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Corpo emite sinais: como saber há quantas horas uma pessoa morreu?

Análise das características do cadáver permite identificar qual foi a hora da morte Imagem: Getty Images

De VivaBem, em São Paulo

18/04/2024 11h45

O caso de uma mulher que levou um idoso supostamente morto a um banco no Rio para sacar um empréstimo repercutiu até mesmo fora do país. A defesa de Erika de Souza Vieira Nunes disse que o homem estava vivo quando chegou ao local. O laudo de exame de necropsia não confirmou se ele morreu antes de chegar ao banco ou no local.

Como é possível saber quando uma pessoa morreu?

Sinais imediatos à morte. Parada cardiorrespiratória irreversível, ausência de atividade cerebral constatada por pelo menos três exames e avaliação da atividade circulatória são os meios tradicionais de se constatar a morte de alguém.

Uma análise do cadáver deve indicar que horas aconteceu a morte. Características como palidez, rigidez, temperatura corporal e externa são utilizadas para determinar o contexto e detalhes do falecimento. Segundo José Jozefran Berto Freire, presidente da ABMLPM (Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícia Médica), esses parâmetros estão definidos há mais de 300 anos.

A análise das mudanças no corpo após a morte pode revelar detalhes sobre as últimas horas de vida de uma pessoa. Além disso, ajuda a elucidar casos criminais e a compreender eventos que levaram à morte natural ou acidental, complementa Vinicius de Borba Marthental, cirurgião geral do Hospital Edmundo Vasconcelos.

Juntando-se todos esses sinais, você pode fazer um cálculo matemático estatístico e dizer o tempo aproximado da morte.
José Jozefran Berto Freire

Sinais consecutivos à morte

Corpo emite sinais diretos e indiretos. Além da parada cardiorrespiratória irreversível e constatação de morte cerebral, existem outros sinais de que uma pessoa está morta. É o caso da palidez, também chamada de lividez, e da rigidez cadavéricas, por exemplo.

A lividez cadavérica começa a partir de 30 minutos. "Após a morte, a gravidade faz com que o sangue se acumule nas partes mais baixas do corpo, criando manchas arroxeadas ou vermelho escuras. Este fenômeno geralmente começa a aparecer dentro de 30 minutos a 2 horas após a morte", explica Borba Marthental.

A palidez resulta da cessação da circulação sanguínea, fazendo com que o sangue se assente por gravidade em partes baixas do corpo, deixando as áreas superficiais pálidas. O padrão de lividez (manchas) pode indicar se o corpo foi movido após a morte.
Vinicius de Borba Marthental

Rigidez cadavérica tem início depois. "O endurecimento dos músculos do corpo, que começa geralmente entre 2 e 6 horas após a morte, inicia-se nos músculos menores, como os das pálpebras e mandíbula, e depois se espalha para os membros e o resto do corpo. A rigidez geralmente dura até 24 a 48 horas antes de começar a desaparecer", diz Marthental.

Em ambientes muito secos, partes expostas do corpo, como lábios e pontas dos dedos, podem começar a secar e endurecer. As córneas tornam-se opacas e podem aparecer manchas secas, se os olhos permanecerem abertos.
Vinicius de Borba Marthental

Influência da temperatura

A temperatura corporal diminui com o tempo. Em média, um corpo vivo tem temperatura de 37º C. Em óbito, o resfriamento acontece gradualmente. "O corpo perde cerca de 0,5°C a 1,5°C por hora até se igualar à temperatura ambiente. Esse processo é conhecido por algor mortis", diz Vinícius.

A primeira coisa que se vê é a hipotermia. Na Sibéria ou no deserto do Saara, minha temperatura é mantida pelo controle que o metabolismo corpóreo faz. Quando a gente morre, o metabolismo para. Então, o nosso corpo obedece à temperatura do ambiente.
José Jozefran Berto Freire

A medição da temperatura interna do corpo pode ajudar a estimar o tempo decorrido desde a morte, principalmente nas primeiras 24 horas. A taxa de resfriamento do corpo pode fornecer pistas, mas é influenciada por fatores ambientais e pessoais, como vestimenta e peso do corpo.
Vinicius de Borba Marthental

Temperatura externa influencia. Em dias de calor ou frio extremo, o corpo pode resfriar mais rápida ou lentamente de acordo com a temperatura ambiente. Berto Freire usa como exemplo uma morte no meio do deserto, a 50º C. "A temperatura do cadáver, em vez de cair, sobe."

Processo de decomposição

Primeiras 24 horas. A pele se torna pálida e cerosa à medida que o sangue para de circular, o corpo começa a perder calor, aproximando-se gradualmente da temperatura ambiente. [A rigidez] inicia-se entre as primeiras 2 e 6 horas.

Até 72 horas. Dependendo da temperatura ambiente, a rigidez pode começar a diminuir no final desse período. As manchas de lividez tornam-se fixas, e a coloração púrpura escuro é mais evidente onde o sangue se acumulou. Os processos internos de decomposição começam.

Após 72 horas. A pele pode começar a apresentar alterações de cor, passando por tons de verde e preto, especialmente ao redor do abdômen e nas áreas onde o sangue se acumulou. A atividade bacteriana resulta na produção de gases, que podem causar inchaço do corpo, particularmente no abdômen e nos tecidos faciais.

Ação de insetos. Em uma semana, as larvas começam a se alimentar ativamente dos tecidos moles, acelerando o processo de decomposição. É da decomposição que vem os maus odores, como resultado da ação de bactérias e da liberação de gases como putrescina e cadaverina.

A análise dos insetos e suas larvas encontrados no corpo pode ser extremamente útil, especialmente em intervalos post mortem mais longos. Insetos diferentes colonizam o corpo em diferentes estágios de decomposição, fornecendo uma linha do tempo aproximada.
Vinicius de Borba Marthental

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