Quais os efeitos dos cremes antirrugas na pele de crianças e adolescentes?
Marcelo Testoni
Colaboração para VivaBem
24/04/2024 04h05
Foi-se o tempo em que as crianças só aplicavam no rosto aquelas maquiagens em formato de moranguinho. Hoje, elas analisam cuidadosamente prateleiras de lojas de cosméticos e buscam nos celulares por hashtags como #SephoraKids ou #Childskincare, trends do TikTok que somam milhões de publicações pelo mundo.
Devido à influência das redes sociais e à pressão relacionada à imagem e beleza, cada vez mais tem se observado em consultórios um aumento significativo no número de crianças e adolescentes que utilizam produtos de cuidados com a pele, o famoso skincare.
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Essas escolhas, no entanto, não são isentas de más consequências.
Simone Neri, dermatologista com experiência pelo Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco (SP), afirma que o autocuidado faz parte da autoestima e deve ser incentivado desde cedo, desde que sejam utilizados produtos adequados para idade e tipo de pele.
O foco desse cuidado tem sido equivocado. Crianças jamais deveriam se preocupar com envelhecimento, antes ensinadas sobre saúde".
Pele delas é naturalmente saudável
A pele de crianças e adolescentes, naturalmente, possui características que a tornam mais resiliente e menos propensa à flacidez e ao aparecimento de rugas, linhas finas e manchas, em comparação com a pele adulta. Como explica Hugo Ribeiro, coordenador de pediatria do Hospital Aliança, da Rede D'Or, em Salvador:
Nelas, a quantidade de colágeno e elastina, proteínas que conferem suavidade, elasticidade e firmeza é bem maior,
A taxa de renovação celular na pele nova é mais rápida do que nos adultos. Isso significa que a aparência da pele frequentemente se mantém firme e renovada,
A pele infantil tem uma barreira de hidratação mais eficiente. Ela retém a umidade natural de forma mais eficaz, mantendo-se hidratada e saudável,
Crianças não têm os hábitos prejudiciais que os adultos podem ter, como fumar, consumir álcool em excesso ou se expor demasiadamente ao sol sem proteção.
"Portanto, a febre por produtos rejuvenescedores, em grande parte, tem a ver com desinformação digital, em particular do TikTok e Instagram, onde também é forte a divulgação de marcas de cosméticos luxuosas. Fora que crianças e adolescentes podem copiar pais e amigos seguidores dessas referências", acrescenta Ribeiro.
Cosméticos de adultos podem fazer mal
Devido a mecanismos de autoproteção menos desenvolvidos, a pele infantil é particularmente sensível e, com a chegada da puberdade, mudanças hormonais tornam a pele dos adolescentes mais suscetível a problemas como excesso de oleosidade, acne, cravos, espinhas.
Diante dessas situações (de crescimento e mudanças), usar cremes anti-idade pode interferir ou prejudicar esses processos.
"Muitos desses produtos contêm ingredientes ativos como retinol, ácido hialurônico, esfoliantes e antioxidantes, que, na maioria das vezes, não são necessários para peles jovens e sensíveis, como podem ser fortes demais para elas", alerta o médico Hugo Ribeiro, destacando ainda possíveis efeitos colaterais.
Utilizados frequentemente e no longo prazo, cosméticos antienvelhecimento podem desencadear na pele de crianças e adolescentes reações alérgicas, com descamação, vermelhidão, coceira e, sua interação com alterações hormonais, estimular a produção excessiva de sebo, piorando inflamações e lesões cutâneas.
Danos incluem psicológicos e emocionais
A preocupação obsessiva com a aparência física e a necessidade compulsiva por comprar e usar cosméticos e produtos para o cuidado da pele pode afetar mentes de todas as idades.
Porém, em se tratando das últimas gerações, os danos podem ser mais preocupantes, por estarem em desenvolvimento da personalidade.
Embora não seja oficialmente classificada como um transtorno psicológico, a "cosmeticorexia", como é chamada, pode influenciar a percepção, gerando distorções sobre a própria imagem, insegurança, frustrações e transtornos, que se já presentes, podem ser agravados, como depressão, ansiedade e narcisista.
"É preciso acompanhamento psicoterápico para frear a dependência por esses produtos, conteúdos por trás deles e melhorar a autoestima. Consultar ainda um psiquiatra se houver transtorno instalado, ou impulsividade e apresentação de obsessão", informa Vanessa Greghi, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria Paulista.
O que usar em peles tão novinhas?
Cada fase da vida tem suas próprias exigências com a pele. Para os mais jovens, os especialistas recomendam uma rotina de cuidados básicos e com produtos confiáveis. Pois além da compulsão pelo tema anti-idade, muitos ainda têm apelado a fórmulas caseiras ou adquirido na internet cosméticos não certificados.
"Crianças e adolescentes devem fazer um ?ritual? regular de higiene, hidratação e proteção solar da pele. Claro que o uso de produtos apropriados e bem orientados (como sabonetes, hidratantes, géis, fotoprotetores) previne o envelhecimento precoce, mas o foco não deve ser esse", esclarece a dermatologista Simone Neri.
No que compete a peles com necessidades específicas, como acne, oleosidade e outras irregularidades, além de não cutucar o rosto e dormir com maquiagem, é fundamental consultar um médico. Lembre-se que cada pele é única e com a ajuda certa é possível ter uma rotina e um tratamento personalizados para você.