Dor no calcanhar: o que pode causar e como aliviar o irritante incômodo
De VivaBem
09/05/2024 04h00Atualizada em 09/05/2024 08h51
Pensar que o calcanhar é uma das principais estruturas que dão suporte a todo seu corpo já é o primeiro passo para entender sua importância. No entanto, vez ou outra, uma dor no calcanhar aparece sem que se saiba o que está acontecendo ou qual profissional procurar.
Os fatores de risco mais comuns são obesidade e redução da mobilidade do tornozelo e do pé. Além disso, praticantes de atividades que envolvem impacto excessivo do calcanhar no solo (corrida, futebol e dança) ou pessoas que ficam longos períodos em pé também estão sujeitas às dores.
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Possíveis causas da dor no calcanhar
Muita gente se esquece de que os pés são repletos de ossos, terminações nervosas, tendões e músculos em uma composição bem particular. Nesse universo, a possibilidade de explicações para essa dor pode variar, segundo apontam os especialistas consultados:
Fascite plantar: é um dos diagnósticos mais comuns. A inflamação da fáscia do pé —uma membrana que conecta o calcanhar à ponta dos dedos— pode aparecer em função da falta de alongamento, atividades esportivas pesadas ou alterações anatômicas. Normalmente ela é pior pela manhã, na primeira pisada ao levantar-se da cama, ou após sentar-se por longos períodos. Tratamento: palmilhas, compressas frias, infiltrações e medicamentos são indicados. Raramente é necessário procedimento cirúrgico.
Esporão do calcâneo: é uma calcificação plantar cuja imagem radiográfica costuma aparecer como estrutura pontiaguda e está associada à tração excessiva de um tendão. Nem sempre o esporão provoca dor, mas pode acontecer. Tratamento: quando há inflamação, é indicado repouso e uso de anti-inflamatórios.
Doença de Sever: normalmente, acomete crianças e adolescentes de oito a 16 anos que praticam exercícios de alto impacto, como ginástica, corrida, salto e até balé. A dor se dá na região de crescimento do osso calcâneo e caracteriza uma lesão na cartilagem. Tratamento: é indicado reduzir treinos e pulos para evitar que a dor piore, além de realizar compressas com gelo.
Tendinite: dentre as inflamações de tendões mais comuns, destaca-se a do calcâneo ou tendão de Aquiles. Ele funciona como uma corda que liga os músculos da região posterior da perna ao principal osso do calcanhar. Assim, quando ocorre algum desequilíbrio local —seja muscular ou de articulação— o tendão acaba exercendo uma tração excessiva sobre o osso, gerando uma inflamação local e consequente dor. Já a tendinite dos fibulares afeta a região do lado de fora do tornozelo e geralmente se intensifica ao longo do dia. Tratamento: a principal orientação é evitar atividades físicas que causem dores momentaneamente, mas sem esquecer que fortalecer a musculatura é importante.
Formato do pé: o jeito de caminhar e a morfologia dos pés podem influenciar nas dores. Isso é algo que pode nascer com a pessoa ou aparecer ao longo da vida, em especial por uso de calçados inadequados. São os famosos pés chatos ou planos, com curvas acentuadas e pernas com varismo (joelho virados para fora). Tratamento: exercícios de correção postural e constante avaliação.
Bursite no calcanhar: a bursa funciona como uma bolsa de amortecimento que fica entre o osso do calcanhar e o tendão de Aquiles. Quando a inflamação da região ocorre, dificulta o movimento do pé. Tratamento: alongamentos e medicamentos para conter a ação inflamatória.
Disfunção no tendão tibial: chamada também de insuficiência do tibial posterior, é resultado de uma alteração morfológica do pé. Ela leva a um desabamento do tálus —osso que tem formato de cubo e fica entre o osso do calcanhar e os ossos da perna (tíbia e fíbula)—, deixando o pé plano. Geralmente congênito, o problema leva à alteração da pisada, com sobrecarga do lado interno do pé, à osteoartrose e ao desgaste ao longo da vida. Tratamento: varia de acordo com o grau da disfunção e, principalmente, do comprometimento e perda de qualidade de vida do paciente. Em estágio inicial, pode ser tratado com mudança de hábitos e reabilitação com fisioterapeuta (que vai escolher o tratamento mais adequado ao paciente); em momento mais avançado, talvez seja necessário fazer uma cirurgia.
