Mariana Ferrão: Como diminuir impactos psicológicos na população do RS
Eventos graves como os temporais no Rio Grande do Sul, que já causaram a morte de mais de cem pessoas, centenas de desaparecidos e milhares de desabrigados, são considerados potencialmente traumáticos. Algumas medidas, no entanto, podem ajudar a diminuir o risco de impactos psicológicos na população.
De acordo com quatro psicólogos ouvidos pela jornalista Mariana Ferrão no episódio desta sexta-feira (10/5) do quadro 'Mari vs Mari', o suporte social é fundamental para proteger a saúde mental de quem está enfrentando a tragédia. Pessoas que se sentem amparadas em situações trágicas têm menos chances de desenvolverem o chamado TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), além de outros problemas, como depressão e ansiedade.
Nas primeiras horas do desastre, o foco são os chamados "primeiros socorros psicológicos". "É basicamente dar conta das necessidades primárias da população, como água, alimentação, abrigo, segurança e acesso à informação", resume a jornalista.
Ferrão conversou com o psicólogo Diego Gonçalo, coordenador do grupo de trabalho em psicologia em emergência e desastres do CRP-RS; Ediane Ribeiro, psicóloga especializada em traumas; André Ferraz, psicólogo especializado em medicina comportamental; e Mariana Clark, psicóloga especializada em luto.
Veja abaixo quatro recomendações que os especialistas deram para ajudar a apoiar a população:
Colaborar com o acesso à informação. Divulgar informações confiáveis sobre onde a população pode encontrar ajuda, como as cozinhas solidárias e os locais oficias de abrigo.
Nós, como sociedade, podemos divulgar essas listas. Mas é claro que o governo também tem o papel fundamental de organizar, de coordenar e de difundir tudo isso. Mariana Ferrão
Por outro lado, é recomendável ter cautela ao compartilhar nas redes sociais vídeos com cenas da tragédia. Segundo os especialistas, o acesso ilimitado a essas imagens pode não só piorar a situação de quem está vivendo o desastre na pele, como também das pessoas que acompanham à distância.
Fazer doações para canais confiáveis. Não é recomendável divulgar a conta bancária pessoal para arrecadar doações ou mesmo transferir dinheiro para contas de pessoas físicas. O ideal é colaborar com o canal oficial de doações do governo ou de órgãos como a FAB (Força Aérea Brasileira), além de iniciativas como a CUFA (Central Única das Favelas) e de ONGs que estão na linha de frente. Também é possível realizar contribuições via Correios
É importante ficar atento para os canais oficiais e legítimos de doação para evitar cair em golpes e perder dinheiro ao tentar ajudar. "A gente sabe que, infelizmente, tem pessoas que usam a tragédia para benefício próprio ou para se auto promover", diz a jornalista.
Acolher com respeito. "Qualquer atitude invasiva deve ser completamente evitada, ou seja, escutar as pessoas é fundamental, mas não force elas a falarem. E isso vale, inclusive, para os jornalistas, pra mídia", afirma Ferrão.
Os especialistas ouvidos para o episódio também reforçaram que é importante evitar contestações como "ah, mas por que você não fez isso?" ou "por que você não fugiu por ali?". Isso pode aumentar o sofrimento de quem está vivendo a tragédia.
"Às vezes, acontece da parte até dos próprios voluntários que, ao tirar uma selfie ou postar um vídeo, acabam desrespeitando essa comunidade que já está em sofrimento".
Ser voluntário. Se você é psicólogo, é possível se voluntariar para atender as vítimas das enchentes, mas é fundamental que o profissional esteja preparado do ponto de vista técnico, teórico e emocional para lidar com esse tipo de atendimento.
Os especialistas consultados também disseram que é importante respeitar cada paciente, evitando interpretações culturais, religiosos ou vieses políticos nos atendimentos, pois isso pode aumentar ainda mais o sofrimento.
"Desconfie daqueles profissionais que estão no local entregando cartões, tentando preencher a própria agenda com atendimentos pro futuro", acrescenta Ferrão. "Isso é gravíssimo."
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.