Quando tudo no parceiro irrita, relação tem salvação ou é hora de terminar?
No começo, você acha que deu o match perfeito e imagina que seu relacionamento será como um conto de fadas eterno. Mas aí o tempo passa e aquele adorável ser humano com quem você escolheu dividir a vida se transforma, subitamente, em uma fonte constante de irritação. É o controle remoto que nunca está no lugar, a toalha molhada em cima da cama, o uso do celular na hora do jantar ou o ronco que atrapalha na hora de dormir.
Sentir-se irritado, especialmente quando se está em um relacionamento de longo prazo, é algo comum e até mesmo saudável, segundo uma pesquisa da Universidade de Michigan, nos EUA. "É normal ter um nível de incômodo porque somos pessoas diferentes e agimos de maneiras distintas", afirma a psicóloga Larissa Alves Teixeira Castelo, especialista em terapia sistêmica de casal e família.
No entanto, quando as pequenas irritações e os ressentimentos se acumulam, é natural questionar se há uma solução viável ou se o relacionamento está fadado ao fracasso. "Se a irritação tem se tornando frequente, é possivelmente hora de buscar ajuda profissional para entender até que ponto a raiva decorre de questões banais ou se são problemas que estão sendo colocados para debaixo do tapete", diz a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, mestre em ciências da saúde pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Por outro lado, se a irritação é acompanhada de reações exacerbadas e frequentes, e se envolver agressividade e/ou intolerância, pode ser sintoma de algo mais complexo, como TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) ou depressão. Nesses casos, o melhor é procurar ajuda médica. "Quando o paciente adere ao tratamento medicamentoso, ele passa a ter mais condições de ver os problemas de outros ângulos", conta a terapeuta de casais Lúcia Soares, especialista em sexualidade humana e professora da Faculdade de Ciências Humanas Esuda.
As raízes das irritações
É importante reconhecer que as irritações muitas vezes podem ter raízes mais profundas do que simplesmente os comportamentos superficiais que as desencadeiam. Por trás de cada irritação podem ter necessidades não atendidas, expectativas não comunicadas, traumas de outros relacionamentos ou até mesmo questões ligadas à educação que você recebeu.
Quando existe um motivo mais forte dentro dessa relação, qualquer coisa vai ser fonte de irritação, porque o real problema não está sendo discutido. Carla Cecarello, psicóloga e sexóloga
Especialistas consultados por VivaBem recomendam que o casal busque ajuda profissional de um terapeuta caso a irritação persista em intensidade e frequência, pois "isso pode deteriorar progressivamente a harmonia do casal", ressalta o psicólogo Carlos Mendes Rosa, que é professor da UFT (Universidade Federal do Tocantins).
Por outro lado, evite apontamentos instantâneos à irritação e se dê um tempo para refletir sobre a humanidade de cada um, repleta de peculiaridades e falhas. "Saia da urgência de reagir ao que te irrita", reforça Rosa.
Além disso, é importante lembrar que o parceiro não é um adversário e, embora possa parecer, suas ações não necessariamente têm a intenção de tirar você do sério. "Se você só fica apontando as coisas que te irritam no outro, isso acaba afetando a maneira como você o enxerga, e isso gera uma bola de neve", diz Soares.
Pesquisas indicam, inclusive, que o cérebro tem uma tendência inata para focar nos aspectos negativos da vida, porém é crucial reconhecer as qualidades positivas do seu parceiro. Elaborar uma lista dos motivos que o levaram a se apaixonar pelo outro é uma maneira interessante de não se deixar levar pelas irritações. Após valorizar as virtudes do parceiro, crie uma segunda lista que aborde os comportamentos desafiadores dessa pessoa.
"Eu recomendo essa dinâmica porque, ao escrever e visualizar, você internaliza os sentimentos tanto para si quanto para o seu parceiro. A lista funciona como um compromisso mútuo entre ambos", sugere Soares.
Comunicação aberta e respeitosa
Depois de identificar as possíveis causas da irritação (e se não são reflexos de algo que só diz respeito a você ou ao seu passado), é hora de se abrir ao diálogo. Isso inclui ouvir atentamente, sem interromper.
Os especialistas defendem que o casal se comprometa a encontrar soluções que funcionem para os dois. Além disso, salientam que relacionamentos implicam em fazer concessões e "tentar moldar seu parceiro é em vão", ressalta Cecarello.
Focar em cuidar de si mesmo, seja através de atividades relaxantes, hobbies ou exercícios, também é indicado. Isso ajuda a reduzir o estresse e a irritação, permitindo uma perspectiva mais clara sobre as questões no relacionamento.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.