Fraturas: tanto na perna quanto no tornozelo, uma fratura pode refletir em dor no calcanhar. Isso se dá pelo trauma no local (impacto no momento do acidente) ou pelos desdobramentos (inflamação, inchaço, hematoma, lesão de nervos). Tratamento: envolve a longa imobilização e a restrição de descarga de peso sobre o pé durante a recuperação —ou seja, longos períodos sem o estímulo mecânico da pisada pelas sequelas. É preciso ter muito cuidado para que não haja deformidade ou encurtamento do membro pelo desgaste acelerado da articulação.
Dor no calcanhar pode ter a ver com peso corporal?
É possível fazer uma relação quando há diminuição ou aumento do peso, pois isso causa uma reação do corpo que estava acostumado a se articular de outra forma.
Segundo Mario Sabha, osteopata e mestre em anatomia humana pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), pessoas que fizeram cirurgia bariátrica estão nesse grupo que, por causa da diminuição do peso, pode sentir dores no calcanhar.
"O seu corpo antes era projetado para frente e depois da cirurgia se projeta mais para trás, causando este incômodo."
Exames necessários
O diagnóstico requer conversa aprofundada e exames físicos minuciosos. Caso haja dúvidas sobre a causa ou se for necessário classificar o grau da lesão, tomografias, radiografias e ressonâncias podem ser solicitadas.
A radiografia, por exemplo, leva informações ao ortopedista; já o ultrassom é capaz de observar determinada estrutura durante o movimento do paciente, e a ressonância permite avaliar outras estruturas além dos ossos.
Prevenção para dor no calcanhar
Muitas crianças são introduzidas no mundo esportivo competitivo de forma cada vez mais precoce. Neste caso, a prevenção das dores precisa começar a partir daí, com treinamentos físicos adequados para a idade e orientação.
A prevenção consiste ainda em ter hábitos de vida considerados saudáveis, que envolvem cuidar da alimentação, da saúde mental e combater o sedentarismo.
Alongar a região posterior das pernas antes e após a atividade física e usar calçados confortáveis e adequados também são cuidados necessários. O uso excessivo de sapatos de salto alto, inclusive, favorece o encurtamento da musculatura posterior da perna e do tendão de Aquiles, trazendo sobrecarga e dor.
Massagem melhora ou piora?
Qualquer procedimento que não seja realizado por um profissional pode intensificar a dor. É importante salientar que a massagem é diferente dos procedimentos feitos por um fisioterapeuta.
Dessa maneira, não pode funcionar como tratamento, pois não vai corrigir uma vértebra ou uma articulação, ao contrário do que faz o fisioterapeuta.
Fontes: Alaor Jason Brenner Neto, médico pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), ortopedista e traumatologista especialista em ombro no Plunes Centro Médico; André Cicone Liggieri, ortopedista especialista em dor, assistente do Centro de Dor do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); Gustavo Eiji Nodu Sato, ortopedista e cirurgião assistente de tornozelo e pé no Hospital de Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), membro da equipe de ortopedia e traumatologia do Hospital IGESP; Mario Sabha, fisioterapeuta, doutor em neuroanatomia, mestre em anatomia humana pela Unicamp, osteopata, acupunturista, com formação em terapias manipulativas e terapias metafísicas, é criador do Método Sabha para fisioterapeutas; Rodrigo Vetorazzi, coordenador da ortopedia do Hospital Albert Sabin de São Paulo; Victor Cicone Liggieri, fisioterapeuta coordenador do Centro de Dor do HC-FMUSP, especialista em reeducação do movimento e da dor, autor do livro "De Olho na Postura e Alongamento e Postura" (Ed. Summus).
*Com matéria de maio de 2022