Gordura que você não vê é justamente a mais perigosa: conheça a visceral

Esteticamente, a gordura que mais incomoda é a subcutânea, ou seja, aquela que se acumula sob a pele e é responsável pelos famosos "pneuzinhos", culotes e até celulites. Mas, se comparada à gordura visceral, ela é menos perigosa para a saúde, sabia?

A gordura visceral pode ser chamada de "a gordura que você não pode ver". Afinal, em vez de saltar para fora da calça ou marcar aquele vestido, ela na verdade envolve os órgãos internos na cavidade abdominal, como fígado, pâncreas e intestinos.

Ela se forma quando há um excesso de calorias consumidas e não utilizadas pelo corpo, sendo armazenada principalmente na região abdominal. Giovanna Carpentieri, endocrinologia e metabologista

Segundo a médica, genética, estilo de vida sedentário e dieta rica em gorduras saturadas e açúcares podem contribuir para o acúmulo dessa gordura. Um pouco dela é até útil para a nossa sobrevivência, mas, em excesso, traz diversos riscos à saúde.

Como se forma e qual sua função

São diversos os fatores relacionados ao acúmulo excessivo de gordura visceral, incluindo estilo de vida sedentário, genética favorável e consumo exagerado de calorias (mais do que se gasta), sobretudo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares e gorduras saturadas.

Esse tipo de gordura muitas vezes é referido como uma "gordura ativa", devido ao seu papel no funcionamento do organismo, diferente da gordura subcutânea, que fica logo abaixo da pele e tem menos impacto metabólico direto.

Embora prejudicial em excesso, a gordura visceral tem funções importantes, participando da regulação hormonal e térmica dos órgãos internos. "Ela é como se fosse um órgão, pois secreta hormônios e citocinas inflamatórias", diz Carpentieri.

"Na gordura visceral, os adipócitos tendem a ser maiores e mais metabolicamente ativos em comparação com os da gordura subcutânea", completa. Adipócitos são células que fornecem energia, atuam como isolante térmico e oferecem proteção contra choques, por exemplo.

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Em pessoas consideradas saudáveis, a gordura visceral representa 10% ou menos do total da gordura corporal. Porém, quando os valores estão muito acima do recomendado, o risco para os problemas de saúde aumenta.

Como saber a quantidade de gordura visceral?

Segundo o endocrinologista Renato Zilli, existem várias metodologias para determinar a quantidade de gordura visceral. "A gente pode fazer uma tomografia, um corte abdominal ou uma densitometria de corpo inteiro, por exemplo", fala o médico.

"Mas o que a gente tem mais disponível hoje em dia nos consultórios é a bioimpedância", complementa. Essa técnica de medição avalia a composição corporal, incluindo a quantidade de gordura, músculo e água no corpo, usando uma corrente elétrica de baixa intensidade.

Riscos do excesso de gordura visceral

O excesso de gordura visceral traz riscos por liberar ácidos graxos e outras substâncias na corrente sanguínea. "Isso pode desencadear processos inflamatórios e metabólicos que contribuem para o desenvolvimento de doenças", fala Carpentieri. A lista inclui:

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Doenças cardiovasculares

Diabetes tipo 2

Síndrome metabólica

Doenças hepáticas

Certos tipos de câncer

"A gordura visceral produz mais radicais livres, que são substâncias inflamatórias, diretamente na veia porta, que leva o sangue ao fígado, influenciando negativamente no nosso corpo", completa a nutricionista Edvânia Soares.

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A veia porta está localizada na região abdominal, sendo formada pela união de várias veias do trato gastrointestinal, estendendo-se até o fígado, onde se ramifica em pequenos vasos sanguíneos. É uma importante via de circulação sanguínea, transportando sangue rico em nutrientes e produtos da digestão do trato gastrointestinal para o fígado, onde esses nutrientes são processados e metabolizados.

Como evitar o excesso de gordura visceral?

O processo para evitar o acúmulo de gordura visceral ou reduzi-la envolve basicamente perder peso. "Passa pela adoção de uma vida mais saudável, evitando comidas ultraprocessadas e praticando atividades físicas", diz o endocrinologista.

Além disso, o estresse é outro fator que pode favorecer o acúmulo de gordura visceral. "O estresse produz radicais livres e, se você não tem uma dieta antioxidante, vai formar mais gordura no seu corpo", completa Soares.

A lista de alimentos com potencial antioxidante inclui:

Frutas: frutas vermelhas, maçã, uva

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Verduras e legumes: espinafre, brócolis, couve, pimentão, cenoura, abóbora

Vegetais crucíferos: couve-flor, repolho, rabanete

Nozes e sementes: amêndoas, sementes de chia, sementes de linhaça

Grãos integrais: aveia, quinoa, arroz integral

Leguminosas: feijões, lentilhas, grão-de-bico

Chá verde e chá preto

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Especiarias: cúrcuma, canela, gengibre

Apesar de seus riscos, a gordura visceral não é uma sentença. "Eliminar a gordura visceral pode ser mais rápido do que se imagina", fala Carpentieri. "O tratamento adequado traz muita perda de gordura visceral, com normalização até antes da gordura subcutânea", completa.

Ela reafirma que o tratamento envolve o básico que já sabemos: uma combinação de dieta saudável, exercícios físicos regulares e redução do estresse. "Alguns medicamentos também podem ajudar", diz.

Fontes: Edvânia Soares, nutricionista da Estima Nutrição, pós-graduada em nutrição clínica esportiva e vigilância sanitária; Giovanna Carpentieri, com formação pela UFPR e especialização em endocrinologia pela Unifesp, trata de desequilíbrios hormonais, obesidade e diabetes, destacando-se em sua abordagem holística e multidisciplinar; Renato Zilli, endocrinologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e do corpo clínico do Hospital Sirio-Libanês.

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