Por preconceito, ele não foi ao médico e ficou quase 10 anos com hemorroida
A hemorroida é um problema relativamente comum, embora ainda seja alvo de tabu. Dados mostram que 70% das pessoas terão a doença em algum momento da vida. O problema é que muitos pacientes têm vergonha de procurar ajuda.
Artur Oliveira, 41, passou quase dez anos com a doença hemorroidária sem passar por uma consulta médica. Ele só decidiu buscar ajuda quando a situação piorou de vez.
Havia um certo preconceito da minha parte. Só fui procurar o médico quando a coisa ficou crítica: sentia uma dor terrível e tinha muito inchaço. Foi quando minha mãe marcou proctologista, a mesma que atendia toda a família. Artur Oliveira
Os sintomas de Artur começaram a aparecer quando ele tinha 19 anos. "Sensação de ardência e coceira. Depois, apareceu um forte sangramento. Comecei a pirar sem saber o que poderia estar acontecendo", conta.
Artur, que hoje é diretor executivo em uma empresa em Belém (PA), lembra que sempre teve o hábito de passar muito tempo sentado, além de consumir bastante bebida alcoólica —hábitos que podem aumentar risco da doença.
Com a piora dos sintomas, ele fez diversos exames, para descartar outras doenças, como o câncer. Depois, começou a usar pomadas, medicamentos para dor, além do banho de assento, mas nada resolveu.
Tenho casos na família, meu pai e minha mãe tiveram hemorroida. Todos passaram pelo processo cirúrgico. E ainda sim, eu deixei de procurar um médico por tanto tempo para saber o que era. Artur Oliveira
Somente aos 27 anos, ele passou por um procedimento menos invasivo, feito no consultório médico.
Já estava quase virando uma fístula [como se fosse um canal que se forma na região], justamente pela demora em procurar um tratamento. Artur Oliveira
Depois, fez a cirurgia duas vezes, pois tinha hemorroida em duas regiões do ânus. Após cerca de 40 dias, estava totalmente recuperado. "Evitei pegar peso, algumas posições para sentar, e a alimentação ficou mais regrada. Valeu a pena!", conta.
'Hemorroida pode acontecer com qualquer um'
No começo, eu tinha muito preconceito porque não sabia do que se tratava, principalmente por ter essa relação sexualizada da região. Acabei atrasando o tratamento por isso. Artur Oliveira
Artur diz que quando o pai descobriu que tinha a doença hemorroidária, não contou para ninguém. A família só ficou sabendo quando ele já estava com uma outra doença avançada e tiveram de dar banho nele. "Poderíamos ter evitado isso", diz.
Hoje, Artur sabe a importância de um estilo de vida saudável: dieta equilibrada (evitando condimentos), bastante água e, claro, atividade física.
Hoje em dia, falo tranquilamente sobre isso. Temos de mostrar a cara para que as pessoas se conscientizem. É sobre bem-estar e qualidade de vida. Pode acontecer com qualquer um, mas, principalmente nós, homens, devemos procurar o tratamento o quanto antes. Artur Oliveira
Tabu só piora acesso ao tratamento
A doença hemorroidária pode progredir se o tratamento não for feito o quanto antes, explica Larissa Berbert, coloproctologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
"Às vezes, conseguimos melhorar o hábito intestinal e indicar outras mudanças para evitar que a hemorroida piore, evitando assim uma cirurgia no futuro", diz a médica.
Já tive paciente jovem que foi sangrando tanto a ponto de ficar anêmico e de precisar até de internação e UTI para investigar outras causas. E era 'só' uma doença hemorroidária. Esse caso poderia ter um desfecho melhor se fosse tratado de forma mais precoce. Larissa Berbert, coloproctologista
A vergonha em buscar ajuda médica pode esconder doenças mais graves, como um câncer. "São vários pacientes que acabam descobrindo câncer no canal anal, achando que era 'só' hemorróida. E aí já chegam numa situação bem pior", diz a médica.
Dicas para evitar hemorroida
Genética não dá para mudar, mas fatores de risco, sim. O primeiro passo é cuidar da dieta e ingestão de água para evitar problemas na hora de fazer coco.
Uma outra questão é a posição da evacuação. O ideal é usar um banquinho nos pés para criar o ângulo de 90 graus.
Quando a gente se posiciona apoiando o pé num banquinho e fazendo uma posição que se parece com cócoras, a musculatura se alinha, então a gente tem menos esforço evacuatório e tende a aumentar menos a pressão nos vasos hemorroidários. Larissa Berbert, coloproctologista
Outro hábito que faz mal: ficar mexendo no celular enquanto evacua e, consequentemente, permanecer mais tempo na posição.
A posição anatômica aumenta a pressão dos vasos hemorroidários, fazendo com que, devagar, aumentem de volume. Quanto mais volume nessas hemorróidas, mais risco de ter problema com os vasos sanguíneos. Larissa Berbert, coloproctologista
O que pode piorar os sintomas em quem já tem problemas é a higiene do ânus. Evite o papel higiênico e use as duchas na região externa.
Quando já existe um vaso hemorroidário um pouco mais volumoso, ele fica mais sujeito a se machucar com o papel higiênico. Sempre orientamos o paciente a usar, de preferência, a duchinha, lavar com sabonete e deixar bem sequinho com uma toalha macia. Larissa Berbert, coloproctologista