Gordura no fígado é silenciosa, detectada sem querer ou em fase avançada
Colaboração para VivaBem
23/05/2024 18h00
Esteatose hepática, popularmente conhecida como fígado gorduroso ou gordura no fígado, é considerada a doença mais comum nesse órgão nos países industrializados ocidentais. Cerca de 70% dos casos referem-se à doença hepática gordurosa não alcoólica e o restante é consequência do abuso de álcool.
Estima-se que 20% a 40% da população sofra com o problema, sendo que o percentual é mais alto se considerarmos populações específicas, como a de obesos, diabéticos ou indivíduos com síndrome metabólica (quadro que envolve dislipidemia, resistência à insulina e obesidade abdominal).
Causas e tipos
Alcoólica: provocada pelo consumo excessivo de álcool. O fígado tem a capacidade de metabolizar as moléculas de etanol para eliminar a substância do nosso organismo. Mas quando a dose é alta ou ingerida em pouco tempo, os subprodutos desse processo ficam concentrados, e eles são tóxicos para as células hepáticas. Com o passar do tempo, o dano passa a interferir nas funções do órgão.
Não alcoólica: provocada prioritariamente por má alimentação, sedentarismo, sobrepeso, obesidade, diabetes, colesterol e triglicérides alto, e perda ou ganho muito rápido de peso. Porém, também pode ser causada pelo uso de certos medicamentos (hormônios e corticoides, entre outros), ou por inflamações crônicas associadas, por exemplo hepatite C ou outras doenças hepáticas.
Sintomas
Praticamente todos os pacientes com esteatose hepática não apresentam sinais ou sintomas, ou seja, a condição é silenciosa, e só é identificada em exames de rotina ou em fase avançada. Quando surgem, os sintomas mais comuns são:
- Fadiga;
- Desconforto do lado direito superior do abdome;
- Aumento do fígado;
Já quando existe um grau elevado de inflamação (esteatoepatite), ou fibrose e cirrose, as manifestações podem incluir:
- Fadiga;
- Falta de apetite;
- Coceira;
- Aranhas vasculares (varizes finas em formato de teia de aranha);
- Icterícia (pele e olhos amarelados);
- Fezes esbranquiçadas;
- Alterações do sono.
Complicações
Esteatoepatite: se não tratada ou controlada, a esteatose hepática pode gerar essa inflamação, que leva à morte celular e um processo de fibrose (cicatrização). Com o passar dos anos, a condição pode progredir para cirrose hepática e resultar em câncer de fígado. Em situações mais graves, o transplante é necessário.
Cardiovasculares: constitui um fator de risco para infartos e derrames (AVC).
Cirrose: alteração da arquitetura normal do órgão pela presença de cicatrizes e nódulos que envolvem as células hepáticas remanescentes.
Câncer de fígado: a cirrose e a própria esteatose são fatores de risco para o hepatocarcinoma, um tipo agressivo de câncer das células hepáticas que causa mais de 9.700 mortes ao ano, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Diagnóstico e tratamento
Na maioria das vezes, a esteatose é identificada de forma acidental, em uma ultrassonografia de abdome solicitada pelo médico num exame de rotina.
Além disso, devem ser pedidos exames laboratoriais para avaliar os níveis de colesterol, triglicérides, glicose, insulina; teste homa (que determina o grau de resistência à insulina); e enzimas hepáticas. Outros exames de imagem, como tomografia, ressonância magnética e elastografia hepática (procedimento parecido com a ultrassonografia) podem ajudar a confirmar o diagnóstico.
Já o combate ao problema envolve prioritariamente mudanças no estilo de vida, com dieta saudável e prática de atividade física, a fim de se controlar o excesso de peso, a resistência à insulina, os níveis de colesterol e triglicérides e a pressão arterial.
O consumo de álcool deve ser evitado mesmo para quem essa não é a principal causa do problema, já que a bebida sobrecarrega o fígado e contribui para a obesidade.
Fontes: Edvânia Soares, nutricionista clínica da Estima Nutrição; Isaac Altikes, gastroenterologista da Federação Brasileira de Gastroenterologia; Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês; American Liver Foundation; Inca (Instituto Nacional de Câncer); Ministério da Saúde; Sociedade Brasileira de Hepatologia.
*Com informações de reportagem publicada em 01/11/2022