O que acontece no seu corpo quando você segura gases todo dia

Assim como a formação de gases faz parte do funcionamento normal do nosso organismo, inibir a sua liberação é considerado um comportamento bastante comum, especialmente quando eles se manifestam em situações sociais.

Presentes nas partes superior e inferior do aparelho digestivo, quando são excessivos, esses gases são expelidos por meio da boca e/ou retal (ânus). No primeiro caso, esse processo é chamado de eructação (arroto); no segundo, ele é conhecido como flatulência —o famoso pum.

Independente da via de escape, segurar os gases não é recomendado, mas dá para controlar as causas desse incômodo.

De 100 ml a 200 ml é a quantidade de gás contida no sistema digestivo todo o tempo.

Cerca de 700 ml é o volume de gases produzidos em 1 dia (pessoas saudáveis).

Distensão abdominal e estimulação do intestino após as refeições aceleram esse processo.

De 30% a 62% desses indivíduos produzem gás metano, resultado da ação da microbiota na fermentação de carboidratos.

A origem de tudo

Ter gases é uma condição benigna que se origina tanto a partir da deglutição do ar quanto pelo processo de degradação dos alimentos, que os médicos chamam de metabolismo bacteriano (produção de gases hidrogênio, metano e dióxido de carbono).

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Alguns alimentos possuem carboidratos mais difíceis de serem digeridos, como açúcares, fibras, etc. As encarregadas em "quebrá-los" são as bactérias presentes no intestino. Quanto maior for a ingestão desses itens alimentícios, maior será a produção de gases.

Os efeitos no seu corpo

Os especialistas consultados afirmam que, apesar do desconforto que causa, segurar os gases, de vez em quando não prejudica a saúde, mas pessoas mais sensíveis podem apresentar os seguintes incômodos:

  • Dor
  • Sensação de inchaço
  • Agravamento da constipação

Você não consegue ignorar o desconforto

Uma das consequências da repressão dos gases pelo reto é que, ao voltarem para o intestino, eles geram maior pressão nas paredes do órgão e isso pode provocar cólicas abdominais.

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Em quadros extremos, o mal-estar é tão intenso que levará à alteração dos batimentos cardíacos (bradicardia), o que abre espaço para a redução da pressão, tonturas e até desmaio.

O movimento dos gases também pode provocar uma dor referida: a sensação será sentida em local diferente do corpo, como por exemplo, nas costas.

Você sente que a barriga vai explodir

Quando o ar fica parado no sistema digestivo e se soma aos gases retidos, pode haver a sensação de estufamento ou endurecimento do abdome. O aumento do volume local poderá ser visivelmente observado.

Junto ao sintoma, podem estar presentes ruídos dos gases se movendo na barriga (borgorigmo).

Em determinadas situações, as mudanças no abdome são relatadas e percebidas por quem retém os gases, mas nem sempre podem ser observadas no exame médico.

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Você atrapalha (ainda mais) o trânsito intestinal

Embora ter gases não seja uma causa da constipação, o maior volume deles pode piorar esse quadro.

Bactérias produtoras de gás metano têm o potencial de desacelerar o trânsito intestinal, levando à constipação.

Em geral, pessoas com dificuldades para evacuar apresentarão maior volume de gases. Mas a repetida retenção deles pode alterar a mecânica do esfíncter anal —o músculo que mantém o ânus fechado.

Esse mecanismo sabe diferenciar quando se trata de apenas da liberação de gases ou se é hora de evacuar.

Em casos extremos, segurar um pum e esperar o melhor momento de passá-lo pode promover a falta de sincronia entre o funcionamento intestinal voluntário (evacuar) e involuntário (passagem do gás) —e isso pode se tornar crônico.

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Possíveis causas do excesso de gases

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Imagem: iStock

Para além da deglutição de ar e da ação bacteriana, outros fatores como hábitos alimentares, problemas digestivos ou psicossociais, infecções intestinais e o uso de medicamentos podem estar relacionados à maior produção de gases. Confira alguns exemplos:

  • Consumo de balas, chiclete
  • Ingestão de bebidas gaseificadas
  • Uso de medicamentos em sua forma efervescente (outro exemplo é a metformina)
  • Ansiedade
  • Próteses mal ajustadas
  • Gotejamento pós-nasal (excesso de muco local)
  • Síndrome do intestino irritável
  • Parasitoses
  • Refluxo gastroesofágico
  • Hérnia de hiato
  • Inflamações gástricas
  • Alterações anatômicas decorrentes de cirurgias que favoreçam desequilíbrio da flora intestinal (como a cirurgia bariátrica)
  • Desequilíbrio da flora intestinal
  • Doença celíaca
  • Enfraquecimento da musculatura abdominal (pós-gestação)
  • Consumo de determinados alimentos (farelo de trigo, repolho, couve-flor, brócolis, feijão)
  • Ingestão de leite e seus derivados (intolerância à lactose)
  • Diabetes

Se não saem, para onde vão?

Os especialistas afirmam que boa parte desses gases voltam para o intestino e lá se mantêm até poderem ser liberados, seja pela boca, seja pelo reto —ou são reabsorvidos pela circulação sanguínea sendo expelido pelos pulmões.

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Embora não seja possível mensurar o volume exato, parte desses gases também pode ser reabsorvida.

Como a maioria deles são são gases que fazem parte de nossa constituição (gás carbônico, hidrogênio) não haveria impacto negativo nessa reabsorção.

Dá para prevenir?

Quando o sintoma incomoda, mas não se relaciona a alguma enfermidade, é preciso estar mais atento aos alimentos e comportamentos que aumentam o desconforto. Para prevenir, coloque em prática as seguintes medidas:

Coma mais devagar para evitar a ingestão de ar em excesso.

Evite o consumo de bebidas gaseificadas.

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Prefira ingerir líquidos e comer frutas 1 hora após as refeições.

Reduza o consumo de gomas de mascar e balas duras.

Prefira usar canudos ao ingerir líquidos.

Reduza a ingestão de alimentos industrializados e in natura que contenham frutose, sacarose, sorbitol e rafinose.

Adicione gengibre, cominho, salsinha, hortelã, manjericão, endro no cardápio diário. Essas ervas aliviam o sintoma.

Se você observa que o volume dos gases tem aumentado e, por isso, a necessidade de retenção tem se dado com maior frequência e está atrapalhando o seu dia a dia, o melhor a fazer é buscar por uma avaliação médica para investigar a razão dessas mudanças.

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Fontes: Adonis Nasr, cirurgião geral e do aparelho digestivo, com especialização em cirurgia do trauma e doutorado em clínica cirúrgica pela USP (Universidade de São Paulo), professor de clínica cirúrgica da PUC-PR e da UFPR (Universidade Federal do Paraná); Juarez Roberto de Oliveira Vasconcelos, clínico geral e gastroenterologista, médico assistente dos Ambulatórios de Gastroenterologia Geral e Hepatologia do HC-FMRP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP, atua no setor de endoscopia no Hospital Estadual de Serrana (SP); e Marília Marques Pereira Lira, gastroenterologista, preceptora no HULW-UFPB (Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), e mestre em ciências da nutrição. Revisão médica: Marília Marques Pereira Lira.

Referências:

ACG (American College of Gastroenterology).

Sahakian AB, Jee SR, Pimentel M. Methane and the gastrointestinal tract. Dig Dis Sci. 2010. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19830557/

Lacy BE, Gabbard SL, Crowell MD. Pathophysiology, evaluation, and treatment of bloating: hope, hype, or hot air? Gastroenterol Hepatol (N Y). 2011. Disponível em
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3264926/

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