Você está prestes a ter um burnout? Teste pode identificar sinais de alerta
Momentos de estresse, cansaço e desinteresse são comuns em todos os tipos de trabalho. Mas como saber se é só uma fase ruim ou se pode indicar início de esgotamento?
De acordo com Ana Carolina Souza, neurocientista pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a percepção de exaustão de forma prolongada pode estar associada à síndrome de burnout. "O cansaço excessivo é associado a uma forte perda de interesse e engajamento nas atividades. Além disso, a percepção grande de esforço é somada a sentimentos negativos, como frustração, depressão ou a ausência de significado associado ao trabalho", diz.
A pessoa entende que se esforça ao máximo, mas não consegue ver nenhum fruto associado ao seu trabalho, não vê para onde vai toda essa dedicação. Muitas vezes, a percepção é que se alcançou muito pouco ou que o que foi conquistado não tem valor. Ana Carolina Souza, neurocientista
A especialista explica que, como toda resposta de estresse, o burnout tem características complexas, por isso é importante que haja um acompanhamento profissional na hora de fazer um diagnóstico. Alguns sinais comuns incluem:
sensação de esgotamento físico e mental
perda de interesse nas atividades
sentimentos negativos associados ao ambiente de trabalho
falta de motivação para ir trabalhar
maior irritabilidade
Teste rápido para avaliação do risco de burnout
Com o intuito de identificar sinais precoces de burnout, pesquisadores da Universidade da Noruega desenvolveram a Ferramenta de Avaliação de Burnout, ou BAT (Burnout Assessment Tool).
Trata-se de um questionário com 23 perguntas que está sendo testado em 30 países. Segundo eles, o teste funciona em todas as culturas e gêneros, mas, vale ressaltar, não fornece um diagnóstico formal ou aconselhamento médico. A ideia é que trabalhadores e empregadores consigam identificar os primeiros sinais de alerta de esgotamento, podendo intervir antes que os efeitos físicos e psicológicos se instalem.
Com base no teste desenvolvido pelos pesquisadores, a Nêmesis Neurociência Organizacional, empresa de consultoria, pesquisa e treinamentos com foco na aplicação do conhecimento da neurociência organizacional, fez uma avaliação mais enxuta, apenas para avaliar um possível risco.
Veja a seguir:
Instruções do teste: leia atentamente as afirmativas abaixo e, pensando na sua relação com o trabalho, indique a frequência com que você sente que:
- Me sinto mal quando penso no trabalho.
- Me sinto esgotado(a) ao final de um dia de trabalho.
- Preciso fazer um grande esforço para conseguir desenvolver minhas atividades de trabalho.
- Sinto que por mais que eu me esforce, não consigo dar conta de tudo que preciso fazer no trabalho.
- Não me sinto realizado(a) com meu trabalho.
- Sinto-me indiferente em relação às atividades de trabalho que desenvolvo.
- Sinto-me frustrado(a) por não conseguir ser o melhor que posso na minha função.
- Sinto que meu trabalho não é reconhecido dentro da empresa.
- Tenho dificuldade de manter a atenção concentrada quando estou trabalhando.
- Sinto emoções que são fortes demais ou difíceis de serem controladas quando estou no trabalho.
- Tenho me sentido mais sensível e emotivo(a) do que de costume quando estou no trabalho.
- Fico tão estressado(a) com meu trabalho que isso acaba impactando meus relacionamentos pessoais.
Opções de resposta e valor (pontuação) correspondente entre parêntesis:
Nunca (1 ponto);
Raramente (2 pontos);
Às vezes (3 pontos);
Frequentemente (4 pontos);
Sempre (5 pontos).
Processo de análise dos resultados:
Até 20 pontos: risco baixo (baixa prevalência de sinais)
Sua relação com o trabalho não apresenta uma frequência alta de sinais associados ao burnout.
Entre 21 e 40 pontos: risco moderado (prevalência intermediária de sinais)
Vale a pena observar a rotina e a relação com o trabalho, eventualmente buscar apoio do RH e da liderança caso sinta necessidade.
