Dedada mágica e anatomia do ânus: médica fala de sexualidade anal sem pudor
O ginecologista fala da sexualidade em relação à vagina. O urologista, do pênis. Por que os proctologistas também não falam sobre a sexualidade anal?
Foi a partir deste questionamento que a proctologista Clara Assaf, 32, começou a criar conteúdos engraçados e informativos sobre diversos assuntos envolvendo o ânus, uma das regiões do corpo que mais sofre devido ao tabu envolvido. A área não se limita aos estudos do ânus, mas também do intestino grosso e do reto.
Senti essa necessidade de usar uma comunicação mais leve, pois é um tema que gera muito constrangimento entre as pessoas.
A médica começou a criar conteúdos, em 2021, depois de se cansar dos vídeos muito "técnicos e sérios" em relação ao tema. No YouTube, por exemplo, ela costumava falar que a ideia era abordar a "proctologia sem vergonha".
Atualmente, mais ativa no Instagram, Clara faz vídeos que vão desde o "poder" de uma "dedada mágica" até a explicação sobre a anatomia do ânus —informação de muita relevância, principalmente para as pessoas que fazem sexo anal.
Comecei a focar na questão de sexualidade porque não existe nenhuma especialização dentro da área de proctologia, pois não se fala nisso.
A ideia da anatomia do ânus, por exemplo, surgiu após uma pergunta enviada a ela. A pessoa queria saber se a região "dá conta" se o pênis for muito grande. "Hoje em vim literalmente pra dentro do c* para te explicar anatomia e esclarecer de uma vez por todas que não é porque Deus fez que cabe", escreveu a médica.
No vídeo, a proctologista explica qual a média do tamanho da região e os riscos de "forçar" demais e causar lesão com uma "bagagem extra".
'Dedada com poder'
Já a tal "dedada mágica" partiu de um estudo que a médica viu nas redes sociais e que era mais voltado à especialidade de cardiologia.
O artigo, publicado na revista Clinical Medicine Insights: Case Reports, mostrou o caso de um paciente que teve melhoras na arritmia cardíaca com ajuda de um toque retal.
A médica, então, utilizou o estudo para quebrar um pouco o medo do exame de toque, fundamental para prevenir o câncer de próstata.
Abrindo a mente de outros médicos
Dentro da proctologia, Clara lembra que apenas uma área se aproxima mais da sexualidade e, por isso, é mais abordada entre os médicos: as IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis).
O assunto é tema de congresso, o que me leva a um incômodo: e o restante? As pessoas podem sentir dor durante o sexo anal, as pessoas fazem 'chuca', as pessoas têm curiosidade com a anatomia.
Segundo ela, com os vídeos, surgiram vários temas não contemplados e as reações, incluindo a dos colegas de profissão, são positivas. "É também uma forma de dialogar com outros proctologistas e abrir a mente de todo mundo."
Aliás, em conversa com outros médicos, a especialista explica que os próprios colegas percebem que essa área dentro da proctologia é falha.
Muitas pessoas que me seguem vibram por alguém estar quebrando essa barreira para falar do assunto, que é difícil mesmo. No geral, os seguidores acham legal e dizem que aprendem muito comigo.
A médica recebe diversas dúvidas diariamente nas redes sociais. Quando abre a caixinha de perguntas no Instagram, ela aproveita para responder várias e, quem sabe, fazer um vídeo depois.
Entre as mensagens e os comentários que chegam, Clara destaca uma que mostra que "sua missão está cumprida".
Uma vez, um seguidor comentou que o fato de ele ir ali em um post, com o nome dele, comentar sobre tal assunto mostrou como se sentia mais empoderado sobre o tema. Achei muito legal!
'A proctologia me escolheu'
Foi na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), durante a residência em cirurgia geral, que Clara conheceu a proctologia: "Parece que caiu no meu colo. Mas, para não me 'atropelar', fui indo aos poucos para saber se era aquilo mesmo. Fui ficando cada vez mais apaixonada", lembra.
E quando eu descobri essa área de sexualidade e exames preventivos, o 'clique' veio com muita força. A área que me escolheu.
Um dos motivos também foi a influência e admiração dos chefes "favoritos" no hospital, que atuavam como proctologistas.
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