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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Além do corpo, anabolizantes afetam saúde mental: 'Fiquei mais agressivo'

José Freire conta que pessoas notaram sua agressividade após uso Imagem: Arquivo pessoal

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

22/04/2024 04h00

A busca incessante pelo corpo perfeito é uma realidade que afeta muitas pessoas. Especialmente entre os jovens, a pressão para se adequar aos padrões pode levar a decisões que fazem mal à saúde física e mental.

Foi o que aconteceu com Robson Silva, 42, e seus dois amigos de Santo André (SP), José Freire, 42, e Helder Nunes, 39, atualmente todos personal trainers. Quando por volta dos seus 18 e 20 e poucos anos, os três relatam que foram incentivados a usarem anabolizantes para alcançarem um físico musculoso.

"No meu caso, eu era muito magro, pesava 55 kg para os meus 1,76 m de altura. Queria ficar forte, comia muito, mas meu corpo não mudava em nada. De tanto rirem da minha magreza na academia, acabei aceitando o conselho para usar esteroides, que mantive por cerca de uns cinco anos", conta Robson.

Além dos prejuízos físicos, alguns usuários de esteroides podem experimentar efeitos colaterais no psicológico, pois essas drogas afetam o cérebro. "São sintomas comuns impulsividade, intolerância, mudança de humor súbita, ciúme patológico, delírios. Se já houver tendência ou transtorno de base, pode piorar muito", afirma Vanessa Greghi, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria Paulista.

"Com o passar do tempo, pessoas ao meu redor notaram que eu fiquei mais agressivo", lembra o personal José Freire, em conformidade com os demais entrevistados. "Passei a ter reações totalmente anormais, como ficar irritado e discutir no trânsito. Também ansiedade, não parava quieto", acrescenta Robson.

Robson SIlva Imagem: Arquivo pessoal

O uso excessivo e sem recomendação de hormônios, como a testosterona, é perigoso sobretudo para adolescentes. "É que amadurecer com foco na imagem facilita transtornos, como vigorexia (busca incessante por um corpo perfeito) e dismórfico corporal (distorção em que se enxerga fraco). Além de distúrbios alimentares, baixa autoestima e uso de drogas ilícitas", esclarece a psiquiatra e professora Raquel Cordeiro, do Unipê (Centro Universitário de João Pessoa).

No Brasil, esteroides anabolizantes são comumente conhecidos entre praticantes de musculação como "bombas" ou "sucos", em alusão a fórmulas fortificantes. Existem vários tipos, mas, em comum, são hormônios sintéticos. "Derivados de testosterona e somatotropina, ou hormônio do crescimento (GH)", explica Alex Meller, urologista e professor na Unifesp (Escola Paulista de Medicina).

Essas substâncias têm a capacidade de estimular a produção de novas fibras musculares e melhorar resistência, força, por isso são utilizadas indevidamente por entusiastas do fisiculturismo. "Usava doses baixas, mas por longos períodos, até que comecei a ter problemas, como diminuição da produção da testosterona normal, pelo organismo, e ginecomastia, aumento das mamas", conta Helder.

O uso para fins estéticos de anabolizantes pode ter consequências graves para a saúde. Isso inclui ainda alterações cardíacas, intoxicação, aumento do risco de doenças crônicas, infertilidade irreversível, que pode afetar até cerca de 20% dos homens que utilizam essas substâncias acima de dois anos, alerta Alex Meller.

Helder Nunes Imagem: Arquivo pessoal

Se começou a usar, não pare sozinho

Quem tenta interromper o uso de esteroides por conta própria está sujeito a outro desafio: enfrentar os efeitos da abstinência. Os sintomas variam e podem ser mais severos para aqueles que consumiram quantidades elevadas por bastante tempo. Helder foi o único dos citados que procurou ajuda médica. "Fui parar e tive queda da libido, fraqueza, perda de peso. Precisei de medicamentos para me estabilizar", conta.

"A descontinuação abrupta de um anabolizante pode levar ainda a alterações no sono e cefaleia", diz a psiquiatra Raquel Cordeiro. Em situações graves, depressão, ideias suicidas, além de colapso do organismo. Por isso, ela indica que se consulte um profissional de saúde para fazer a descontinuação segura. Já o acompanhamento psicoterápico ajuda a trabalhar o mental e o emocional e a evitar dependências.

"Hoje, compreendo que saúde é mais importante que estética e que o processo para chegar ao objetivo é mais importante que o próprio objetivo", diz o personal José, em concordância com Robson e Helder, que recomendam para quem está insatisfeito com o próprio corpo exercícios regulares, paciência, dieta saudável, descanso e cautela com promessas de resultados rápidos e sem nenhum esforço.

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