Por que alguns humanos podem ser muito mais velozes do que outros?
Desde 2009, o corredor jamaicano Usain Bolt é a pessoa pessoa mais rápida do mundo. Ele correu 100 metros em 9 segundos e 58 centésimos, a uma velocidade de 37,57 quilômetros por hora.
Em toda a história, apenas 125 pessoas conseguiram correr a distância em menos de 10 segundos. E só dois brasileiros: os atletas Felipe Bardi, atual recordista brasileiro com o tempo de 9 segundos e 96 centésimos, conseguido em setembro de 2023 no Troféu Bandeirantes em São Bernardo do Campo; e Erik Cardoso, que cumpriu a distância em 9 segundos e 97 centésimos no Sul-Americano de Atletismo, no mesmo ano.
Mas por que tão poucos, se o atletismo é um esporte tão disseminado no mundo?
Há vários motivos pelos quais algumas pessoas conseguem correr muito rápido, enquanto outras tendem a correr mais devagar. A genética —as características herdadas de seus pais— desempenha um papel importante (dos 125 aí acima, apenas três não são negros), mas também as escolhas pessoais e experiências de vida dos atletas.
Como cientistas de exercícios pediátricos, criamos e avaliamos programas que ajudam as crianças a se manterem saudáveis.
A boa notícia é que, embora você não tenha controle sobre sua genética, pode treinar para melhorar sua velocidade.
Contração rápida, contração lenta
Um fator importante que influencia sua capacidade de correr rápido é a estrutura do seu corpo, inclusive a forma como os músculos funcionam.
O corpo humano tem mais de 600 músculos que trabalham juntos, permitindo que você se mova em diferentes direções e em várias velocidades. Esses músculos são formados por grupos de fibras. Existem dois tipos principais: de contração rápida e de contração lenta.
Os músculos têm diferentes misturas desses tipos de fibras. Por exemplo, dois músculos compõem a panturrilha: Um deles é predominantemente de contração rápida —é o gastrocnêmio, usado para correr e saltar. O outro é predominantemente de contração lenta —é o sóleo, usado para caminhar e correr.
As fibras musculares de contração rápida são maiores e ajudam seu corpo a se movimentar rapidamente e gerar força significativa. Os velocistas tendem a ter uma abundância de fibras musculares de contração rápida. Entretanto, esse tipo de fibra muscular também se cansa rapidamente, o que limita o tempo de corrida em velocidade máxima a distâncias relativamente curtas.
As fibras musculares de contração lenta são menores e ajudam você a correr em velocidades mais lentas, mas com maior resistência. Corredores de longa distância e ciclistas de competição tendem a ter muitos desses músculos.
A quantidade de cada tipo de fibra muscular —de contração rápida e de contração lenta— é determinada principalmente pelos seus genes. Portanto, você terá de trabalhar com o que nasceu quando se trata de tipos de músculos. Mas, é claro, os exercícios podem ajudar a treinar esses músculos.
Seu cérebro desempenha um papel importante
A capacidade física não se resume apenas aos músculos. Seu cérebro também desempenha um papel importante.
Seus músculos esqueléticos são controlados pelo cérebro —você pensa em suas ações e depois executa os movimentos.
Por exemplo, você pode controlar o comprimento de sua passada, como seus braços se movem, como seus pés atingem o chão e até mesmo as técnicas que você usa para respirar.
Você pode ensinar seu corpo a usar as melhores técnicas de corrida. Isso inclui postura adequada, de modo que seu corpo fique ereto, e uma passada econômica, de modo que seus pés fiquem abaixo de você em vez de muito à frente, onde podem atrasá-lo.
Você também pode melhorar sua forma de corrida usando todo o corpo, com os braços bombeando em oposição às pernas, correndo na ponta dos pés e maximizando o tempo gasto na fase de voo com os dois pés fora do chão.
O uso de técnicas de corrida adequadas ajuda os músculos a criar mais força e a trabalhar em conjunto, o que o ajuda a correr mais rápido.
Quanto mais você praticar uma atividade, melhor ficará. À medida que sua capacidade de correr rápido aumenta, desafie-se a correr ainda mais rápido.
Como correr mais rápido de acordo com a ciência: derrubando mitos!
Você pode ter ouvido de amigos, pesquisado na internet ou recebido pelas redes sociais dicas sobre como ficar mais rápido correndo. Muitos deles são falsos, por ignorância ou mesmo má-fé. É hora de acabar com alguns desses mitos:
Mito 1: Você precisa correr o mais rápido que puder para treinar para ser mais rápido. Isso é falso!
Você não precisa correr o mais rápido que puder para ficar mais rápido e, na verdade, é útil fazer pequenas pausas para se recuperar entre as atividades em que você está correndo.
Mito 2: Você precisa levantar pesos pesados para ficar mais rápido. Falso!
O treinamento de força funcional envolve a realização de exercícios que o ajudam a melhorar movimentos específicos. Eles envolvem o uso de pesos médios ou apenas a resistência de seu próprio peso corporal. Fazer pranchas, lunges, step-ups ou jump squats são ótimos exemplos. Essas atividades se concentram nos músculos que são fundamentais durante a corrida.
Mito 3: Você precisa se especializar em corrida no início da vida para se tornar um corredor rápido. Falso!
Escolher uma atividade para se concentrar no início da vida pode, na verdade, limitar sua capacidade de se tornar um corredor rápido. Praticar uma variedade de atividades físicas pode ajudá-lo a desenvolver novas habilidades que melhorem sua corrida. Por exemplo, os movimentos e a resistência usados no futebol podem se traduzir na capacidade de correr mais rápido.
Mito 4: O treinamento não é divertido. Falso!
Os programas de treinamento podem assumir muitas formas e formatos. Você pode participar de jogos de corrida com seus amigos, trabalhar a velocidade dos pés usando uma escada de agilidade ou criar pistas de obstáculos. Não há nada como um pouco de competição saudável para motivar seu treinamento.
O importante é se divertir durante o treinamento e participar de atividades que promovam a velocidade de corrida regularmente.
Portanto, quer você queira ser o próximo Usain Bolt, correr mais rápido que um colega de treino ou apenas vencer o relógio, lembre-se de que, com um pouco de sorte, genética e trabalho árduo, isso pode ser possível. Em qualquer idade.
*Dawn P. Coe, professor associado de ciência do exercício, University of Tennessee e Elizabeth (Kip) Webster, professora associada de ciência do exercício, University of Tennessee
Este artigo é republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o original.
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