Acima de 41 pontos: risco alto (maior prevalência de sinais)
Vale a pena conversar sobre o que sente com um profissional de saúde, além da conversa com o RH e a liderança. Observe a presença de sintomas físicos e/ou emocionais que possam estar comprometendo sua qualidade de vida e saúde.
Sobre o teste: é importante ressaltar que este é um teste qualitativo, baseado em sintomas e respostas comumente associadas à síndrome de burnout. Destaca-se que essa avaliação não tem validade clínica e não deve ser usada como forma de diagnóstico.
Independentemente dos resultados do seu teste, caso você sinta que sua saúde mental ou física está sendo comprometida pela sua relação com o trabalho, fale com os profissionais de saúde da sua empresa, ou busque um atendimento clínico especializado e faça uma avaliação.
Meio digital contribui para piora
Para Ana Carolina, a diversidade de canais de comunicação disponíveis atualmente pode levar a uma sensação de sobrecarga. Por exemplo, quando a pessoa recebe mensagens ou cobranças através de e-mail, WhatsApp, Teams, telefone.
"Além disso, a praticidade da tecnologia, associada a uma pressão cada vez maior por tempo, também faz com que muitas vezes críticas e feedbacks sejam passados através de mensagens, o que pode gerar sentimentos negativos exagerados por parte de quem recebe a mensagem e, ainda, a percepção de maior distanciamento e frieza por parte dos gestores ou mesmo da empresa", diz a neurocientista.
A tecnologia permite que tenhamos cada vez mais autonomia, porém, quando não sabemos organizar as atividades profissionais, também pode gerar a sensação de que estamos trabalhando 24h por dia, ou mesmo favorecer culturas que considerem que as pessoas devem estar disponíveis e acessíveis para o trabalho constantemente. "Isso traz um excesso de carga horária, mesmo quando a pessoa está fora do escritório, o que associado a cobranças e pressão pode piorar ou favorecer um quadro de burnout", ressalta a neurocientista.
Na opinião do psiquiatra Kayo Barboza, da Holiste Psiquiatria, de Salvador (BA), quem trabalha remotamente também precisa estar atento. "Um dos principais desafios para quem faz home office é estabelecer uma rotina adequada, com limites bem definidos no horário de trabalho. Sem uma rotina profissional definida, o indivíduo corre o risco de trabalhar além do seu costume diário, indo além do próprio limite", diz.
Empresas devem agir
Virgínia Planet, especializada em neuropsicologia pela USP (Universidade de São Paulo), avalia que é preocupante a maneira como as empresas ainda lidam com questões de saúde mental. "A princípio, a abordagem escolhida é a reativa, que apenas entra em cena quando um colaborador está visivelmente em crise, ou quando uma equipe está adoecida. No entanto, muitas dessas ações são paliativas, visam apenas aliviar os sintomas, mas sem tratar as causas dos problemas", afirma.
Ela acredita que, em geral, as empresas apenas têm "apagado incêndios", oferecendo atendimento psicológico emergencial ou palestras motivacionais, sem investir em um trabalho aprofundado de prevenção e promoção da saúde mental.
A mudança na qualificação definida pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que reconheceu o burnout como doença de trabalho em 2022, trouxe impactos ainda maiores para as empresas que não estão atentas a esse fenômeno, extrapolando a saúde e performance e trazendo também desdobramentos jurídicos, financeiros e prejuízos para a imagem corporativa.
Dessa forma, diante da emergência e seriedade que o assunto exige, Ana Carolina destaca algumas ações que as organizações devem fazer:
ter ferramentas de monitoramento recorrente do estado emocional dos colaboradores;
agir de forma estratégica, criando ações que atuem diretamente na origem do problema;
preparar líderes e profissionais de RH;
ter uma cultura que prioriza o bem-estar, ajudando os colaboradores a terem uma rotina equilibrada e saudável.
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