvez a maior lembrança dos espectadores seja a injeção de uma substância misteriosa em seu ombro. Não adiantou: mesmo fazendo treino 100% old school, Rocky Balboa ganhou do monstrão russo por nocaute.
Sessões em treinamento funcional
De volta à eletroestimulação no Brasil, a rede de estúdios Tecfit, criada em 2017, é a ponta mais visível, com 51 unidades em 22 cidades de 12 estados diferentes.
Nas sessões de 20 minutos de treinamento funcional, as cargas elétricas atuam sobre todos os grandes grupos musculares, trabalhando pernas, braços e tronco, incluindo aí a região do core.
Os alunos vestem um colete, suporte para as terminações que distribuem a corrente elétrica. Mesmo quando o exercício praticado trabalha apenas os quadríceps (músculo da coxa), digamos, os eletrodos seguem estimulando vários outros músculos simultaneamente. Essa é uma das mais propaladas vantagens dessa nova geração de eletroestimulação.
Há cabos que ligam o colete a uma central de força. A extensão desses fios impede que os alunos se movimentem excessivamente —eles não podem deixar a sala, por exemplo.
A rede utiliza equipamentos da marca húngara XBody, que tem Felipe Castro, dono e criador da Tecfit, como seu distribuidor exclusivo no Brasil.
Foi esse paulistano nascido no Rio que se aproximou dos húngaros, e não o contrário. Egresso do mercado financeiro, ele empreendeu na Colômbia —ali criou e manteve uma rede de butiques de depilação— antes de abrir a Tecfit.
O aluno que a rede procura preferencialmente é sedentário, alguém com pouco ou nenhum contato com malhação. A mensagem de que a academia "não tem pesos", que bastam duas sessões de 20 minutos por semana para obter resultados, e de que as aulas são com turmas muito reduzidas, quase privativas, sem a exposição natural de uma "gym", parece seduzir esse "target".
Não à toa, as pessoas que treinam nos estúdios da Tecfit se dispõem a pagar R$ 800 mensais por duas sessões semanais ou R$ 1.100, para treinar três vezes na semana.
Armada espanhola
No mercado brasileiro deste 2018, a WiemsPro Brasil não tem estúdios próprios e conta com tecnologia espanhola. Diferentemente dos coletes da XBody, os espanhóis são wireless, e as imagens de pessoas correndo em espaços abertos no site não deixam dúvida desse diferencial competitivo.
O modelo de negócio da WiemsPro é diferente do da Tecfit, assim como seu público-alvo, mais abrangente. A marca espanhola busca conquistar desde iniciantes, inclusive sedentários, até pessoas bem condicionadas e atletas, que desejam aperfeiçoar ou incrementar seu treinamento.
Para alcançar as pessoas que visam alta rendimento esportivo, a WiemsPro tem atletas renomados como influenciadores. Na Espanha, Dani Carbajal, lateral-direito do Real Madrid, por exemplo. Aqui, Demian Maia, maior vencedor brasileiro de lutas do UFC.
Maia, especialista em jiu-jítsu, pratica duas vezes a eletroestimulação em São Paulo e disse a VivaBem que pretende fazer a atividade "para sempre".
Senti muita melhora, principalmente de prevenção de lesões, tanto por conta da eletroestimulação como por conta dos treinos acoplados a ela. Estou fortalecendo grupos musculares menos óbvios. Acho que minha resistência aumentou bastante. Melhorou também minha força isométrica, que já era boa.
Demian Maia, lutador
Demian chama a atenção para a importância de um profissional de educação física que entenda as cargas necessárias e os exercícios em que elas são aplicadas. "O treino de eletroestimulação depende do profissional que vai passá-lo. Isso é central. Ele é que vai fazer nossa preparação física ser potencializada pela eletroestimulação."
Xavier Iglesias decidiu não atrelar a expansão de sua marca a uma rede própria de estúdios, preferindo capacitar treinadores e fisioterapeutas, que podem comprar os equipamentos e utilizá-los de maneira independente em academias ou mesmo na casa de seus alunos.
Parceria com rede de academias
Há também um acordo com a BioRitmo. Seis academias paulistanas da rede dispõem dos coletes.
A VivaBem, o empreendedor destacou as possibilidades da "ferramenta". Ao longo das sessões, ele disse, devem ser utilizadas cargas elétricas diversas para estimular fibras musculares distintas (de contração curta, de força; de contração lenta, próprias para resistência).
A escolha e a duração dos exercícios são combinados a intensidades elétricas diferentes para melhoria dos resultados.
Um maratonista, por exemplo, pode optar por "atacar" as fibras de contração lenta de suas pernas, enquanto o lutador de jiu-jítsu pode reforçar o treinamento do abdome.
Como é o treino? Segundo Iglesias, as aulas ministradas por educadores capacitados pela WiemsPro seguem esta sequência:
Aquecimento, com emprego de carga elétrica mais baixa;
Fase de treinamento, quando a carga sobe de acordo com as necessidades de cada aluno;
Fase de relaxamento, novamente com cargas baixas.
A partir de abril, o equipamento irá contar com um programa desenvolvido por IA para otimizar os treinamentos durante a sequência de aulas.
Já o salto tecnológico que Felipe Castro quer dar na Tecfit diz respeito aos coletes. Ele diz que, em breve, não será mais necessário molhá-los antes do exercício, o que é feito para melhor distribuição da corrente elétrica. Ele aposta que isso vai incrementar a experiência do usuário.
Higienização e aromatização dos coletes são fundamentais para o empresário, assim como o cuidado com o vestiário de seus estúdios.
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