Alimentar com luz do sol: a pseudociência que matou bebê 'cobaia de dieta'
Um homem foi preso por deixar o filho recém-nascido morrer de fome, na Rússia. Maxim Lyuty, 44, queria que o bebê vivesse sem leite e comida, apenas com a "luz do sol". O bebê Cosmos, com menos de um mês de vida, tinha cerca de 1,5 kg.
Respiratorianismo é pseudociência
A prática adotada pelo russo é chamada de "respiratorianismo" ou "inédia" e é considerada uma pseudociência, ou seja, sem evidência científica, além de trazer consequências graves à saúde.
Na teoria do respiratorianismo, a pessoa deveria viver sem consumir alimentos e, às vezes, até água, sustentando-se apenas de luz solar, ar ou "energia vital".
Promover a prática pode levar a graves consequências de saúde, desnutrição e até a morte. É irresponsável e perigoso endossar ou praticar tal ideologia, visto que desconsidera décadas de pesquisa científica sobre os requisitos básicos para a saúde e sobrevivências humanas. Esta prática é extremamente perigosa e não possui um embasamento científico independente da idade em que ela vier a ser utilizada. Linus Fascina, gerente médico do Departamento de Pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein (SP)
O médico explica que a nutrição humana necessita da ingestão de alimentos e líquidos para fornecer nutrientes essenciais e energia, sem os quais o corpo humano eventualmente falha em suas funções vitais.
Leite materno é fundamental para bebês
Para um bebê, a alimentação por aleitamento materno exclusivo deve ser mantida até os seis meses de idade, segundo os especialistas.
O que essa família fez não é aceitável, já que é cientificamente comprovado que o leite humano é o alimento padrão ouro para a alimentação dos bebês, ainda mais os recém-nascidos, pela sua qualidade e exclusividade de benefícios. Walter Nelso Cardo Jr, pediatra neonatal e coordenador do Banco de Leite Humano do Hospital do Servidor Público Estadual
O pediatra explica que o leite materno também fundamental para reduzir os riscos do desenvolvimento de algumas doenças crônicas na vida adulta, como diabetes tipo 1 e obesidade, além de auxiliar no crescimento e na proteção contra doenças diversas, como infecções, alergias, diarreias e doenças respiratórias.
Se a mãe não tinha condições de alimentar o bebê via amamentação ou não tinha acesso a um banco de leite, o bebê deveria ter recebido outros tipos de alimentação sob orientação médica para receber hidratação, nutrientes, proteínas e as vitaminas. Walter Nelso Cardo Jr, pediatra neonatal
Depois dos seis meses, por exemplo, o bebê vai começar a precisar de outros alimentos, como frutas, verduras, legumes, carnes, proteína animal, proteína vegetal, segundo Mariana Poggiali, pediatra e integrante da equipe de Neonatologia da Rede Mater Dei de Saúde
Isso, sim, que é importante para a nutrição do bebê e para o seu bom crescimento e desenvolvimento. Mariana Poggiali, pediatra
O que aconteceu
Lyuty admitiu a culpa numa audiência no tribunal, que ocorreu na última semana. Ele alegou que a mãe da criança, Oxana Mironova, 34, teria uma deficiência de ferro e isso causou a morte do bebê.
Ele pode pegar até oito anos de prisão, enquanto a mãe recebeu uma pena em liberdade condicional de dois anos de "trabalho correcional".
O pai do bebê é conhecido por seguir radicalmente o movimento de comer apenas alimentos crus, segundo veículos da imprensa internacional.
A mãe de Oxana Mironova afirmou que o ex-genro seria responsável por dirigir uma seita. "Ele queria fazer experiências com a criança, alimentá-la exclusivamente com o sol e depois anunciar aos outros que é assim que se pode comer", disse a mulher, ao Zvezda News.