Câncer de pele pode se espalhar com procedimento estético?

Circula nas redes sociais o caso de uma pessoa que realizou microagulhamento no rosto e teve células tumorais espalhadas pela região. O sinal de câncer já estava na pele, mas ainda não havia sido identificado.

Segundo a publicação, a pessoa foi a um profissional não médico para fazer o tratamento.

Havia um "sinalzinho" escuro no rosto que nunca tinha incomodado a pessoa e ela não foi ao dermatologista para verificar.

"O sinal de aparência inofensiva era, na verdade, um melanoma", diz o post.

O caso foi comentado no Instagram, em vídeo, pela dermatologista Lays de Alcântara, que o classificou como "o retrato mais real e cruel da banalização dos procedimentos estéticos".

Em entrevista a VivaBem, a médica especializada em cosmiatria pelo Hospital Israelita Albert Einstein reforçou que "esse caso é a pior complicação que pode ter".

O que é microagulhamento?

É um procedimento que utiliza um equipamento com microagulhas que vão perfurar a epiderme (camada superficial da pele) e chegar à camada logo abaixo dela, a derme.

O tratamento é usado para estimular a produção de colágeno e aplicar substâncias nessa camada mais profunda da pele. É a perfuração que leva o ativo até a região interna.

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O microagulhamento é usado para tratar diferentes condições, entre elas:

  • Melasma;
  • Cicatriz de acne;
  • Flacidez;
  • Queda de cabelo;
  • Amenização de rugas;
  • Estrias.

Alcântara diz que, antes de realizar o procedimento, é essencial fazer uma avaliação minuciosa da pele da pessoa para identificar possíveis lesões e garantir que a região esteja íntegra.

"Não pode ser pele machucada, com lesões inflamatórias ou infecções, como acne. Também não pode ser uma pele extremamente sensível", diz a dermatologista. Um procedimento feito sobre uma pele lesionada pode piorar o quadro.

Tipos de câncer de pele

Há dois grupos de câncer dermatológico: o melanoma e o não melanoma.

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O melanoma é mais agressivo e caracterizado, na maioria das vezes, por lesões pigmentadas, mais escuras, que até se assemelham com pintinhas pelo corpo.

Mas no caso de câncer, essa pinta tem características que chamam atenção:

  • Assimetria
  • Bordas irregulares
  • Cor variada, tendo por vezes mais de duas cores na mesma lesão, em tons de marrom claro e escuro ou preto azulado
  • Diâmetro maior do que seis milímetros
  • Evolução com mudança de cor, forma ou aparência

Esse é o chamado ABCDE do melanoma, uma espécie de regra que ajuda a identificar lesões suspeitas. Mas Alcântara lembra que nem todos esses sinais vão levar à doença.

Já o câncer de pele não melanoma é caracterizado por pintas escuras, às vezes da cor da pele também. Pode ter uma aparência brilhante ou ser uma ferida que não cicatriza.

A dermatologista Aparecida Machado de Moraes, membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), diz que, quanto mais precoce o diagnóstico do câncer de pele, melhor será o resultado do tratamento.

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"Há muitos tratamentos feitos da fase precoce em que não ocorre mutilação nem perdas importantes da pele", diz. Em casos mais avançados, porém, a perda será maior.

Como o microagulhamento 'espalha' o câncer?

Um dos equipamentos usados para fazer microagulhamento é o roller, um cabo com uma rodinha na ponta onde ficam as microagulhas.

A agulha que passa num ponto do rosto vai passar em outro ao longo do movimento, perfurando a pele. Com isso, as células da derme podem ser "carregadas" de uma região a outra, se disseminando.

Se a pele tem uma infecção por bactéria ou lesão tumoral, essas células doentes também serão espalhadas.

"Na pele íntegra, isso não tem impacto, porque estamos falando do mesmo tecido. É diferente das células do tumor, que é um tecido lesado", diz Alcântara.

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O Tratado de Cirurgia Dermatológica, Cosmiatria e Laser da SBD traz a orientação:

Pacientes portadores de neoplasias malignas e ceratoses actínicas também não devem ser submetidos às micropuncturas, sob o risco de implantação de células anormais e disseminação pelas microagulhas.

Profissional capacitado

Moraes diz que há profissionais da saúde, como paramédicos ou que atuam na área da estética, que buscam conhecer a fundo as lesões de pele que indicam risco e podem orientar pacientes.

Em casos suspeitos, o ideal é encaminhar a pessoa para dermatologista, que tem as ferramentas e conhecimentos próprios para identificar problemas de pele e indicar o tratamento adequado. Só depois disso, o tratamento estético pode ser feito, se indicado.

Clínicos gerais ou não habilitados em dermatologia também podem ser capacitados, conhecendo o ABCDE do melanoma, por exemplo. É importante pesquisar a formação e experiência de quem vai te atender antes de qualquer procedimento.

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"Dá a impressão que é um procedimento simples, sem intercorrência —e na maioria das vezes é mesmo—, mas no caso de lesão que se assemelha com pintinha, é diferencial estar com especialista de pele", alerta Alcântara.

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