'Sensação de bomba-relógio': família em Alagoas tem 8 casos de câncer

Com 8 casos de câncer, sendo 5 colorretais, uma família de Alagoas tenta descobrir a causa da doença. A principal hipótese seria uma síndrome genética que aumenta o risco de desenvolver alguns tipos de tumores malignos. A seguir, Rosa Maria de Lima Silva, contadora e educadora, 62, compartilha a história da família:

"O primeiro caso de câncer foi do meu irmão Mário, diagnosticado com um tumor no cólon do lado direito em 2004. Cinco anos depois foi a minha vez. Estava no auge da minha vida pessoal e profissional quando descobri um tumor no útero após retirar o órgão por recomendação médica, aos 47 anos.

Meu mundo caiu e encarei o diagnóstico como uma sentença de morte. Na segunda etapa do tratamento, retirei os ovários, as trompas e fiz algumas sessões de radioterapia e braquiterapia.

Um tempo depois passei a ter alguns problemas no intestino, tinha diarreia e fortes dores abdominais. O gastroenterologista explicou que eu tinha aderências que interrompiam o trânsito intestinal e que a causa seriam os efeitos colaterais da radioterapia e da braquiterapia. A partir daí comecei a fazer um acompanhamento e realizei duas cirurgias no intestino grosso.

Segundo o médico, a recomendação era para eu fazer a colonoscopia a cada cinco anos, mas fiquei tão assustada com a quantidade de casos que explodiu na família que pedi para antecipar a realização do exame.

'Tenho a sensação de ter uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento'

Somos em 11 irmãos, 6 tiveram algum tipo de câncer e 5 não tiveram. Dos 11, 2 faleceram por outros motivos e 3 por conta da doença.

Minha irmã Gileuza teve câncer de ovário e faleceu aos 50 anos, em 2017.

Meu irmão Mário se curou do câncer colorretal, mas morreu em decorrência de um câncer de próstata aos 63 anos, em 2019.

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Minha irmã Vanuza faleceu aos 55 anos com câncer de útero, em 2023.

Entre os familiares vivos, meu irmão José teve câncer de próstata, eu tive câncer de útero e colorretal.

Minha irmã Maria e meus sobrinhos Talmy e Hugo também foram diagnosticados com câncer colorretal.

No caso dos meus sobrinhos, chamou a atenção o fato de eles terem tido a doença tão jovens, com 29 e 35 anos. Segundo a literatura médica, o câncer colorretal é comum em pessoas a partir de 45 anos.

Fomos aconselhados a fazer um mapeamento genético para descobrir se existe alguma síndrome hereditária associada. Até o momento, só o Talmy fez e foi diagnosticado com síndrome de Lynch, uma condição genética que predispõe ao surgimento de alguns tipos de câncer.

O teste positivo do meu sobrinho sugere que a síndrome pode ser a causadora dos casos de câncer na família, mas o ideal é que todos façamos para confirmar a hipótese e nos prevenirmos.

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Eu e alguns familiares estamos nos organizando para fazer, já outros estão com medo, resistência e preferem não fazer para não saber. A situação é delicada e procuramos nos apoiar quando alguém está mais triste ou debilitado.

No início deste ano fiz mais uma cirurgia no intestino e estou aguardando a segunda etapa do tratamento. A possibilidade de ter a síndrome gera um pouco de ansiedade, às vezes tenho a sensação de ter uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento.

Mas de forma geral tenho lidado bem, hoje entendo que o câncer não é uma sentença de morte, é apenas mais uma doença entre tantas outras que existem."

O que pode explicar o caso da família?

Herbeth Toledo, gastroenterologista e endoscopista, médico responsável por atender a família de Rosa, afirma que todos os irmãos e sobrinhos que tiveram câncer colorretal já chegaram até ele em estágio avançado, impossibilitando o tratamento endoscópico.

"Como a doença já estava avançada, tive que fazer a cirurgia de ressecção do intestino em todos. O procedimento consiste em ressecar uma parte ampliada do intestino com a rede de drenagem linfática correspondente, visando não haver metástases linfonodais ou a distância, e reconstruir o trânsito intestinal com os segmentos que ficaram", explica.

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Os principais sinais e sintomas do câncer colorretal incluem dor abdominal, perda de sangue nas fezes, perda de peso, anemia, alteração do hábito intestinal, como diarreia ou prisão de ventre.

Toledo conta que quando atendeu Mário em 2004 com câncer de cólon parecia uma situação pontual, mas posteriormente o diagnóstico de Rosa e dos outros irmãos despertou sua atenção.

"Sempre que observamos mais de dois casos de câncer na família, aconselhamos a fazer o estudo genético para caracterizar a possibilidade de uma doença hereditária transmissível por defeito de DNA", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva.

Saiba mais sobre a síndrome de Lynch

A síndrome de Lynch é uma síndrome de predisposição genética ao desenvolvimento de câncer colorretal (intestino grosso/cólon e reto), câncer de endométrio (útero), das vias urinárias e do intestino delgado (intestino fino).

Há também risco aumentado para câncer de estômago, ovário, pâncreas, vias biliares e um tumor do sistema nervoso central chamado glioblastoma.

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O mecanismo envolve um defeito enzimático (de uma proteína) com função para o reparo do DNA, nos órgãos citados acima, que não funciona adequadamente. Por esse motivo, a pessoa apresenta mutações que predispõem a um risco aumentado para o desenvolvimento de câncer.

Geralmente o indivíduo já nasce com a alteração no DNA, mas na maioria das vezes ela é herdada do pai ou da mãe.

É importante ressaltar que a síndrome acarreta um maior risco de desenvolver câncer quando comparado a pessoas de risco habitual, mas isso não significa que todos com a síndrome terão a doença.

A síndrome de Lynch não tem sintomas, o diagnóstico é feito através de teste genético. Atualmente, a indicação é que seja feita uma pesquisa no tumor (através de um exame) em todos os pacientes diagnosticados com câncer colorretal e do endométrio ou com histórico familiar. Se o teste no tumor sugerir a síndrome é recomendado realizar o teste genético, com coleta de amostra de sangue ou saliva, para confirmar a suspeita.

Uma vez identificada a síndrome, ela não tem cura, mas é possível realizar exames preventivos, como fazer a colonoscopia com maior frequência. Em algumas situações, pode-se indicar a cirurgia redutora de risco, com a retirada do útero e ovários, por exemplo, capazes de evitar o câncer, ou diagnosticá-lo numa fase inicial com uma chance maior de cura.

No caso de pessoas com síndrome de Lynch que desejam ter filhos é possível fazer a FIV (fertilização in vitro), identificar os embriões com a síndrome e selecionar os que não têm o gene alterado para serem transferidos para o útero apenas os embriões saudáveis. Esse processo é chamado de diagnóstico pré-implantacional e faz parte do aconselhamento reprodutivo que esses pacientes recebem.

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Fonte: Vandré Cabral Gomes Carneiro, cirurgião oncológico da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica) e diretor do programa de Câncer Hereditário do Hospital Barão de Lucena, em Pernambuco.

2 comentários

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Vivendi

Deus está na frente, Rosa. Paz e bem para você e sua família.

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Miguel Ermetio Dias Junior

Deus permite a ciência, a medicina, mapeamento genético, já.

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