Carne moída crua com iogurte: receita de tiktoker tem benefícios? E riscos?
As trends do TikTok podem ser inspiradoras quando se trata de dieta e treinamento. Mas uma nova série de postagens na rede de vídeos tem criado mais estranhamento (e nojo) do que inspiração.
Nas publicações, homens aparecem dando dicas de refeições ricas em proteínas pouco usuais, como misturar sardinha com leite e cereais açucarados e até carne moída crua com iogurte de maracujá.
Comer carne crua tem benefícios?
Segundo a nutricionista Mariana Moretti, da Clínica Mantelli, em teoria, os benefícios poderiam estar atrelados à potencialização da sensação de plenitude e saciedade, assim como à disponibilidade de enzimas e fibras íntegras.
"Mas vale ressaltar que tais benefícios são relativos, já que a capacidade digestiva de proteínas cruas é individualizada e está correlacionada à mastigação eficiente, a um pH gástrico ótimo, assim como a uma microbiota intestinal saudável, com fluidez no hábito intestinal", destaca a especialista.
Há evidências limitadas para apoiar a ideia de que a carne crua é melhor do que a carne cozida em termos nutricionais. A ciência entende que a prática de cozinhar alimentos, especialmente carne, permitiu aos humanos evoluírem, pois isso quebra as proteínas e torna mais fácil de mastigar e digerir.
Alguns estudos até sugerem que cozinhar a carne pode reduzir seu teor de certas vitaminas e minerais, mas esses estudos também observam que os níveis de outros minerais, especificamente cobre, zinco e ferro, aumentam após o cozimento.
E os riscos?
No Brasil comer carne crua não é tão comum, mas em outros países a prática até faz parte de tradições locais. Sabemos que o alimento é uma ótima fonte de proteínas completas e nutrientes essenciais, mas ele também pode causar doenças infecciosas, incluindo a contaminação por bactérias, parasitas, vírus e toxinas.
Essa contaminação normalmente ocorre durante o abate, quando a carne do animal pode ser contaminada por patógenos, como Salmonella, Clostridium perfringens, E. coli, Listeria monocytogenes e Campylobacter.
Esses patógenos sobrevivem na carne crua, mas não resistem ao processo adequado de armazenamento e preparo.
Os processos de armazenamento adequado, manipulação segura e cocção garantem a qualidade microbiológica das carnes e reduzem riscos à saúde. Isso vale para as carnes bovinas, de aves e de peixes. Andrea Ferrara, nutricionista clínica e funcional da Clínica Bottura
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Isso inclui o processo correto de armazenamento nos mercados e açougues, a escolha da embalagem adequada para o produto e os processos de preparo, como cozinhar, fritar ou assar, o que destrói os patógenos potencialmente prejudiciais à saúde.
"Ou seja, ao consumir carnes cruas corremos grande risco de intoxicação alimentar", afirma Ferrara. Isso quer dizer que, além de provavelmente não trazer nenhuma vantagem, consumir carne crua pode ser muito arriscado. Portanto, não é recomendável nem incentivado.
Comer carne crua pode causar:
Maior risco de infecção por bactérias e vírus;
Possibilidade de contaminação por parasitas;
Desconforto gastrointestinal pela dificuldade de digestão;
Exposição a possíveis toxinas presentes na hemoglobina e no ferro heme.
E preparações como steak tartare?
O steak tartare é um prato de carne crua, geralmente de carne bovina, finamente picada e temperada com condimentos como cebola, alcaparras, mostarda, molho Worcestershire, e servida com gema de ovo crua. É uma iguaria popular em muitos lugares do mundo, conhecida por sua textura e sabor intensos.
O steak tartare apresenta os mesmos riscos relacionados ao consumo de todas as carnes cruas. Com isso, o consumo deve ser feito com cautela, considerando os riscos à saúde. É importante escolher uma carne fresca e de qualidade, dar atenção à manipulação segura e seguir as práticas de segurança alimentar recomendadas. Andrea Ferrara, nutricionista clínica e funcional da Clínica Bottura
Por isso, o mais indicado é consumir produtos como esse, incluindo também preparos como o tradicional quibe cru, em estabelecimentos extremamente confiáveis, que primam pela qualidade em todo o processo, desde a escolha da carne, a manipulação, até chegar à mesa.
Fontes: Andrea Ferrara, nutricionista clínica e funcional da Clínica Bottura, graduada em nutrição pela São Camilo, pós-graduada em nutrição clínica em gastroenterologia, em nutrição clínica funcional, em fisiologia do exercício e em nutrição hospitalar em pediatria pelo Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP); Mariana Moretti, nutricionista funcional integrativa e fitoterapia funcional da clínica Mantelli, graduada pela PUC de Campinas, pós-graduada em nutrição clínica pela Unifesp e especialista em fitoterapia funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul.
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