Nestlé lança refeições para usuários de Ozempic; especialistas criticam

A Nestlé lançou nesta semana uma nova linha de alimentos ricos em fibras e proteínas, pensados, segundo a marca, especialmente para quem usa remédios chamados de canetas emagrecedoras, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro —os dois últimos ainda não estão à venda no Brasil.

Com 12 opções de refeições, incluindo pizzas e sanduíches, a linha será distribuída apenas em "lojas selecionadas" dos EUA.

Chamada de "Vital Pursuit" —ou "Busca Vital", em português—, a linha foi desenvolvida para "auxiliar uma dieta balanceada para qualquer pessoa que esteja em uma jornada de administração de peso". As porções em cada pacote também são pensadas para quem usa os medicamentos.

"Com mais consumidores procurando por opções de pratos compatíveis com seus hábitos alimentares únicos, a Vital Pursuit oferece comida nutritiva e saborosa que vem em várias opções congeladas, em porções pensadas para apetites reduzidos", detalhou a empresa no Instagram, em post feito logo após o anúncio, na terça-feira (21).

Mas faz sentido?

A endocrinologista Lorena Lima Amato, doutora pela USP (Universidade de São Paulo), explica que não é necessário comprar produtos específicos ao começar o tratamento.

Obviamente, não é necessária uma linha de produtos somente para quem usa remédios para emagrecer. Lorena Lima Amato, endocrinologista

"Uma linha de produtos para esses pacientes tem a ideia de facilitar a vida de quem eventualmente tenha dificuldade de fazer as melhores escolhas alimentares. Mas se a pessoa faz uma dieta equilibrada, é suficiente", completa Amato.

Sem falar que são produtos industrializados, que não são recomendados para quem segue o tratamento. "A alimentação deve ser equilibrada, baixa em calorias, gorduras, com o mínimo de industrializados possível", diz a médica.

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Médicos chegaram a criticar a linha e apontar que ela seria uma estratégia de marketing, porque o consumo de alguns alimentos caiu com o aumento do uso dos remédios que reduzem o apetite.

Mark Schneider, diretor-executivo da Nestlé, afirmou em comunicados no ano passado que a empresa desenvolvia suplementos para aqueles que tomam medicamentos da classe GLP-1 (hormônio responsável por regular a produção de insulina, os níveis de glicose no sangue e a sensação de saciedade, e que é simulado em remédios como Ozempic), para que eles conseguissem vitaminas por outro meio, mesmo consumindo menos comida.

Como deve ser a alimentação no tratamento?

As bulas das canetas emagrecedoras recomendam que o tratamento envolve alimentação equilibrada e a prática de exercício
As bulas das canetas emagrecedoras recomendam que o tratamento envolve alimentação equilibrada e a prática de exercício Imagem: iStock

Cuidados com a alimentação e mudanças de hábitos (se necessárias), como a prática de exercício, são essenciais no emagrecimento. "Não faz o menor sentido continuar consumindo os alimentos que levaram essa pessoa a ter excesso de peso", lembra Amato.

Segundo ela, inclusive, os efeitos colaterais de alguns grupos de alimentos são mais fortes sob o efeito das canetas emagrecedoras. O excesso de alimentos gordurosos, por exemplo, pode causar mais diarreia, náuseas e mal-estar do que o normal.

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O tratamento medicamentoso é essencial, mas a base é estilo de vida: dieta e exercício físico. Se você não consegue colocar isso em prática, não faz sentido. Lorena Lima Amato

Também é importante ter acompanhamento nutricional, porque a dieta é personalizada segundo o perfil do paciente e os seus objetivos de emagrecimento.

Por que os remédios fazem emagrecer?

A novidade chega aos mercados em meio a uma onda de uso do Ozempic e similares para perda de peso.

Ozempic, Wegovy e Mounjaro são considerados inovadores no tratamento do diabetes tipo 2, da obesidade e do sobrepeso com comorbidade.

A semaglutida, substância do Ozempic e Wegovy, simula a ação do GLP-1, hormônio que regula o nível de açúcar no sangue (a glicemia).

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Emagrecer é um efeito natural, porque o remédio age em receptores do sistema nervoso central para controlar o apetite e retarda o esvaziamento gástrico (como se a pessoa ficasse mais tempo com a comida no estômago). Basicamente, quem toma não sente muita fome ao longo do dia e come menos do que o habitual.

Já o Mounjaro é um remédio à base de tirzepatida, que age nos receptores do GLP-1 e em mais um hormônio, o GIP. Pacientes que utilizaram Mounjaro 15 mg perderam 26,6% do peso total, quase o dobro do índice apresentado pela semaglutida.

Pesquisadores acreditam que a razão de a tirzepatida ser tão eficaz em reduzir os níveis de glicose no sangue e induzir a perda de peso é que os dois hormônios que ela imita trabalham de modo sinérgico.

*Com informações de reportagem publicada em 23/12/23.

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