Mais simples do que parece: psicólogas revelam o que faz crianças felizes

Segundo estudiosos da psicologia, a felicidade está ligada a um estado de bem-estar e satisfação. Porém, não é uma condição constante —ninguém está o tempo todo feliz.

Nesse sentido, os pais podem ensinar os filhos a valorizarem esses momentos de felicidade. Eles podem fazer isso, por exemplo, mostrando como apreciar um dia de sol, por meio de um ato de carinho, uma risada compartilhada, uma brincadeira e aproveitando a companhia de quem se gosta.

Muitas vezes, os pais associam, de forma equivocada, a felicidade da criança ao consumo de bens materiais ou ao excesso de compromissos, como ganhar presentes ou praticar muitas atividades extracurriculares (esporte, aulas de outras línguas e de dança). O excesso pode levar ao estresse ou mesmo trazer um senso de felicidade superficial.

Um estudo publicado no dia 26 de fevereiro no periódico Journal of Happiness Studies e conduzido na Itália revela que pais e mães costumam superestimar ou subestimar a felicidade dos filhos. Além disso, tendem a identificar diferentes episódios como os momentos mais felizes que passaram juntos —e realmente, o tempo passado com os familiares é um dos motivos de felicidade mais comuns relatados entre as crianças.

Os pesquisadores concluíram que crianças e adolescentes que vivenciam maiores níveis de felicidade são menos propensos a desenvolver sintomas psicológicos negativos, como depressão, ansiedade e problemas comportamentais.

A pesquisa identificou cinco temas principais que são motivos de felicidades com a família, na visão das crianças: atividades fora de casa, atividades partilhadas entre pais e filhos, brincadeira com os pais, momentos de afeto e relevância dos presentes.

Para comentar cada um deles, VivaBem convidou três psicólogas que trarão a perspectiva da família brasileira para os temas, além de acrescentar mais três dicas valiosas.

1. Atividades fora de casa

Ao realizar atividades de lazer fora de casa com os filhos, os pais proporcionam uma experiência afetiva, de companheirismo e cumplicidade.

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As crianças se sentem valorizadas e olhadas ao estarem realizando atividades de lazer com as suas figuras de referência, assim como há um estreitamento do vínculo afetivo. Porém, para que isso aconteça, os pais devem estar presentes de fato na atividade, evitando a distração com celulares ou preocupações com outras questões. Mariana Bonsaver, psicóloga infantil do Sabará Hospital Infantil

Os pais precisam ficar atentos para fazer os programas que uma criança pode gostar, não só os adultos.

Já no caso dos adolescentes, trazer um amigo dele ou dela para a atividade ao ar livre, como andar de bicicleta, ir a uma praia, numa viagem pode ajudá-los a entender a importância do grupo, ao mesmo tempo que faz com que se sintam parte de uma família, reforçando esses laços.

Realizar tarefas em conjunto também é importante para o desenvolvimento da autonomia da criança
Realizar tarefas em conjunto também é importante para o desenvolvimento da autonomia da criança Imagem: Getty Images

2. Realizar tarefas juntos

Realizar tarefas em conjunto pode ser um momento importante para a criança. Vale cozinhar, ajudar num conserto de casa, do carro, a preparar a própria festa de aniversário escolhendo o tema, a lista de amigos a serem convidados e a arrumar a decoração.

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Nessas situações, a criança pode se divertir com a tarefa em si e se sentir olhada pelos pais, criando um contexto de cumplicidade, confiança, pertencimento e de troca de afetos. Realizar tarefas em conjunto também é importante para o desenvolvimento da autonomia da criança, o que é positivo para o seu bem-estar emocional.

3. Brincadeira com os pais

É através do lúdico que a criança interage com o mundo externo e com o seu mundo interno. Brincar é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional da criança. É neste momento que os pais podem auxiliar na resolução de conflitos, na expressão de sentimentos, incentivar a criatividade, além de criar lembranças de afeto.

Uma coisa que é muito importante com criança é jogar com eles. Os pais reclamam que os filhos não saem do celular, mas o que você põe no lugar? O que a gente observa é que muitas crianças se queixam que os pais não saem do celular, que chegam do trabalho e ficam nas redes sociais. Leila Salomão Tardivo, psicóloga infantil e professora do Departamento de Psicologia Clínica do Ipusp (Instituto de Psicologia da USP)

4. Demonstração de afeto

A demonstração de afeto na infância é fundamental para o desenvolvimento do senso de segurança e confiança da criança. Além disso, é através da afetividade que vivemos sentimentos e emoções que irão ajudar a construir a nossa identidade individual e influenciar nas relações com as outras pessoas. Ao experimentar afetos positivos na infância, a criança irá desenvolver um relacionamento saudável consigo mesma e com o mundo a sua volta.

