Demora no diagnóstico: 'Aos 21, já usava muletas e tinha dor o dia todo'
Há quatro anos, a bancária Carmen Santana Espindola, 24, foi diagnosticada com uma crise de estresse que a fez ficar uma semana internada. Como sintomas ela teve movimentos involuntários, rigidez muscular e ficou com um lado do corpo paralisado. Após os dias de tratamento, ela teve alta médica e pôde retomar à sua rotina.
No ano seguinte, seis meses após contrair covid-19 e ser internada duas vezes para tratar os sintomas, a bancária ainda sentia muitas dores nas articulações, principalmente no quadril, e um cansaço que não passava.
As dores começaram a limitar a vida de Carmen, que sentia dificuldades para abaixar, e ela passou a precisar do auxílio de bengala para andar.
A minha mobilidade foi ficando cada vez mais comprometida. Passei a buscar médicos e todos me diziam que era sequela da covid-19. Carmen Santana Espindola, bancária
Após passar por dezenas de consultas com reumatologistas e ortopedistas, o único diagnóstico que ela tinha é de que estava com desgaste no quadril, mas ninguém apontava uma causa, segundo ela.
"Em 2022, tinha 21 anos, já usava muletas e tinha dor o dia todo. Não conseguia trabalhar e ter uma vida normal", recorda.
Na busca por mais qualidade de vida, Carmen foi submetida a uma cirurgia para a colocação de uma prótese no quadril. Após o procedimento, ela passou a se locomover com menos dificuldade.
No entanto, a rigidez no corpo não desapareceu e ela continuou a buscar por respostas passando por mais consultas com diversos profissionais.
Em outubro do ano passado, após se consultar com mais de 10 médicos e fazer diversos exames, finalmente veio o diagnóstico: espondilite anquilosante.
"Apesar de ser uma doença que choca por não ter cura, fiquei aliviada porque estava apenas remediando os sintomas e não tratava a doença em si", diz.
O que é a espondilite anquilosante?
A espondilite anquilosante é uma doença inflamatória crônica que atinge as articulações, principalmente, da bacia e da coluna. Ela pode comprometer também o quadril, o joelho e o tornozelo, fazendo com que o paciente tenha dificuldade de mobilidade e flexibilidade.
"Além do aparelho locomotor, esta condição também pode afetar outros órgãos como olhos, coração, pulmões e, ocasionalmente, a pele", explica Roberto Heymann, reumatologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).
Ainda não se sabe exatamente a causa, mas acredita-se que haja uma combinação entre fatores genéticos, imunológicos e ambientais.
"Acredita-se que a exposição a certos fatores ambientais ou infecções, e a exposição a microrganismos que afetam o microbioma gastrointestinal ou urogenital, podem servir de gatilho para despertar uma resposta imune anormal em indivíduos geneticamente predispostos", acrescenta Heymann.
Jovens do sexo masculino e brancos são mais afetados pela doença do que mulheres e negros. Os sintomas, normalmente, começam na adolescência ou próximo aos 20 anos.
A razão para essa predisposição do gênero masculino não é totalmente compreendida, mas pode estar relacionada a fatores genéticos, hormonais e ambientais, segundo os especialistas.
Quais os principais sintomas?
Os principais sintomas da espondilite anquilosante são dores e rigidez na coluna, principalmente ao acordar, inchaço nos dedos e tornozelo, e cansaço.
A inflamação das articulações entre as costelas e a coluna pode causar dor no peito e ao redor das costelas que piora com a respiração profunda.
Essa dor geralmente começa nas nádegas e vai com o tempo subindo para a coluna lombar, dorsal e cervical. Ela aparece à noite, quando é bastante intensa e pode melhorar durante o dia. Percival Degrava Sampaio Barros, coordenador do Núcleo de Reumatologia do Hospital Sírio-Libanês (SP)
Essas dores, segundo os especialistas, melhoram com a prática de exercício físico e pioram quando o paciente faz repouso. Algumas pessoas podem ter ainda perda de apetite, de peso e anemia.
Qual é o tratamento?
Por ser uma doença crônica, a espondilite anquilosante não tem cura. Os tratamentos buscam amenizar os sintomas e as dores, dar mais qualidade de vida ao paciente e retardar a progressão da doença.
Além do tratamento medicamentoso com antiinflamatórios não hormonais, é importante que o paciente faça fisioterapia para manter a mobilidade das articulações e preservar a flexibilidade.
Nos casos que evoluem com lesões degenerativas severas nas articulações pode haver a necessidade de colocação de prótese articular.
"A atividade física regular, incluindo exercícios de alongamento e fortalecimento, é crucial para manter a flexibilidade da coluna e não comprometer os movimentos desse paciente", explica Marco Antônio Rocha Loures, presidente da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia).
A alimentação saudável e não fumar ajudam a reduzir a inflamação das articulações.
Além disso, o paciente deve fazer um monitoramento do sistema cardiovascular e circulatório, pois a espondilite é um fator de risco cardiocirculatório.
É importante também que o paciente faça acompanhamento psicológico para que o profissional o ajude a entender algumas limitações que podem ser causadas pela doença.
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