Já está no Brasil: o que é e quais os sintomas do vírus mayaro?

Você já ouviu falar no vírus mayaro? Ele pode ser transmitido para humanos por meio de mosquitos, foi inicialmente identificado em Trinidad e Tobago na década de 1950 e se espalhou pelas Américas.

Atualmente, a febre do mayaro é uma das doenças endêmicas negligenciadas no Brasil e, como os sintomas são muito parecidos com os da chikungunya e da dengue, há dificuldades de diagnóstico que prejudicam muito o planejamento de estratégias de controle.

Dados epidemiológicos mostram que o vírus vinha circulando há décadas pelas regiões Norte e Nordeste e que o número de pacientes infectados tem aumentado no Centro-Oeste e Sudeste nos últimos anos. Entretanto, acredita-se que o número de casos ainda seja subnotificado.

Para o imunologista Gustavo Cabral, a próxima epidemia no Brasil pode ser do vírus mayaro. Em 2023, o médico conversou com Carla Claser, que é imunologista, parasitologista e líder de pesquisa no Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo), para esclarecer dúvidas sobre o vírus, que já circula em regiões urbanas.

É importante entender que, embora o vírus mayaro seja epidêmico e emergente na região da 'Amazônia Legal', trata-se de uma doença negligenciada, ou seja, que não é muito conhecida pela população brasileira. Carla Claser, imunologista

Segundo a pesquisadora, mayaro e chikungunya possuem o mesmo ancestral e todos os vírus pertencentes a esse sorogrupo compartilham os mesmos sinais e sintomas após a infecção.

Os principais são:

  • Febre
  • Manchas avermelhadas
  • Dor de cabeça
  • Calafrios
  • Inchaço nos tecidos próximos a uma articulação
  • Dores musculares e nas articulações que podem perdurar por anos

Infelizmente, ainda não há nenhum tratamento terapêutico ou profilático específico aprovado para uso em humanos que seja capaz de combater esses vírus. Medicamentos são utilizados apenas para aliviar os sintomas.

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"O fato de esses vírus compartilharem o mesmo complexo antigênico dificulta um diagnóstico preciso e gera 'falsos-negativos' para o mayaro, principalmente nas regiões em que também circulam os vírus da chikungunya, dengue e zika", afirma Claser.

A médica acrescenta que como a febre do mayaro é, na maioria das vezes, confundida com febre da dengue ou da chikungunya e o diagnóstico laboratorial só é feito em alguns lugares, há a impressão errônea de que não há surtos de mayaro nas regiões povoadas do Brasil.

Cabral ouviu da cientista que, atualmente, o diagnóstico da doença pode ser feito através da coleta de sangue venoso para identificar o antígeno, medir a carga viral (viremia) por meio de PCR em tempo real (RT-qPCR) ou RT-PCR convencional e isolar o vírus em certos tipos de células cultivadas em laboratório.

Também é possível realizar a pesquisa de anticorpos através de ELISA ou PRNT (teste de neutralização por redução de placas), para verificar se o indivíduo está infectado ou se já possui imunidade contra o vírus. No entanto, existe a desvantagem da possibilidade de reatividade cruzada com outras viroses semelhantes.

O mayaro é mantido por meio do ciclo de transmissão silvestre, que envolve o mosquito Haemagogus e seu hospedeiro vertebrado, como pequenos mamíferos, pássaros e macacos.

No entanto, observou-se que também pode ocorrer o ciclo intermediário, que é caracterizado pela transmissão do vírus por pessoas que visitam áreas endêmicas e podem levar o vírus para outras regiões. Além disso, existe o ciclo urbano, onde o vírus pode se adaptar a um novo vetor, como o mosquito Aedes. Outros mosquitos de gêneros como Culex, Sabethes, Psorophora e Coquillettidia podem contribuir para a amplificação do mayaro em seu ambiente natural.

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Para piorar, não há vacina contra a febre mayaro. Portanto, segundo Carla Claser, o principal foco está no combate à proliferação dos mosquitos. Em áreas endêmicas, é importante o uso de repelentes e roupas compridas, para proteger as áreas mais expostas às picadas dos mosquitos (pés, tornozelos, pernas), além de eliminar locais com água parada e utilizar telas (mosquiteiros) em janelas.

*Com informações de coluna e reportagem publicados em 02/05/2023 e 26/05/2021

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