Gordura no fígado é silenciosa, detectada sem querer ou em fase avançada

Esteatose hepática, popularmente conhecida como fígado gorduroso ou gordura no fígado, é considerada a doença mais comum nesse órgão nos países industrializados ocidentais. Cerca de 70% dos casos referem-se à doença hepática gordurosa não alcoólica e o restante é consequência do abuso de álcool.

Estima-se que 20% a 40% da população sofra com o problema, sendo que o percentual é mais alto se considerarmos populações específicas, como a de obesos, diabéticos ou indivíduos com síndrome metabólica (quadro que envolve dislipidemia, resistência à insulina e obesidade abdominal).

Causas e tipos

Alcoólica: provocada pelo consumo excessivo de álcool. O fígado tem a capacidade de metabolizar as moléculas de etanol para eliminar a substância do nosso organismo. Mas quando a dose é alta ou ingerida em pouco tempo, os subprodutos desse processo ficam concentrados, e eles são tóxicos para as células hepáticas. Com o passar do tempo, o dano passa a interferir nas funções do órgão.

Não alcoólica: provocada prioritariamente por má alimentação, sedentarismo, sobrepeso, obesidade, diabetes, colesterol e triglicérides alto, e perda ou ganho muito rápido de peso. Porém, também pode ser causada pelo uso de certos medicamentos (hormônios e corticoides, entre outros), ou por inflamações crônicas associadas, por exemplo hepatite C ou outras doenças hepáticas.

Sintomas

Praticamente todos os pacientes com esteatose hepática não apresentam sinais ou sintomas, ou seja, a condição é silenciosa, e só é identificada em exames de rotina ou em fase avançada. Quando surgem, os sintomas mais comuns são:

  • Fadiga;
  • Desconforto do lado direito superior do abdome;
  • Aumento do fígado;

Já quando existe um grau elevado de inflamação (esteatoepatite), ou fibrose e cirrose, as manifestações podem incluir:

  • Fadiga;
  • Falta de apetite;
  • Coceira;
  • Aranhas vasculares (varizes finas em formato de teia de aranha);
  • Icterícia (pele e olhos amarelados);
  • Fezes esbranquiçadas;
  • Alterações do sono.
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Complicações

Esteatoepatite: se não tratada ou controlada, a esteatose hepática pode gerar essa inflamação, que leva à morte celular e um processo de fibrose (cicatrização). Com o passar dos anos, a condição pode progredir para cirrose hepática e resultar em câncer de fígado. Em situações mais graves, o transplante é necessário.

Cardiovasculares: constitui um fator de risco para infartos e derrames (AVC).

Cirrose: alteração da arquitetura normal do órgão pela presença de cicatrizes e nódulos que envolvem as células hepáticas remanescentes.

Câncer de fígado: a cirrose e a própria esteatose são fatores de risco para o hepatocarcinoma, um tipo agressivo de câncer das células hepáticas que causa mais de 9.700 mortes ao ano, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer).

Diagnóstico e tratamento

Na maioria das vezes, a esteatose é identificada de forma acidental, em uma ultrassonografia de abdome solicitada pelo médico num exame de rotina.

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Além disso, devem ser pedidos exames laboratoriais para avaliar os níveis de colesterol, triglicérides, glicose, insulina; teste homa (que determina o grau de resistência à insulina); e enzimas hepáticas. Outros exames de imagem, como tomografia, ressonância magnética e elastografia hepática (procedimento parecido com a ultrassonografia) podem ajudar a confirmar o diagnóstico.

Já o combate ao problema envolve prioritariamente mudanças no estilo de vida, com dieta saudável e prática de atividade física, a fim de se controlar o excesso de peso, a resistência à insulina, os níveis de colesterol e triglicérides e a pressão arterial.

O consumo de álcool deve ser evitado mesmo para quem essa não é a principal causa do problema, já que a bebida sobrecarrega o fígado e contribui para a obesidade.

Fontes: Edvânia Soares, nutricionista clínica da Estima Nutrição; Isaac Altikes, gastroenterologista da Federação Brasileira de Gastroenterologia; Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês; American Liver Foundation; Inca (Instituto Nacional de Câncer); Ministério da Saúde; Sociedade Brasileira de Hepatologia.

*Com informações de reportagem publicada em 01/11/2022

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