O que é hip dips e o que ele diz sobre a pressão estética em mulheres
Acumular mais ou menos gordura em uma região do corpo pode determinar se uma pessoa vai ou não aceitar o que vê no espelho. Além de abdômen, seios, glúteos e coxas, a moda da vez é o hip dips.
Caso você ainda não tenha se deparado com o termo por aí e não saiba do que se trata, o hip dips é uma expressão em inglês que significa "mergulhos do quadril" e se refere à depressão trocantérica, um afundamento entre o quadril e o bumbum.
Ter essa depressão mais evidente faz com que muitas pessoas não tenham o tão desejado corpo violino, com a região dos glúteos arredondada.
O desejo por esse quadril marcado como das irmãs Kardashian tem levado principalmente as mulheres à academia para recorrer a exercícios que torneiam a região e algumas estão se submetendo até mesmo às cirurgias plásticas.
Mas, afinal, por que o hip dips é tão indesejado?
Não adianta malhar
A depressão trocantérica surge de uma combinação da estrutura óssea com o acúmulo de gordura e formação muscular na região. Sendo assim, exercícios físicos não vão conseguir tornear totalmente a área, mas podem atenuar o afundamento.
Segundo a educadora física Gizele Monteiro, exercícios como agachamento, abdução funcional e em máquina ajudam a hipertrofiar o glúteo médio e o tensor da fascia lata - musculaturas da região do hip dips - suavizando a profundidade.
"Se há um acúmulo maior de gordura na região acima do hip dips o afundamento parece ser mais evidente. Assim, junto à musculação, é preciso entrar com um processo de emagrecimento", explica Monteiro.
A busca incessante por tornear o quadril e o glúteo, no entanto, pode levar a lesões provocadas por excesso de exercícios ou execuções erradas.
"Caso a pessoa tenha o joelho em X, ou seja, para dentro, por exemplo, é preciso ter um cuidado maior e saber como trabalhar a região do quadril para não causar tendinites e problemas no próprio joelho", diz Monteiro.
Para ela, muitos profissionais de educação física, por prometerem resultados rápidos, acabam não respeitando o biotipo dos alunos e não respeitando seu condicionamento físico. A médio prazo, esse é um prato cheio para lesões.
O exercício é saudável quando a gente entende que ele vai, primeiramente, fazer bem pra nossa saúde. Ele se torna tóxico se se exige do corpo algo que ele não dá conta só para alcançar um padrão estético.
Elânia Francisca, psicóloga e colunista de VivaBem
Cirurgia plástica pode ser opção
Outra forma de diminuir o hip dips é por meio da cirurgia plástica, mais especificamente da lipoescultura.
Segundo o médico cirurgião plástico Alexandre Kataoka, que também é consultor jurídico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o procedimento é o mais indicado uma vez que faz uso da gordura do próprio corpo para preencher o afundamento na lateral do corpo.
A gordura pode ser retirada dos seios, costas, coxas, mas geralmente sai do abdômen.
Há profissionais que fazem uso de preenchedores sintéticos como polimetilmetacrilato e até silicone líquido industrial. Porém, de acordo com Kataoka, eles são contra indicados uma vez que não são absorvíveis pelo corpo.
"A contra indicação se deve ao fato de que os preenchedores sintéticos podem gerar problemas como reações de corpo estranho, como infecções e necroses. O que não acontece quando o preenchimento é feito com a gordura do próprio corpo", comenta Alexandre Kataoka.
A cirurgia não é indicada para qualquer pessoa. Quem está com sobrepeso e obesidade, ou que tenha qualquer problema clínico como câncer, doença renal e diabetes, por exemplo, não pode realizar o procedimento.
Hip dips não é um problema
Saber até onde a vontade de mudar algo no corpo é vontade própria ou apenas uma pressão estética é muito difícil. De acordo com o Google Trends, pesquisas no Google sobre hip dips estão diretamente relacionadas a "hip dips preenchimento valor", "lipoenxertia valor" e "lipoescultura".
Nota-se que a partir do momento que se entende do que se trata, a depressão trocantérica é vista como um problema que deve ser solucionado. O que não é o caso.
O médico Alexandre Kataoka explica, por exemplo, que o hip dips não é nenhum tipo de imperfeição do corpo, trata-se de uma característica normal.
Dessa forma, entender que ele deve ser "solucionado" é algo totalmente social e que fala sobre padrões de beleza e autoestima.
"Nenhuma decisão que a gente toma é puramente desejo nosso. O desejo é construído socialmente. Ter o cabelo longo ou curto é decidido pelo o que a sociedade diz que é um cabelo feminino ou masculino. Eu posso deixar meu cabelo curto dentro do que é aceito para mulheres, por exemplo, e essa escolha acontece no inconsciente", explica Elânia Francisca, psicóloga e colunista de VivaBem.
A gente não consegue lidar muito com as diferenças. A gente olha para o outro e não enxerga os traços que o outro tem, mas sim como eles se encaixam ou não em padrões pré-estabelecidos.
Danielle Braga, psicóloga
Outra pesquisa associada à hip dips no Google é "hip dips em mulher". O afundamento não é algo só do corpo feminino, mas a pressão para mudá-lo parece ser mais forte entre as mulheres.
Uma pesquisa sobre o termo no TikTok mostra que os vídeos mais populares sobre o assunto são de mulheres ou voltados para elas. E isso não é à toa.
"A mulher sempre sofreu mais com pressões estéticas desde que a estrutura social passou a ser patriarcal", explica a psicóloga Danielle Braga. "O dispositivo de gênero vai dizer como deve ser o corpo das mulheres para que ele atenda aos desejos dos homens".
Para realizar um procedimento mais invasivo como uma cirurgia plástica, tanto Braga quanto Francisca falam sobre o acolhimento psicológico que deve ser feito principalmente a mulheres para que elas entendam de onde está vindo esse desejo e o quanto ele não é uma dismorfia corporal, por exemplo.
Para Braga, se blindar das pressões estéticas vindas da internet é muito difícil, mas Francisca traz algumas dicas: "siga perfis de pessoas reais e com corpos diversos e que falem de coisas que não só da estética".
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