'Pessoas acham estranho eu ter feito transplante capilar aos 80 anos'
Desde jovem, Bernardino Coelho ostentava uma de suas maiores vaidades: seu cabelo. Sucesso na década de 70, ele usou o topete do rei do rock Elvis Presley, mas entre os 50 e 60 anos de idade os fios brancos começaram a cair.
Primeiro, vieram as entradas, depois, o degradê na coroa até ficar praticamente calvo no topo da cabeça. "Nessa idade as pessoas se sentem mais 'seguras' em achar que passaram para o risco de ficar carecas", comenta o empresário.
Sem perder o estilo, Bernardino mantinha a coloração e o corte em dia, mas usava boinas, chapéus e bonés para disfarçar. Em 2023, porém, se submeteu a um transplante capilar aos 80 anos após acompanhar de perto a experiência de um dos filhos.
"Em 2010, meu filho Wesley fez o procedimento aos 30 anos, utilizando uma técnica que deixou o cabelo artificial. Na época não gostei. Em 2017, ele passou com um outro profissional, fez o transplante com uma técnica mais moderna e o resultado ficou bom. Passei a considerar o transplante capilar uma opção e fui conhecer o médico que o atendeu."
Responsável pelo atendimento de pai e filho, o médico tricologista João Gabriel Nunes explica que a medicina preventiva e estética auxilia as pessoas a se sentirem melhores consigo mesmas.
"O cabelo era e ainda é uma queixa. Estar com corpo e rosto jovens, mas calvo não fechava esse círculo. Os idosos estão buscando qualidade de vida, jovialidade e longevidade com mais disposição para realizar seus sonhos e desejos", explica o profissional, que atua no Centro Médico Capilar, no interior de São Paulo.
Anos atrás, o preço elevado e a questão da naturalidade pesavam um pouco na realização do procedimento, hoje posso afirmar que os resultados são naturais e muitas vezes imperceptíveis até mesmo para cabeleireiros acostumados a lidar com todos os tipos de fios. João Gabriel Nunes, tricologista
"Calvície era incompatível com o meu estado de espírito"
Sem um grande volume e com cabelos finos, o esportista Márcio Nunes começou a perder os fios progressivamente a partir dos 25 anos.
"A calvície me deixava mais velho e com a aparência da minha idade, mas era incompatível com o meu estado de espírito. Sou professor de tênis e muitas pessoas praticam o esporte por amor, mas também para se cuidar. Minha profissão exige uma certa vaidade no meu estilo de vida. Vivo cercado por alunos de todas as idades, manter-me ativo e jovem é o meu cartão de visitas", conta.
Embora a procura pelo transplante capilar não seja comum entre pacientes idosos, a técnica é a mesma realizada em pessoas jovens.
No método FUE, é feita a retirada fio a fio da área doadora do couro cabeludo (nas regiões da nuca e lateral da cabeça) e transplantada para a área calva, cobrindo todas as falhas.
"Se o paciente estiver clinicamente saudável está apto a realizar o transplante. Solicitamos exames laboratoriais e eletrocardiograma. Temos na equipe um cardiologista que monitora e acompanha a pessoa durante o processo", diz o médico, que já realizou mais de 4.000 transplantes desde 2017 e cuja média de pacientes idosos é de 20%.
"Pessoas acham estranho eu ter feito o transplante aos 80"
Com grau de calvície 6 (a escala vai de 1 a 7), Bernardino decidiu fazer o transplante para melhorar sua autoestima e rever seus familiares em uma viagem que fará em breve para Portugal, sua terra natal.
As pessoas acham estranho eu ter feito o transplante aos 80 anos, mas não me sinto com essa idade, ainda tenho muito o que viver e viajar. Tenho uma rotina ativa, trabalho, ando de moto e minha próxima meta é fazer academia. Fazer o procedimento foi como adequar a minha imagem à forma como me vejo e reconheço, trouxe de volta a minha identidade. Bernardino Coelho, 81
Com a indicação de fazer mais uma sessão, Bernardino pretende fazer o procedimento daqui a dois anos. "Estou satisfeito e me arrependo de não ter feito antes. Algumas pessoas me perguntam sobre a minha experiência, tenho assunto para contar e virei referência entre os amigos da minha idade e dos mais jovens também", afirma.
Ao realizar o transplante aos 56, o professor de tênis Márcio conta que o resultado superou suas expectativas. "Sempre me cuidei fisicamente, mas o procedimento me rejuvenesceu, aumentou minha confiança, autoestima e me deixou mais seguro para envelhecer bem. Tenho 62 anos e ainda hoje as pessoas ficam impressionadas e comentam sobre a minha aparência. Estou feliz e sou grato ao profissionalismo com que a equipe do doutor João Nunes me atendeu", diz o esportista.
Mulheres se tratam mais, mas homens recorrem mais ao transplante capilar
De acordo com pesquisa da OMS (Organização Mundial da Saúde), a calvície afeta cerca da metade dos homens até os 50 anos de idade. No Brasil, são mais de 40 milhões de pessoas.
"Na experiência clínica, percebemos que as mulheres notam a perda dos fios mais rápido e buscam se tratar, já os homens tendem a adiar. Diria que 70% das mulheres fazem tratamento contra 30% dos homens. Em contrapartida, 90% dos homens fazem transplante capilar contra 10% delas", afirma o especialista.
Segundo o tricologista, a perda do cabelo pode estar associada a várias doenças, a mais comum é a alopecia androgenética, uma condição que pode ser herdada de pais, avós e bisavós.
Em pessoas idosas, a queda capilar ocorre devido à baixa produção de enzimas e de hormônios, o que pode ser influenciado por fatores como o estresse.
"Ter uma boa alimentação, fazer atividade física e adotar hábitos saudáveis contribui para o bom funcionamento do organismo. Envelhecer bem pode trazer benefícios, inclusive para o cabelo", diz Nunes.
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