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A leveza e mesmo bom humor na interação entre pais e filhos é fundamental para que a criança faça o registro de que, mesmo contrariada, é amada. Então, parece-me que a melhor forma de lidar com os conflitos inevitáveis na educação é trazer suavidade aos enfrentamentos no dia a dia e, por conseguinte, um clima familiar mais harmônico, mesmo diante dos conflitos. Fatima Cruz, psicóloga e professora no departamento de Psicologia, Inclusão e Educação da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)

Ao realizar atividades de lazer fora de casa com os filhos, os pais proporcionam uma experiência afetiva
Ao realizar atividades de lazer fora de casa com os filhos, os pais proporcionam uma experiência afetiva Imagem: Getty Images

5. Relevância dos presentes

Dar presentes é algo socialmente e culturalmente valorizado, sendo importante para o fortalecimento das relações afetivas. Mas é preciso sensatez.

Pequenos presentes entregues sem datas especiais, de forma espontânea e esporadicamente podem ser uma forma de expressar amor e cuidado. Pode ser desde presentes físicos a assistir ao filme desejado, ou ainda um "mimo" qualquer trazido da rua, porque se lembrou que o filho ou filha gosta; ou mesmo fazer a comida favorita no meio da semana, o que se torna uma agradável surpresa.

Porém, quando uma criança é muito presenteada, ela pode apresentar comportamentos de desvalorização de seu próprio esforço, já que recebe presentes sem nada em troca. Pode também desvalorizar as coisas, desejar consumir cada vez mais, sem limites, além de demonstrar baixa tolerância à frustração, por ter os seus desejos prontamente atendidos.

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Presentes são bem-vindos e importantes, mas é necessário refletir sobre o que o comportamento de dar presentes representa (por exemplo, compensar uma ausência dos pais). Ao invés de trocas materiais, é fundamental passar tempo de qualidade com a criança e demonstrar afeto. Esses são os melhores presentes para ela. Mariana Bonsaver, psicóloga infantil

6. Seja um exemplo para seu filho

A criança se espelha muito no adulto e o tem como modelo para o seu comportamento e para a forma de lidar com a vida. Assim, é necessário que os pais reflitam sobre o seu próprio bem-estar e como isso influência a vida de seu filho.

Algumas atitudes parentais, como demonstrar segurança, afeto, empatia, ser justo, saber lidar com as emoções e ser honesto, podem contribuir para o desenvolvimento emocional saudável e o bem-estar da criança.

Se a construção da identidade é iniciada a partir do outro, os pais, como a primeira fonte de interação humana, são de extrema relevância para equilíbrio e saúde mental da criança. Pais com estabilidade e controle emocional, valores pertinentes à moral, à ética e à cidadania são exemplos em suas atitudes, que trazem segurança, sobretudo as que se voltam ao cumprimento de normas com vistas ao bem coletivo. Fatima Cruz, psicóloga e professora

7. Gratidão pode tornar a criança mais feliz

Auxiliar a criança a desenvolver o hábito da gratidão traz impactos positivos, já que a ensina a lidar com sentimentos negativos, a olhar para coisas simples e prazerosas da vida. Além disso, aumenta a empatia e a resiliência emocional, assim como ensina a criança a valorizar as suas conquistas e a reconhecer o que se tem.

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A gratidão também estimula a liberação do hormônio chamado ocitocina, que estimula o afeto, gera tranquilidade e diminui o estresse, a fobia e o medo.

Esse ensinamento precisa vir dos pais, a partir de uma atitude grata que eles também tenham e coloquem em prática no seu dia a dia. Apenas resmungar, reclamar da vida, olhar somente para os problemas não permite enxergar as próprias conquistas.

Os pais podem exercitar essa atitude pedindo que seus filhos digam antes ou durante as refeições algo pelo qual estão gratos. Isso ajudará na busca constante por um olhar positivo da vida.

8. Jantar juntos

Comer em família pode ser um dos melhores hábitos se você quer criar filhos felizes. Uma maior frequência de refeições feitas em conjunto aumenta a sensação de pertencimento e melhora o humor de crianças e adolescentes. Não só isso, faz com que se sintam mais seguros e protegidos. E não precisa ser todos os dias da semana, três a cinco vezes já traz grandes benefícios.

Um estudo descobriu que os adolescentes que fazem refeições com as suas famílias têm visões mais positivas do futuro. Além disso, momentos como esses podem promover uma boa saúde.

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Crianças que comem com os pais têm menos probabilidade de terem excesso de peso ou distúrbios alimentares. No caso dos adolescentes, o hábito diminui a probabilidade de problemas com abuso de drogas ou comportamentos agressivos.

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